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Ex-ator Max Fercondini conta em livro experiências vividas durante cinco anos navegando sozinho

Max Fercondini faz pose no meio do Atlântico - Arquivo pessoal
Max Fercondini faz pose no meio do Atlântico Imagem: Arquivo pessoal

Luciana Quaresma

13/05/2023 12h37

"Mar calmo não faz bom marinheiro". Este é o título do mais recente livro do ex-ator Max Fercondini, que conta as experiências que viveu durante os cinco anos navegando sozinho pelo mar Mediterrâneo e Atlântico a bordo do seu veleiro, Eileen. Ancorado em Lisboa, o autor recebeu a RFI no barco que também é a sua casa.

Neste segundo livro, que também foi lançado em Portugal, Max compartilha os motivos que o levaram a deixar o Brasil e embarcar nesta aventura. Foram mais de 30 mil quilômetros passando por dezenas de destinos pela Europa, entre eles, França, Inglaterra, Itália e Espanha.

"Eu começo o meu livro com [a pergunta] 'vai ajudar na separação?' Essa foi a irônica mensagem que meu amigo Fábio me enviou quando soube que eu estava na Espanha justamente quando a Catalunha pedia a separação do restante do país e, na mesma época, eu já tinha me separado da minha ex-mulher. Essa frase me marcou. Eu ainda [estava] no Brasil quando decidi que queria fazer esta terceira expedição. Naquela situação de perda, que todo mundo que já passou por uma separação e sabe como é, eu queria mudar e fazer algo inusitado", explica Fercondini.

Eileen: amor à primeira vista

Depois da separação com a atriz Amanda Ritcher e longe das novelas, Max decidiu mudar de vida e de país. Segundo ele, a necessidade de se reencontrar e parar para reflexão o motivou bastante.

"Eu tinha os meus projetos, meus planos e decidi que não ia deixar de fazer as minhas expedições porque já não tinha mais a minha companheira das aventuras". A ex-mulher tinha o acompanhado nas duas primeiras viagens, mas Max não deixou que isso o impedisse de ir atrás dos seus sonhos. "Acordei de manhã um dia, ainda no Brasil, com aquela sensação de falta de alguma coisa e decidi que ia para Barcelona comprar um barco. Eu nunca tinha ido a Espanha, não conhecia nada, mas decidi que era isso que queria fazer", recorda o ex-ator.

Foi na Espanha que Fercondini encontrou o veleiro certo para a nova expedição. "A Eileen é o meu barco e foi amor à primeira vista. Eu acredito que muitas coisas que são duradouras e são positivas para a gente são amor à primeira vista. Costumo dizer que devemos seguir muito a nossa intuição. A intuição que eu tinha com este barco e a intuição de seguir meus projetos pessoais à frente dos profissionais falou muito forte eu senti que precisava escutar", resume.

Max Fercondini  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Max Fercondini
Imagem: Arquivo pessoal

O diário de bordo foi essencialmente escrito durante as travessias em alto-mar. Mas o livro vai muito além dos detalhes da navegação. Autobiográfica, a publicação é um convite a embarcar nesta aventura que, segundo o autor, "foi transformadora".

Fercondini compartilha as dificuldades, fala da solidão, da busca pelo autoconhecimento e dos momentos inesquecíveis em alto-mar. "Eu estava dentro do barco descansando e o veleiro no piloto automático e escutei o cabo no mastro fazendo um barulho. Fui lá fora para arrumar e me deparei com uns golfinhos se aproximando do barco para nadar junto do veleiro. Foi o momento certo e cinematográfico. Parece que fui chamado para ver aquilo. Nunca mais vou esquecer! ", conta.

"A resposta não está na superfície"

Segundo o autor, o título do livro reflete o momento turbulento que o autor estava vivendo. "Foi uma sorte eu conseguir esta frase 'Mar calmo não faz bom marinheiro'. É uma metáfora que a gente traz do universo náutico e que funciona para o nosso cotidiano. Tive muita sorte com esse título, pois ele reflete o momento que eu estava vivendo. A rescisão do meu contrato na televisão em 2014 foi o que me fez seguir nas minhas primeiras expedições e depois o término do meu relacionamento em 2017, que também foram águas turbulentas, enfrentando um mar difícil. Fazia todo o sentido que fosse esse o título do livro", afirma Max.

Max Fercondini Caçando a escota da vela mestra  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Caçando a escota da vela mestra
Imagem: Arquivo pessoal

São vários os trechos do livro que falam dos aprendizados que o autor viveu ao longo das travessias pelo oceano. "A vida pode ser resumida a uma gota no oceano, mas só quem conhece a profundidade do mar sabe que a resposta não está na superfície. E isto também pode ser uma metáfora para o nosso cotidiano. Por isso muita gente se identificou com o livro e recebi muitos comentários sobre esta frase que escrevi no barco. A gente precisa mergulhar dentro de nós mesmos para descobrir o que realmente faz sentido e a resposta não está na superfície".

Max não é nenhum novato quando o assunto é aventuras. Antes de decidir velejar pelo mundo, viveu outros desafios ao longo da carreira na televisão. "Eu já fiz três expedições pelo céu, pela terra e agora pelo mar. As duas primeiras expedições eu coloquei no livro 'América do Sul sobre rodas: relatos, guias e dicas', onde percorri 21 mil quilômetros pelas estradas de seis países da América do Sul. Foram seis meses viajando em um motorhome. Já tinha feito o céu, a terra e decidi que o próximo capítulo seria o mar", comenta.

A vida a bordo em Portugal

Segundo o autor, ele não tinha planos de morar a bordo do Eileen, em Portugal, por um período tão longo. "Eu imaginava morar no barco por um ano ou dois anos, no máximo, e já lá vão cinco anos. Eu realmente me encantei por esse estilo de vida. Mesmo com todas as dificuldades que às vezes preciso enfrentar quando algo no barco quebra ou me sinto sozinho, por exemplo, eu paro e penso o quão grato eu sou por essa vida que escolhi. Fico imaginando se eu estivesse parado num trânsito no Rio ou São Paulo e vejo o quão feliz eu estou com a minha escolha. Quando a gente faz o que ama, fica mais fácil superar os problemas".

Max Fercondini  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Chegando em Gibraltar
Imagem: Arquivo pessoal

A decisão de morar em Portugal acabou surgindo naturalmente, segundo Max. "Acho que Portugal me escolheu. A ideia de vir para Lisboa surgiu porque eu queria navegar no rio Tejo. Portugal é o berço dos grandes navegadores, da era de ouro dos descobrimentos. Então eu tinha um desejo muito grande de absorver um pouco desta cultura náutica dos portugueses. Quando eu cheguei aqui encontrei muitos amigos, fiz muitos amigos brasileiros e portugueses e acabei ficando mais tempo e me sinto em casa aqui.".

Fercondini já tem em mente um novo projeto literário. "Quero lançar esta sequência de histórias ligadas a aventuras. Já pensei em um nome provisório: "As aventuras de mini Max". Tenho uma vontade muito grande de partilhar estas histórias com o público infantil e tentar despertar na criança, no adolescente e no jovem o olhar para o mundo fora da tela do telefone e do computador e se conectar com o espírito de aventura e da curiosidade".