Zara e mais gigantes da moda são alvo de nova denúncia de trabalho forçado na China
Uma nova denúncia de exploração de trabalho forçado da minoria uigur foi apresentada esta semana em Paris. Lançada por um coletivo de associações, a queixa visa gigantes de moda, como o grupo Inditex, dono da Zara, e o japonês Uniqlo.
A denúncia foi feita pela associação anticorrupção Sherpa, o coletivo francês Ethique sur l'étiquette, o Instituto uigur da Europa (IODE) e uma uigur que foi detida na região do Xinjiang, no noroeste da China.
Segundo as entidades, a Uniqlo France, que pertence ao grupo japonês Fast Retailing, o espanhol Inditex, dono de marcas como Zara, Bershka, Massimo Duti, e o grupo francês SMCP, sigla por trás das grifes Sandro, Maje, de Fursac, além da multinacional dos calçados Skechers, estariam comercializando produtos feitos total ou parcialmente em fábricas onde uigures seriam vítimas de trabalho forçado. Segundo dados de organizações não governamentais, mais de um milhão de membros dessa minoria muçulmana são detidos atualmente na região Xinjiang em condições desumanas.
"Uma em cada cinco roupas de algodão pode ser fruto do trabalho forçados dos uigures", estimam as organizações que apresentaram a denúncia. Segundo elas, as empresas que comercializam esses produtos não controlam suficientemente seus fornecedores, contribuindo para essa situação de exploração.
"Crimes contra a humanidade"
"As empresas têxteis terão de ser responsabilizadas" por "se enriquecerem conscientemente, à custa dos mais graves crimes internacionais, contra uma fachada de comunicação ética", declarou o advogado William Bourdon, que apresentou a queixa coletiva. Ele espera que a justiça francesa reconheça o delito "com base na ocultação de crimes contra a humanidade".
A denúncia retoma uma queixa que já havia sido apresentada em junho de 2021 junto à divisão de "crimes contra a humanidade" da Procuradoria francesa antiterrorista (Pnat, na sigla em francês). O processo se baseava em um relatório publicado em 2020 pela ONG australiana ASPI (Australian Strategic Policy Institute).
Mas o Pnat afirmou não ser competente para julgar a questão, já que os crimes visados poderiam ter sido cometidos por empresas chinesas, na China. Na época, essa análise jurídica foi contestada pelas ONGs, que decidiram agora relançar o processo.
Grupos contestam as acusações
Os quatro grupos alvo da denúncia contestam qualquer tipo de utilização de trabalho forçado na fabricação dos produtos que comercializam.
Questionada na quarta-feira (17), Inditex disse já ter "comentado publicamente, e em várias ocasiões, que essas acusações são infundadas": "o grupo realiza verificações rigorosas de rastreabilidade para garantir a proveniência de seus produtos e pratica tolerância zero a qualquer forma de trabalho forçado ".
O grupo SMCP afirma ser vítima de "acusações caluniosas". Já Fast Retailing disse que "não foi notificado sobre isso pelas autoridades. Se algum dia formos, cooperaremos totalmente com a investigação para demonstrar novamente que não há trabalho forçado em nossas cadeias de suprimentos". Skechers não reagiu às acusações.
Várias marcas de moda vem se comprometendo a não usar algodão de Xinjiang (um quinto da produção mundial). No entanto, nem sempre conseguem controlar o trabalho de seus prestadores, que terceirizam parte do trabalho.
Há anos as autoridades chinesas vem sendo acusadas pelos países ocidentais de terem encarcerado massivamente uigures e membros de outras minorias predominantemente muçulmanas em campos de reeducação. Washington fala de um "genocídio", enquanto o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos classifica a situação de crime contra a humanidade, acusações rejeitadas por Pequim, que qualifica estes campos como centros de formação profissional destinados a combater o extremismo religioso e garantir a estabilidade social.
(Com informações da AFP)
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