Luxo em queda: Semana de Moda de Paris começa de olho na reconquista dos ultrarricos

Após anos de crescimento desenfreado a 20% ao ano, o mercado deve voltar a uma progressão mais moderada em 2024, estimada no máximo em 4%, de acordo com as últimas previsões da consultoria especializada Bain & Company.

Depois da queda causada pela covid-19, o luxo voltou com força total. Acreditava-se que, graças à clientela de ultrarricos, o setor escaparia da turbulência provocada pela inflação no Ocidente e pela persistente morosidade na China.

Mas as incertezas econômicas e políticas que pairam sobre esses grandes mercados impactaram os hábitos de consumo dos ricos, que estão menos inclinados a comprar itens icônicos que fazem a fortuna das marcas de luxo.

Preços em queda

Na França, Yves Saint Laurent reconheceu a situação e reduziu os preços. O preço de sua bolsa Loulou caiu de 2.400 euros para 2.200 euros, uma redução de 13%.

Nos últimos cinco anos, os preços médios dos bens de luxo, moda, couro ou cosméticos, dobraram. Quanto mais caro, maior era a demanda em relação ao produto - essa era basicamente a tendência das grandes marcas de luxo.

Mas, nos Estados Unidos e na China, esse princípio começa a encontrar suas limitações. Na China, algumas marcas como a italiana Versace ou a britânica Burberry estão literalmente liquidando seus produtos pela metade do preço para vender os estoques.

O impacto nos novos clientes

Os ultrarricos se tornaram adeptos de um consumo mais discreto, preferindo experiências, como estadias em hotéis de luxo, à aquisição de peças chamativas. Por outro lado, a clientela chamada "aspiracional" está gastando menos.

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"Aspiracional" significa todos aqueles que gastam apenas alguns milhares de euros ou dólares por ano para seguir a tendência. Esses clientes contribuíram para a explosão do setor, especialmente em países emergentes como a China, onde o número de novos ricos disparou nos últimos quinze anos.

Essa clientela, que também é mais jovem, está priorizando outras despesas mais urgentes nos Estados Unidos ou na Europa, devido à inflação. Enquanto na China, onde prevalece a deflação, ela espera que os preços caiam ainda mais. As vendas da Burberry, por exemplo, caíram 20% na China durante o primeiro trimestre.

As grandes marcas poupadas pela desaceleração

O luxo, no entanto, continua sendo uma indústria próspera, aproveitando a fascinação que ainda desperta. Para comprar a "it bag" da Hermès, a famosa bolsa Birkin, os clientes precisam literalmente seguir uma via crucis, relata uma jornalista do Wall Street Journal, e comprar muitos, muitos outros produtos para ter a esperança de estar na lista dos eleitos que finalmente poderão gastar pelo menos 10.000 euros pelo objeto dos seus sonhos. Isso por uma bolsa cujo custo de fabricação seria dez vezes menor.

A Hermès faz parte das sete maiores marcas mundiais, juntamente com Chanel, Louis Vuitton e Cartier, poupadas por essa normalização do setor. E são nas grandes ocasiões, como nesta semana de desfiles de alta-costura, que perpetuam sua marca e aumentam seu alcance global.

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