Cancún desconhecida

Destino no México tem área pouco explorada pelos brasileros; entenda por quê

Pietra Carvalho Do UOL, em Cancún (México) iStock

Um oásis dos resorts all inclusive, Cancún continua sendo um dos destinos mais procurados entre turistas brasileiros mesmo após o México tornar obrigatório o visto de entrada no país, há quase seis meses.

Segundo operadoras de turismo como a CVC, consultada por Nossa, apenas Punta Cana, na República Dominicana, compete pelo interesse do nosso país entre os destinos no Caribe.

Mas, apesar da simpatia pelo destino mexicano, não são todos os lugares que habitualmente recebem brasileiros.

Em dezembro, tive a chance de ver um lado B do destino caribenho: os hotéis que têm os norte-americanos como público mais cativo.

Logo depois de chegar ao Dreams Playa Mujeres, parte da rede internacional Hyatt, recebi de amigos alguns comentários sobre a semelhança do lugar com os cenários da "The White Lotus", série da HBO que acompanha milionários dos Estados Unidos de férias em um resort de luxo.

E o perfil dos hóspedes não fugia muito dessa descrição, com o domínio da língua inglesa ficando óbvio em todos os ambientes.

Valeria, a recepcionista do resort, me confirmou que os visitantes brasileiros são raros. Há dois anos trabalhando no local, ela costumava ver grupos do país principalmente para casamentos à beira-mar, mas até eles rarearam após a pandemia.

Já Erick, que oferecia pacotes de spa aos hóspedes, contou que o português mais frequente nos hotéis da rede é o de origem lusitana, já que apenas os europeus competem com os norte-americanos quando o assunto é o público-alvo.

iStock

Minha estadia em Cancún foi dividida em duas partes. Na primeira, experimentei o clima "família" do Dreams, em Playa Mujeres.

A região, que faz sucesso entre praticantes de golfe, tem resorts mais privativos, relativamente distantes de destinos como Playa del Carmen, mencionada por funcionários como uma queridinha entre os brasileiros, cativados por áreas boêmias e mais "temáticas".

A ausência de elementos típicos da cultura mexicana salta aos olhos já na área externa do resort, toda decorada em tons neutros e minimalista até mesmo no som ambiente, com música em volume baixo em todas as áreas comuns.

Nas piscinas, que tomam boa parte do saguão principal, existe um leque de atividades de lazer, também ideais para famílias que buscam férias de pouca intensidade.

Em uma delas, um grupo de idosos fazia uma aula de dança com músicas latinas. Na playlist, ficava claro que o resort não quer ousar no repertório mostrado aos hóspedes, reciclando sucessos da mesma época de "Ai Se Eu Te Pego", que viralizou em 2011, ganhando versão em inglês após fazer sucesso com o público estrangeiro.

Em outra, hóspedes mais jovens aproveitavam os bares montados dentro d'água — mas sem bebedeira desenfreada à vista.

Os restaurantes espalhados pelo espaço também passeiam de forma comportada pelas cozinhas do mundo, com cardápio francês, chinês e até mesmo churrasco brasileiro, mas sempre se afastando da "picância" que rendeu fama à culinária local e agradando quem não se dá bem com sabores fortes.

Para quem está acostumado com bufês a quilo, populares no nosso país, pode ser necessário pedir mais de um prato, já que as porções servidas também são comedidas.

Apesar da distância cultural do nosso país, o Dreams Playa Mujeres oferece instalações que agradam qualquer um que queira uma praia vazia e um quarto confortável, com frigobar cheio, banheiro bem equipado e delivery de refeições e roupas de cama a qualquer momento.

Uma suíte com vista para o jardim do hotel, semelhante a que eu me hospedei, está disponível no início de 2023 por diárias de aproximadamente US$ 600 dólares (R$ 3.075).

Na segunda parte da viagem, deixei o clima tranquilo de lado para mergulhar na vida noturna de Puerto Morelos, a 30 quilômetros de Cancún.

Nos resorts Secrets e Breathless, conectados por uma porta aberta com a mesma chave dos quartos, o silêncio dá lugar a festas com as crianças "fora da sala", já que o espaço aceita apenas hóspedes com mais de 18 anos.

Durante o dia, dançarinos em trajes de banho, besuntados de bronzeador e munidos de garrafas de champanhe, passeiam entre os visitantes oferecendo shots da bebida, em uma cena que parece saída de qualquer filme sobre férias em Miami.

O Carnaval fora de época contagia os turistas que escolhem o hotel com o twerk — uma versão norte-americana do rebolado do funk — dominando as piscinas ao redor do DJ, com uma setlist dominada por música eletrônica e hits remixados de cantoras como Beyoncé.

Nas varandas das suítes mais caras, equipadas com piscinas privativas, os hóspedes faziam suas próprias comemorações, enquanto nas espreguiçadeiras algumas mulheres aproveitavam para fazer topless — sem ser incomodadas.

À noite, a proposta do resort não muda, com a cultura mexicana dando lugar à diversão "pensada" em inglês. Um dos restaurantes exibia jogos de futebol americano universitário, atraindo grupos formados principalmente por homens. Em outro, bastante disputado entre os hóspedes, shows de dança do ventre e malabarismo com fogo atraíam a atenção pelo público.

Luís, um dos bartenders do resort, opinou que o Secrets e o Breathless atendem a um perfil muito específico de clientela. Segundo ele, que já trabalhou em outros hotéis, turistas brasileiros se concentram em uma área de Cancún com um perfil menos luxuoso e pacotes com preços que atendem à família, pensando também na cotação em real.

No resort Secrets, que tem suítes com direito a chuveiro instalado no meio do quarto e controle com luzes coloridas, uma diária na Allure Junior Suite, com 50 m² e vista para a piscina, sai por aproximadamente US$ 1.116 (cerca de R$ 5.600).

Pietra Carvalho/UOL

Apesar de ter públicos-alvo diferentes, os três hotéis da rede Hyatt contam com opções parecidas em seus pacotes all inclusive.

Ao chegar às suítes, os hóspedes são recebidos com garrafa de espumante, frutas, uma máquina de café e um banheiro equipado com miniaturas de todos os produtos de higiene que ocupam uma nécessaire.

Mas a grande atração do quarto é o tablet disponível em uma escrivaninha, que disponibiliza delivery de refeições, bebidas e roupas de cama — deixando inclusive um catálogo de travesseiros para os turistas, caso eles não gostem do modelo padrão.

Para os brasileiros, fica apenas um alerta: entre as vastas opções para melhorar a vida dos hóspedes, não há a oferta de adaptadores para eletrônicos que usam a tomada brasileira.

Quem esquece o adaptador universal, como eu, tem que desembolsar US$ 20 em uma das lojinhas instaladas dentro do próprio resort.

Nas lanchonetes self-service, nos bares e nos restaurantes à la carte, todos os pratos e bebidas estão disponíveis dentro do pacote, sem cobranças extras. Porém, os garçons também oferecem uma carta de vinhos com rótulos especiais que ficam fora do sistema all-inclusive — estes, sim, entram como adicional na conta.

Dicas para ser virar no 'all inclusive'

  • Tudo é conectado

    Tablet permite pedir refeições e até mesmo escolher o tipo de travesseiro.

    Imagem: Reprodução
  • Quase tudo incluso

    O all-inclusive contempla alimentação, bebidas e outras comodidades no pacote de hospedagem. Mas atente que determinados serviços, como cartas de vinho, podem ser cobradas à parte.

    Imagem: iStock
  • Tenha um roteiro em mente

    Defina qual a sua prioridade. Se for festejar, pesquise nas redes sociais dos hotéis para saber quais as atrações.

    Imagem: Peopleimages/Getty Images/iStockphoto
  • Variedade culinária

    Vale analisar qual o tipo de serviço de gastronomia que você prefere. Em alguns resorts, as refeições são servidas em bufê self-service, em outros, existem vários restaurantes dedicados a diferentes cozinhas, todos inclusos no pacote.

    Imagem: Divulgação
  • Podem haver níveis no seu pacote

    Caso o resort ofereça diferentes níveis de all inclusive, se informe na recepção sobre quais espaços estão disponíveis para sua modalidade de hospedagem.

    Imagem: Reprodução/Tripadvisor

Saindo da realidade paralela criada pelas redes de hotéis, Isla Mujeres é uma chance de os turistas de Cancún se aproximarem de um turismo mais pé no chão, com ruas de comércio popular que não parecem pensadas para facilitar a vida de estrangeiros — muitas tem atendentes que só falam espanhol e só aceitam pesos mexicanos, sem maquininha de cartão.

Mesmo com as dificuldades para os não-hispânicos, a viagem compensa pelo mar cristalino ótimo para banho e pelos preços convidativos dos souvenires — principalmente nas vielas mais distantes do píer em que os barcos atracam.

Entre as lembrancinhas, os destaques são as máscaras inspiradas em arte maia — muitas delas curiosamente pintadas com símbolos de times da NFL, a liga de futebol americano dos Estados Unidos. E chamam a atenção os inúmeros copos, canecas e piteiras em formatos fálicos. Segundo vendedores locais, não tem nenhum significado ou superstição relacionados, sendo sucesso apenas pela "piada".

O caminho até Isla Mujeres também pode ser um passeio à parte, já que as empresas responsáveis por fazer a travessia oferecem pacotes com mergulho e festa a bordo para os grupos interessados.

No meu caso, embarquei em um catamarã da Cancun Sailing, com capacidade para 25 pessoas por viagem. No meio dos 13 quilômetros que separavam as costas, descemos para fazer o snorkeling, um mergulho em águas rasas, para observar os peixes e corais do mar do Caribe.

A modalidade não exige muito preparo físico e é feita apenas com uma máscara de mergulho e nadadeiras nos pés, além de um colete salva-vidas.

Apenas grávidas são vetadas do passeio, mas fica o aviso: para quem nunca mergulhou, pode levar alguns minutos — e vários goles de água salgada — até avistar os primeiros peixes sem o medo de se afogar. Superada a inexperiência e com o apoio dos guias que acompanham os grupos de perto, a observação é um dos pontos altos do tour.

O passeio até Isla Mujeres — com snorkeling, open bar a bordo e duas horas de tempo livre na ilha — dura cerca de 8 horas, com os ônibus de passeio da empresa passando nos hotéis por volta das 9 horas e voltando depois das 17, deixando e buscando os clientes no pier de onde saem os barcos.

O ingresso sai por $139.00 (R$ 723) na cotação atual.

Os cenotes são figura onipresente no Instagram de celebridades que visitam o México. São 600 deles espalhados apenas pela península de Yucatán, que engloba Cancún, Tulum, Cozumel e Isla Mujeres.

Segundo os guias, eles eram considerados portais sagrados pelos Maias, que faziam sepultamentos em seu interior por acreditarem que os cenotes seriam uma conexão de acesso a um outro mundo.

Para quem tem interesse em conhecer essas piscinas naturais sem passar por fortes emoções, a empresa XCaret disponibiliza um tour por quatro tipos de cenotes: semiaberto, aberto, antigo e de caverna — este mais parecido com os dos posts nas redes sociais.

O pacote vendido pela empresa inclui transporte de van, que passa na porta dos hotéis dos turistas. O transporte chegou ao resort em que eu estava às 9h40, e me devolveu apenas às 16 horas.

Já na ida foi fácil perceber a mesma tendência que observei entre os hóspedes: ao meu redor, a única língua falada era o inglês.

Para brasileiros com experiência nas atividades radicais, o passeio pode parecer muito "montado", como uma visita a um parque da Disney.

No cenote semiaberto, por exemplo, o guia nos contou que parte das plantas subaquáticas são artificiais, colocadas como uma barreira para delimitar o espaço adequado para mergulho.

Atividades como tirolesa, rapel e passeios de caiaque estão disponíveis, mas o passeio também é boa opção para quem deseja apenas curtir o mergulho e admirar a vista e para públicos como idosos e crianças. Os turistas que nos acompanhavam, dois casais dos Estados Unidos, disseram ter gostado do passeio.

Uma delas, uma ex-aeromoça aposentada, não escondia sua empolgação com as árvores centenárias e com os lagos cristalinos, garantindo que ela e o marido voltariam para Cancún outras vezes.

Um outro casal, que saiu de Miami para passar a lua de mel no resort Secrets, afirma que escolheu o México como destino pela chance de vivenciar "a mata" sem se afastar do conforto da Flórida.

Para quem deseja ver uma versão mais "crua" das piscinas naturais, e sem precisar seguir o plano de guias, é possível visitar vários desses poços profundos de forma independente, fora dos circuitos administrados pelas empresas de turismo ecológico.

No site do XCaret, o ingresso do tour para pessoas acima de 12 anos está à venda por US$ 129,99, cerca de R$ 660, na cotação atual.

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