Entre agosto e outubro, centenas de homens e mulheres percorrem a pé os socalcos do Vale do Douro, no norte de Portugal, para colher, manualmente, as uvas que amadurecem nas íngremes encostas.
Com tesouras e baldes nas mãos, recolhem os frutos que darão origem a cerca de 60 milhões de litros anuais do Vinho do Porto, o vinho fortificado mais famoso do mundo.
Produzido na região demarcada mais antiga da história (desde 1756), o processo começa com a colheita e maceração das uvas, muitas vezes pisadas com os pés, para dar início à fermentação.
Mas o Porto só atinge sua forma final a cerca de 100 km dali, em Vila Nova de Gaia, onde estão as históricas caves. É nesses armazéns, ao pé do rio Douro, que o vinho "descansa" nas barricas — ou pipas, como são chamadas em Portugal. Durante o envelhecimento, a madeira permite uma leve oxigenação, essencial para integrar sabores, aromas e taninos.
É quando a mágica acontece: no contato com a madeira, o vinho ganha complexidade e suavidade, transformando-se no líquido aromático que conquistou o mundo. Algumas safras raras chegam a custar milhares de dólares.
As pipas que guardam o vinho durante décadas — e até séculos — são feitas por tanoeiros, profissionais de um ofício tradicional que hoje corre o risco de desaparecer.