No Brasil dos anos 20 e 30, não havia quem tivesse mais motivos para se esconder do que Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião. Jornais de todo o Brasil — e até do exterior — narravam, com tintas dramáticas, as façanhas e crueldades do Rei do Cangaço, o homem que tocava o terror pelo sertão do Nordeste. Prêmios eram ofertados para quem entregasse o fora-da-lei à polícia, vivo ou morto, de modo que o recomendável seria Lampião e seus sequazes aderirem a um certo minimalismo, quase uma camuflagem — tentassem, afinal, passar desapercebidos.
Mas qual o quê. Lampião estava preocupado com muitas coisas, mas a discrição, definitivamente, não estava entre elas. Em 1933, o escritor Graciliano Ramos — que dali a cinco anos publicaria o clássico Vidas Secas — escreveu a respeito da passagem do Rei do Cangaço na cidade Palmeira dos índios, em Alagoas, onde fora prefeito de 1928 a 1930.
"Quando Lampião esteve no município de Palmeira dos Índios, [...] trazia mais de cem homens que não se escondiam na capoeira nem transitavam em veredas. Corriam pela estrada real, muito bem montados, espalhafatosos, pimpões, chapéus de couro enfeitados de argolas e moedas, cartucheiras enormes, alpercatas que eram uma complicação de correias, ilhós e fivelas, rifles em bandoleira, lixados, azeitados, alumiando"
Em outras palavras, os cabras eram uns amostrados. Queriam mais era ser vistos e, por meio de suas vestimentas, ostentavam os valores associados àquele fenômeno do banditismo rural: opulência, honra, poder e invencibilidade. Uma estética traduzida em cores vibrantes, brilhos e intrincadas padronagens geométricas.
Estilo, de fato, nada básico — e cuja beleza faria com que ultrapasse as fronteiras do sertão nordestino e chegasse às passarelas dos grandes centros de moda do mundo.