POR DENTRO DO CAPITÓLIO

A história do edifício do Congresso americano é recheada de segredos, números superlativos e episódios de violência

Ele rivaliza com a Casa Branca como o prédio governamental mais famoso do mundo. É, sem dúvida, um dos principais pontos turísticos da capital americana. Podem até existir edifícios de Parlamento mais bonitos, mas, com 540 cômodos e 658 janelas, poucos são tão monumentais como o Capitólio.

Além de um prédio visitado por 3 milhões de turistas por ano, o Capitólio é (e os guias gostam de frisar) local de trabalho para cerca de 30 mil pessoas que circulam pelo complexo, incluindo 100 senadores e 435 deputados. Só para a manutenção de prédios e jardins são 2 mil funcionários.

São essas pessoas que fazem funcionar o Congresso do país mais poderoso do mundo. Decisões que mudaram a história foram tomadas aqui, e a gente sabe como isso alimenta a imaginação de Hollywood. O prédio foi destruído várias vezes no cinema.

Mas a ameaça mais recente foi bem real: o Ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, quando apoiadores de Donald Trump que não aceitaram o resultado da eleição presidencial invadiram o prédio para tentar impedir a oficialização da vitória de Joe Biden. O episódio foi considerado uma das maiores ameaças à democracia americana.

A invasão de 2021 não foi o único incidente no Capitólio. Houve tiroteio, rebelião e atentados, além de ameaças com carros e até um girocóptero. O episódio mais emblemático ocorreu em 1812, quando os ingleses, em guerra contra os EUA, incendiaram a jovem capital do país.

Idealizada para ser a capital do novo país independente, Washington é toda planejada, e seu projeto inspirou cidades como Brasília. O responsável pelo plano urbano foi o engenheiro franco-americano Pierre L'Enfant.

Ele determinou a construção de um prédio para o Congresso em um morro, conectado à casa presidencial por uma avenida. Entre eles, um grande parque longilíneo, o National Mall.

Em 1792, conflitos políticos levaram à dispensa de L'Enfant. O secretário de Estado (e futuro presidente) Thomas Jefferson propôs um concurso para definir o novo urbanista. Foi Jefferson que batizou o prédio de Capitólio, porque se acreditava, erroneamente, que era na colina romana do Capitólio que os senadores se reuniam na Roma Antiga.

Em 1793, em uma cerimônia maçom, o presidente George Washington lançou a pedra fundamental da obra. O Senado (ala norte) ficou pronto em 1800 e a Câmara (ala sul), em 1811. Nos anos 1850 e 1860, com mão de obra escravizada, o prédio ganhou uma ampliação e uma nova, e enorme, cúpula.

O novo domo era três vezes mais alto que o original. No lado de dentro, ele tem 55 m de altura (o suficiente para abrigar a Estátua da Liberdade sem o pedestal). No exterior, são 88 m de altura, o que inclui uma outra Estátua da Liberdade, monumento de bronze de 6,8 toneladas que ornamenta o topo do Capitólio.

Admirar a imensidão da rotunda é o ponto alto da visita ao Capitólio. Antigamente, qualquer turista podia também subir a escada secreta que fica atrás da parede e chegar ao topo do domo. Hoje, só a convite de um parlamentar.

Oito grandes pinturas ilustram a história do país nas paredes da rotunda. No topo, a "A Apoteose de Washington" (1865) mostra o primeiro presidente americano no céu, ao lado de divindades greco-romanas. O afresco é de autoria do italiano Constantino Brumidi.

Em 1879, enquanto trabalhava em outro afresco na rotunda, Brumidi se desequilibrou e ficou pendurado no andaime por alguns minutos até ser resgatado. Ele morreu meses depois, mas o episódio alimentou uma lenda que dizia que o artista morreu ao cair lá de cima.

Localizada logo abaixo da rotunda, a cripta serviria para guardar os restos mortais de George Washington, o que jamais se concretizou. No lugar da tumba, uma bússola determina o marco zero da capital.

No subsolo, havia um spa usado por senadores no século 19 para tomar banho, socializar e confabular, num tempo em que água encanada era uma raridade. O local foi abandonado e redescoberto em 1936. Hoje, duas banheiras de mármore restam para contar essa história.

Para facilitar o trânsito de pessoas, o Capitólio tem, desde 1909, seu próprio metrô, com três linhas conectando-o a outros prédios do Congresso. Só visitantes a convite de um parlamentar podem usá-lo. Além do metrô, o complexo tem uma rede de túneis que levam a locais como a vizinha Biblioteca do Congresso.

O tour no Capitólio é grátis e inclui a cripta, a rotunda e um grande salão com estátuas doadas pelos 50 estados. É só reservar a entrada pelo site.

Após o passeio, não deixe de pegar o túnel e conhecer, também de graça, a Biblioteca do Congresso. É a maior biblioteca do mundo (e um dos edifícios mais bonitos dos EUA).

Reportagem: Felipe van Deursen, de Washington DC
Edição: Eduardo Burckhardt
Design: Yasmin Ayumi

* O jornalista viajou a convite do Washington DC e da United Airlines