Tamanho importa?

Viajamos a bordo do MSC Seashore, o maior navio de cruzeiro a navegar em águas brasileiras

Giuliana Bergamo Colaboração para Nossa Michel Verdure

Quando o assunto é turismo, tome muito cuidado com superlativos. Por trás do hotel mais antigo, podemos tanto encontrar parte da história bem cuidada do lugar, quanto carpetes que viraram colônia de férias de ácaros ou travesseiros que têm muita coisa para contar.

Ao economizar pagando pelo voo mais barato, você pode ter uma folguinha no orçamento de viagem para gastar mais com restaurantes, compras ou um passeio especial, mas corre o risco de fazer tantas escalas que vai chegar ao destino incapaz de curtir o que comprou.

Digo isso com certa experiência de quem, a trabalho ou a passeio, já viveu os dois tipos de situação algumas vezes na vida. Foi assim, um pouco esperançosa, um pouco desconfiada, que embarquei no Seashore, apresentado como o maior cruzeiro a navegar por águas brasileiras.

São vinte andares, com 2.270 cabines que comportam quase 6 mil passageiros (exatos 5.877). O gigantão tem 18 bares e lounges, nove restaurantes, seis piscinas, parque aquático com tobogãs no topo do navio, spa, academia, cassino, espaço kids, lojas, teatro para espetáculos e eventos, salão de festa e uma área vip.

Michel Verdure
Ivan Sarfatti Ivan Sarfatti

O navio está agora no litoral brasileiro, mas, quando viajei a convite da MSC Cruzeiros, no final de agosto e início de setembro passado, ele ainda flutuava pelo Caribe. O clima e a paisagem, então, merecem uma avaliação à parte. Partimos do porto de Miami, nos Estados Unidos, e nosso primeiro destino foi Ocho Rios, na Jamaica.

Durante as primeiras horas de viagem, circundamos Cuba, sem atracar. Nem mesmo a chuvinha que enfrentamos nos primeiros dias e alguns episódios de temporal com direito a relâmpagos cinematográficos em alto mar foram capazes de estragar a magia do lugar.

Ao longo de sete dias de viagem, paramos também nas Ilhas Cayman, em Cozumel, no México, e nas Bahamas, na ilha privativa da MSC, a Ocean Cay.

Conrad Schutt Seashore atracado em Ocean Cay, ilha privativada MSC

Seashore atracado em Ocean Cay, ilha privativada MSC

Na cabine à espera de um peixão

A cabine em que fiquei (experiência Bella) é pequenina, mas muito confortável. Tem frigobar, mesinha que serve tanto para apoiar o computador quanto para comer, TV, sofá, armário, banheiro (sem amenities) e varanda com vista para o oceano. Com a temperatura amena, contrariei a regra do cruzeiro e dormi com as portas da sacadinha abertas, curtindo o balancinho e o barulho do mar.

MSC Seashore, Suite - Ivan Sarfatti - Ivan Sarfatti
Imagem: Ivan Sarfatti

O fato de o Seashore ser muito grande faz dele também um navio muito estável. Já fiz viagens em que era difícil andar em linha reta dentro do cruzeiro e, durante o caminho, não raro encontrava gente passando mal de enjoo. Desta vez, o balanço era tão discreto que, em muitos momentos, dava para esquecer que se estava em alto mar.

Quando viajei, estava tão cansada, que, nos primeiros dias, me contentei em ficar ali mesmo, dormindo na cama muito confortável, lendo, tomando sol na sacada ou simplesmente curtindo essa experiência de imersão no cenário marítimo. Mas cruzeiro é sinônimo de entretenimento.

E tem muita coisa para fazer no Seashore. Então, assim que me senti pronta e descansada, parti para aproveitar as dependências do navio como se deve.

MSC Seashore, MSC Yacht Club Deluxe Suite - Ivan Sarfatti - Ivan Sarfatti
Imagem: Ivan Sarfatti

Conrad Schutt Conrad Schutt

Spa, shows, baladas, mas nada de flerte

Um dos pontos altos do navio é o Aurea Spa. São 21 salas de tratamento (de massagens relaxantes a procedimentos estéticos), piscina de hidromassagem, área termal com saunas de diversas modalidades (tem até uma com gelo) e um espaço externo, para tomar sol.

Eu me entreguei a uma massagem deliciosa, que mandou embora todos os nós acumulados por causa do excesso de trabalho e preocupação dos dias anteriores. O único problema ali são os preços. Em dólar, os tratamentos acabam ficando bem mais caros do que a média cobrada em bons estabelecimentos do Brasil.

MSC Seashore, MSC Aurea Spa - Ivan Sarfatti - Ivan Sarfatti
Imagem: Ivan Sarfatti

À noite, dois dos meus lugares favoritos eram o Brooklyn Café, com bons drinks e excelentes shows de jazz, e o Le Cabaret Rouge, uma espécie de balada para dançar — não para flertar. Não sei se foi coincidência, mas a maioria dos passageiros estava ali em família ou casal.

Vi poucas amigas, sempre com mais de 50 anos, e não me chamou atenção nenhuma turma de homens sozinhos. Como eu estava em um grupo de jornalistas e influenciadores, tentei checar com meus colegas se tiveram a mesma percepção que eu: aquele não é um navio para solteiros.

MSC Seashore, Le Cabaret Rouge - Ivan Sarfatti - Ivan Sarfatti
Le Cabaret Rouge
Imagem: Ivan Sarfatti

Muito delicado com a equipe da MSC, que o convidou, o ex-BBB André Martinelli tentou desconversar. Disse apenas que talvez fosse bacana ter uns shows grandes dentro do cruzeiro:

Já pensou o Thiaguinho em um palco, ali, perto da piscina?

Divulgação Divulgação

Não se come mal no Seashore, mas...

Ninguém passa fome ou come mal no Seashore. Mas você pode ter duas experiências bem diferentes dependendo do seu cacife. Se tiver dinheiro para investir na gastronomia, a viagem pode ficar um pouco mais interessante. Os restaurantes de especialidade são caprichados, com bom atendimento e pratos excelentes.

O meu predileto foi o Kaito Teppanyaki, de comida japonesa. A segunda palavra do nome se refere a uma técnica de grelha na chapa ("teppan" é ferro e "yaki", grelhado).

Sentados em um balcão ao redor da chapa, os comensais se deliciam e, ao mesmo tempo, entretêm com as habilidades do cozinheiro, que faz uma verdadeira performance com pescados, carnes, espátulas, facas e até fogo.

Kaito Teppanyaki - Ivan Sarfatti - Ivan Sarfatti
Kaito Teppanyaki
Imagem: Ivan Sarfatti

Ivan Sarfatti

...um pouquinho de caos

Já os pacotes básicos incluem refeições livres nos restaurantes principais.

Em todos a comida é gostosa, variada e fresquinha. Mas os salões são mais cheios e o atendimento pode ser caótico. No Market Place, você encontra comida a quase qualquer hora do dia nas ilhas espalhadas pelo salão.

Nos horários de pico, porém, lota de gente e, embora as filas para se servir andem rápido, é complicado encontrar um lugar para se sentar, sobretudo se você estiver com mais gente.

Ivan Sarfatti Ivan Sarfatti

Fique ligado na hora de pico!

Ali também os garçons estampam na cara a afobação e, se você quiser pedir uma bebida que não esteja disponível nas máquinas de sucos e refrigerantes, prepare-se: pode chegar só depois que já tiver comido tudo.

Foi assim, indignada com a espera por uma xícara de café, que conheci um casal de canadenses com nomes latinos, Alberto e Emília. Na faixa dos 50, eles são o que chamaram de "reconstructed family". É o segundo casamento dos dois, que, juntos, somam sete filhos com entre 17 e 24 anos.

MSC Seashore, Central Park Restaurant - Ivan Sarfatti - Ivan Sarfatti
Central Park Restaurant: inspirado na área verde de Nova York
Imagem: Ivan Sarfatti

No cruzeiro, estavam sozinhos, numa espécie de lua de mel. Compraram o pacote básico, não tinham internet e faziam suas principais refeições ali ou no Central Park, que é a la carte, mas costuma ter alguma espera para encontrar uma mesa.

Alberto, que fez graça porque o garçom se confundiu com o tipo de café que pedi, também sentiu isso:

Estamos curtindo, é claro. É o Caribe lá fora, a comida é boa, mas às vezes as coisas são um pouco bagunçadas.

Ivan Sarfatti Ivan Sarfatti

Piscinas lotadas, mas viajantes felizes

Com o mar lá fora (seja o Caribe na viagem que fiz, ou o nosso Atlântico na temporada brasileira) e tanto entretenimento dentro, as piscinas poderiam ser secundárias. Não é bem assim. Quase todas ficam bem cheias, principalmente nos momentos em que o navio está em curso. Seria impossível fazer um ranking honesto, mas talvez a mais lotada que eu vi foi a Jungle, que é aquecida e coberta. Por ali ficam principalmente as famílias com crianças menores.

MSC Seashore, Jungle Pool Lounge - Ivan Sarfatti - Ivan Sarfatti
Jungle Pool Lounge
Imagem: Ivan Sarfatti

Outra atração bem concorrida são os tobogãs. Não encarei a fila, mas sentei em um cantinho e fiquei acompanhando um garoto à espera de sua vez de escorregar no tubo que parece desembocar no mar. Tive dó, pois ele gastou exatos 19 minutos e 28 segundos para brincar.

Mas nem ele, nem ninguém ali estava de cara feia ou parecia se incomodar com a demora.

MSC Seashore, Pirates Cove Aquapark - Ivan Sarfatti - Ivan Sarfatti
Pirates Cove Aquapark
Imagem: Ivan Sarfatti

Depois, dei uma passadinha pela área de games. Os brinquedos de realidade virtual — um bote que percorre um rio no meio de uma floresta com direito a animais selvagens e dinossauros, um carro de corrida e uma sala onde você se sente parte de um bang-bang — são bacaninhas, mas a qualidade da imagem já está defasada, o que tira um pouco da graça da experiência.

MSC Formula Racer, simulador de corrida - Ivan Sarfatti - Ivan Sarfatti
MSC Formula Racer, simulador de corrida
Imagem: Ivan Sarfatti

Na porta do espaço teen, troquei algumas palavras com três garotos chilenos de 13 anos. Me contaram que aquele era o lugar preferido deles no navio. Tentei perguntar quais eram os jogos disponíveis, mas fiquei só com a resposta "los mejores", pois a porta abriu e eles pareciam ter muita pressa para brincar.

MSC Seashore, Teens Club - Ivan Sarfatti - Ivan Sarfatti
Teens Club
Imagem: Ivan Sarfatti

Não pude acompanhá-los, pois tanto este quanto o espaço kids é proibido para adultos que não sejam os responsáveis pelas crianças.

E o controle, até onde pude testar, é rigoroso. Dei dois passos para dentro da sala teen e fui barrada. Na área das crianças menores, mal consegui colocar a cabeça para dentro e dar uma espiadinha. Como mãe, senti certa paz mesmo estando sem meus filhos.

Conrad Schutt Conrad Schutt
Divulgação

Temporada 2022/2023

Veja o itinerário do MSC Seashore na costa brasileira

11/12/22 (6 noites)
Embarque: Santos
Desembarque: Santos

11/12/22 (3 noites)
Embarque: Santos
Desembarque: Salvador

14/12/22 (6 noites)
Embarque: Salvador
Desembarque: Salvador

17/12/22 (6 noites)
Embarque: Santos
Desembarque: Santos

23/12/22 | 07/01/23 | 14/01/23 (7 noites)
Embarque: Santos
Desembarque: Santos

26/12/22 (8 noites)
Embarque: Maceió
Desembarque: Maceió

03/01/23 | 10/01/23 | 17/01/23 (7 noites)
Embarque: Maceió
Desembarque: Maceió

04/01/23 | 11/01/23| 25/01/23 (7 noites)
Embarque: Salvador
Desembarque: Salvador

Para mais informações, acesse o site oficial da MSC.

Divulgação

Cada destino uma sentença

Cruzeiro não é lugar para quem curte ficar sozinho. Nos dias em que viajei, o navio não estava em sua lotação máxima, mas, ainda assim, tinha muita gente disputando o mesmo espaço. Nos fins de tarde, era complicado conseguir um drink no bar da piscina ou alguns instantes de silêncio para ler até o fim a página do livro. Tem sempre alguém conversando alto ou um som ligado.

No geral, tive sorte com os passageiros que viajaram comigo. Não vi briga, muita falta de educação ou gritaria. Sou incapaz de prever se é sempre assim. Por mais que tivessem brasileiros no Caribe, dependendo do lugar, o grupo pode se comportar de maneira diferente.

Também fui informada que os cardápios e ingredientes mudam dependendo de onde o navio está. A ideia é prestigiar a gastronomia e usar os ingredientes locais.

É verdade que fiquei muito decepcionada com a parada na Jamaica. Esperava conhecer melhor esta ilha que habitou meu imaginário de adolescente fã de Bob Marley. Mas tive que me contentar com o som mediano da van (pelo menos tocava outro jamaicano maravilhoso, o Harry Belafonte).

O veículo nos levou do porto até um beach club nada diferente de qualquer barraca de praia da Bahia ou das Ilhas Caimã, onde estivemos em seguida. Já o mergulho em Cozumel foi uma experiência divertida e singela e, na Ocean Cay, me senti dentro de um desenho animado tipo Barbie ou Patricinhas de Beverly Hills, onde tudo é perfeitinho (do tom do céu ao cooler cheio de cerveja e água geladas) e as pessoas só sabem sorrir. Mas esta história deixo para uma outra reportagem.

*A jornalista viajou a convite da MSC

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