Um local que vem ganhando fama entre os especialistas em gastronomia no Brasil é a Ilha do Combu, que fica pertinho de Belém e tem como referência Izete Costa, mais conhecida como Dona Nena. Ela comanda uma produção de chocolate e cacau amazônico 100% orgânico desde 2006, mas sua história com o fruto começou bem antes. No Combu, moradores vivem nos rios que cortam a ilha e, em meio à mata, vivem árvores de cacau, cupuaçu e pupunha.
No início do século 20, os pais de Dona Nena cultivavam cacau de uma forma mais rústica: torravam, descascavam a semente e "batiam" no pilão com açúcar. Em 2002, ela começou a fazer artesanato com a iguaria e, em 2006, teve a ideia de resgatar a tradicional receita do Combu.
Uma das pessoas que ajudou a impulsionar os negócios de Izete foi o chef paraense Thiago Castanho, dos restaurantes Remanso do Peixe e do Bosque, em Belém, que, em 2011, começou a usar o chocolate da empresária em suas receitas. O chef Felipe Castanho, irmão e sócio de Thiago, também se transformou em fã e defensor do cacau local:
A Amazônia, principalmente o Pará, nunca foi conhecida pelo cacau. Foi agora que os pequenos produtores conseguiram visualizar esse potencial. Como cozinheiro, podemos agregar valor ao prato, respeitando a sustentabilidade"
A influência dos irmãos fez com que o chef paulistano Alex Atala importasse para o sudeste os produtos para serem usados em um menu degustação de seu renomado restaurante, o D.O.M. O que ele não esperava é que uma de suas invenções, a mandioquinha glacê, que leva chocolate da ilha do Combu e chantili de mel de abelha indígena, faria tanto sucesso, tornando-se um dos pratos que definem Atala.
Com a visibilidade no cenário nacional, Dona Nena conseguiu resgatar a cultura e tradições ribeirinhas da região e proporcionar uma qualidade de vida melhor para toda a comunidade. Ela produz, dependendo da safra, até 300 quilos de chocolate por mês.
O chocolate é sustentabilidade, é minha vida. Ele significa uma independência financeira como mulher, como pessoa e produtora. No nosso caso, o ambiente nos torna únicos. Temos uma área de várzea abençoada, banhada todos os anos pelas luas cheias e a diversidade da flora. Esse é o grande segredo"