Ricardo Amaral soma mais de 25 anos na indústria dos grandes transatlânticos, 17 deles como executivo da Royal Caribbean, companhia da qual chegou a ser vice-presidente regional para América Latina e Caribe e que, atualmente, representa com exclusividade no Brasil, à frente da R11 Travel.
Entre 2009 e 2016, o empresário foi presidente e membro do conselho da Clia Brasil (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos), participando ativamente da estruturação da temporada brasileira de cruzeiros.
O futuro dos cruzeiros está ameaçado pela pandemia?
Não tenho dúvida de que os cruzeiros vão continuar. Só que serão diferentes, assim como aconteceu com as viagens de avião depois dos atentados de 11 de setembro. Naquela época, muita gente ficou com medo de voar, pelo risco de sequestro. Daí os protocolos mudaram para prover mais segurança. A indústria vai se preparar para lidar com a contaminação potencial que pode acontecer com o coronavírus.
O que está sendo feito para que seja seguro viajar de navio?
Todas as operações de cruzeiros do mundo cessaram até que as empresas conseguissem entender qual protocolo a ser seguido para garantir a segurança dos hóspedes e da tripulação. No caso do grupo Royal Caribbean Cruise Lines, que inclui as companhias Royal Caribbean, Celebrity Cruises, Azamara Club Cruises e Silversea, foi montado um painel de experts para estabelecer como a operação podia ser melhorada em cada uma das "horas da verdade", que são quando acontecem as interações entre pessoas.
Isso inclui o momento da reserva, o embarque, a chegada na cabine e assim por diante. Esse grupo de trabalho, liderado por um ex-secretário de Saúde dos Estados Unidos e formado por médicos, infectologistas e sanitaristas vinculados ao CDC, além de especialistas em cruzeiros, detalharam um novo protocolo a ser seguido.
E quanto à indústria dos cruzeiros como um todo?
Nenhuma companhia está interessada em competir para ver qual é a mais segura. Em termos de saúde e segurança, todas precisam seguir o mesmo padrão. O Adam Goldstein, presidente da CLIA (Associação Internacional de Linhas de Cruzeiros), que é uma das pessoas mais sérias e responsáveis que eu conheço, está extremamente envolvido em unificar a os padrões da indústria, o que é algo bem complexo.
Um hotel, por exemplo, tem que cumprir a lei do país no qual está. Já as companhias de cruzeiros, que viajam pelo mundo inteiro, precisam elevar os padrões ao máximo de exigência possível. Dentro desse cenário, ainda teremos que ver quais destinos estarão prontos para receber turistas e quais vão querer recebê-los.
A questão da pandemia tem um viés político gigantesco. Muita gente está fazendo um discurso político que não está necessariamente alinhado à questão científica e técnica, onde, diga-se de passagem, também não há consenso. Então teremos países que, com prejuízo de sua economia e do desenvolvimento do turismo local, vão segurar os navios por desconhecimento. Por isso, a missão da CLIA é apresentar um protocolo muito claro para dizer: "olha, estou levando 5 mil turistas saudáveis para visitar o seu país".
E o caminho inverso? Como as companhias vão escolher destinos seguros?
A indústria dos cruzeiros já está habituada a mudar seus itinerários conforme as questões de segurança. Quando a Tunísia sofreu um atentado, por exemplo, foi retirada das rotas. Com a Turquia, foi a mesma coisa. A partir de agora, essas alterações serão feitas do ponto de vista da saúde. É uma via de mão dupla. Tanto o destino só vai deixar a companhia que for segura aportar, como a companhia só vai para um lugar que seja seguro.
Este é um dos ângulos fundamentais, porque não adianta nada levar um navio saudável e com protocolo para visitar um local que não siga o mesmo padrão, ou a um país no qual haja um descontrole da pandemia. Há vários destinos no Caribe que não têm mais casos de covid-19 e isso é muito promissor. Uma vez lá, as excursões do próprio navio serão as opções mais seguras, porque é onde haverá um maior controle dos protocolos, já que são operadas por provedores selecionados e aprovados pela companhia, extremamente cobrados com relação à segurança.