'Merak' é uma antiga expressão turca que significa "desfrutar das coisas simples da vida".
E foi assim que a população da Bósnia, entre 1992 e 1995, tentou manter a normalidade durante os quase 4 anos do maior conflito bélico na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Enquanto sérvios e croatas disputavam poder, bósnios lutavam pela vida.
"'Merak' foi como uma palavra de resistência. Eles [os sérvios] cortaram luz, água, gás e remédios, mas nós resistimos. Tentamos viver normalmente durante a guerra", explica por telefone a bósnia Lejla Kapetanovic Rodrigues, que mora no Rio de Janeiro desde 2015.
Em Sarajevo, endereço do mais longo cerco a uma cidade na história das guerras modernas, as aulas para as crianças eram improvisadas em abrigos e a vida noturna, em bares subterrâneos; sessões de cinema eram garantidas por um gerador e teve até um concurso de beleza clandestino, o Miss Sarajevo, sob violentos ataques do lado de fora.
Até Bruce Dickinson se apresentaria em uma cidade isolada por inimigos, no show histórico de 1994. A ousadia do ex-vocalista da banda Iron Maiden lhe renderia, em 2019, o título de "cidadão honorário de Sarajevo".
Durante a guerra, Sarajevo tinha as melhores festas do mundo. As pessoas queriam viver ao máximo porque poderia não ter amanhã", diz Leila.
Para a guia de turismo bósnia Amela Memic, o aniversário de 25 anos do fim da guerra, celebrado no último dia 14 de dezembro, foi apenas mais um ano. "Sinceramente, acabo de saber disso. São coisas que a gente não se dá conta, a guerra já passou".