A rainha do Norte

A cantora Joelma conta quais são os melhores lugares, festas e as delícias de sua região

Gabriela Teixeira colaboração para Nossa Arte UOL

No carimbadíssimo passaporte, ela é Joelma da Silva Mendes. Mas o nome que a fez viajar tanto é mais curto e tem um aposto glamoroso: Joelma, a rainha do Pará. Cantando os ritmos típicos da sua região, como o brega e o carimbó, a artista que ficou famosa como vocalista da Banda Calypso hoje faz uma brilhante carreira solo. Cantando, já foi a vários países da Europa, da África e Américas. Mas não só: desbravou o Brasil profundo, principalmente a sua região.

Curadora convidada para apresentar o Norte na temporada Brasileiro: olhares sobre os sabores, saberes e belezas do nosso país, aqui Joelma nos conta suas descobertas. Essa história começa na pequenina Almeirim, onde nasceu e passou a infância, no norte paraense.

Eu era um passarinho fora da gaiola. Explorava a mata, jogava futebol na rua, pescava"

Para o desespero de sua mãe, a moleca fazia do rio Amazonas, que corta a cidade, sua piscina particular. "Ela dizia para eu não ir, achava perigoso. Porque o rio é muito grande, em algumas partes a água é violenta. Mas criança não tem noção do perigo. Então eu fugia todo dia. E todo dia levava uma surra", ri.

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Segue a letra

"As pessoas sempre me dizem que, quando vão para Belém, lembram dos pontos turísticos que coloquei na música", conta, referindo-se a "Voando pro Pará". Pudera! A canção é praticamente um guia de pontos indispensáveis para conhecer a capital.

A primeira parada não poderia ser outra senão o Ver-o-Peso (foto acima). Patrimônio histórico, o local abriga mercados de carnes, peixes, especiarias e artesanatos que, muito antes do raiar do dia, já fervilham com o ir e vir dos comerciantes e seus fregueses em busca de ingredientes frescos.

Saindo de lá, é hora de partir para a Estação das Docas (foto abaixo). A seis minutos de caminhada do Ver-o-Peso, o complexo é dividido em boulevards de artes, gastronomia e exposições. Além de comer bem, quem vai até lá tem ainda a chance de apreciar apresentações musicais e, caso a visita seja ao entardecer, um pôr do sol digno de cartão postal.

Vale ainda dar um pulinho no Forte do Presépio e no Parque Mangal das Garças. O primeiro, erguido para a defesa de Belém durante sua fundação, hoje possui um museu que ajuda a contar a história da cidade. Já o segundo é um paraíso verde nas redondezas do centro histórico, com atrações como borboletário, viveiro, orquidário e um farol de onde se pode ver toda a capital.

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Sabor de saudade

Para Joelma, uma das coisas mais duras da vida fora do Pará é ficar longe da culinária. "É difícil de se acostumar. Comigo aconteceu aos pouquinhos, mas um rapaz que fazia parte da nossa banda, por exemplo, decidiu sair porque não conseguia ficar sem açaí", revela.

O açaí, aliás, costuma ser o campeão na escala de saudade. Embora seja popular em todo Brasil, o alimento dificilmente é servido em outras partes do país do mesmo modo como o paraense costuma consumi-lo diariamente: sem açúcar e acompanhado de farinha de mandioca.

É como se ele fosse o nosso feijão. Na verdade, nós até nos sentimos meio ofendidos quando colocam coisas como banana e granola"

Outro prato que tem um lugar especial no coração da cantora é o peixe tambaqui. Já os turistas, conta, normalmente preferem o filhote (ou piraíba) por sua textura que derrete na boca. "Uma boa costela dele assada na brasa é maravilhosa. Em alguns restaurantes, dá para encontrá-lo frito também."

E tem ainda a pupunha, fruta de leve sabor adocicado e da mesma palmeira de onde é extraído o palmito homônimo. "Cozinhamos com um pouquinho de sal e comemos com café preto e farinha. É um costume típico do interiorano mesmo", conta.

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Fraternos rivais

Mais que vizinhos, o Amazonas e o Pará podem ser considerados irmãos. Além de serem os maiores estados da região (e do país), os dois compartilham diversos traços culturais, por vezes sendo quase espelhos um do outro. Se, em Belém, por exemplo, há o imponente Theatro da Paz, Manaus não fica para trás e orgulha-se de ter o Teatro Amazonas (foto acima) como um de seus principais símbolos culturais e arquitetônicos.

Na canção "Gigantes do Norte", Joelma exalta as semelhanças dos dois estados, suas belezas e o povo forte.

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Gigantes aqui do norte
Estância de um povo forte
Eu amo Amazonas e o Pará
Sou toda marajoara
E a beleza das mangueiras
Não me canso de olhar
É garantido e caprichoso
Tudo aqui
Museu do índio rio Amazonas, Tucupi
Rio Negro e Solimões
Vão sempre encantar"

"Fizemos um carimbó que combina as culturas, pontos turísticos do Pará e do Amazonas. Ficou uma mistura muito legal".

Por causa dos incêndios na floresta amazônica, a canção acabou não ganhando um clipe na época de seu lançamento, em 2019, mas o projeto deve ser retomado em breve.

Daniel Nunes Gonçalves/UOL Daniel Nunes Gonçalves/UOL

Festa de encantos

Como canta na música, entre as grandezas do Amazonas, está a maior festa da região: o Festival de Parintins. Realizado no último final de semana de junho, o evento atrai todos os anos uma profusão de turistas para a cidade ribeirinha. Durante três dias, as ruas se pintam de duas cores: o vermelho do boi Garantido e o azul do Caprichoso.

Mais acirrada que certas partidas de futebol, a disputa entre os bois-bumbá pelo prêmio principal se converteu, com o passar dos anos, em um espetáculo grandioso, que enaltece o folclore da região, marcado pelas tradições indígenas. Alegorias, dançarinos e músicos sacodem o Bumbódromo em apresentações que não perdem em nada para o Carnaval do Rio de Janeiro ou as paradas de festivais americanos.

Joelma, que conheceu o evento após fazer um show em Parintins bem na véspera, ainda se lembra com clareza do encanto que experimentou na ocasião.

Há uma magia no ar. Magia dos sons dos tambores, das roupas, da floresta. A sensação é de estar dentro de um filme. É preciso viver aquele momento para entender, é especial demais."

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Oásis equatoriais

Na margem de outro rio, o Tapajós, está Alter do Chão (foto acima). A praia de água doce é um tesouro do município de Santarém. Chamado de "Caribe amazônico", o lugar já chegou a desbancar Fernando de Noronha em uma lista das melhores praias brasileiras publicada pelo site do jornal The Guardian.

Paradisíaca, a vila atrai mais turistas entre agosto e dezembro, quando a estação seca faz as águas dos rios baixarem, revelando diversas faixas de areia branca. Fato é que, seja nas praias mais movimentadas, como a popular Ilha do Amor, ou nas quase desertas, como a do Icuxi, vai ser difícil não se apaixonar pela beleza de Alter do Chão.

Daniel Ribeiro/UOL

Para quem busca calmaria, Joelma aconselha: "Vai pra Algodoal! É um paraíso para ficar sozinho, comer bem e ainda ter contato com a natureza." Acessada apenas de barcos que partem do porto de Marudá e sem circulação de carros, a vila é modesta, aconchegante e a garantia de férias tranquilas.

De volta à capital Belém, vale atravessar o rio Guamá até a Ilha do Combu, onde estão localizados excelentes restaurantes ribeirinhos. A ilha é famosa pela produção de cacau. Não dá para ir embora sem provar.

BRASILEIRO

Olhares sobre os sabores, belezas e saberes de nosso país

Esta reportagem faz parte da temporada Brasileiro, de Nossa, uma série de conteúdos especiais que, durante três meses, abordam temas relacionados às regiões do país. Ela é dividida em cinco ciclos, cada um com um curador que atua como editor especial de Nossa na seleção dos temas, personagens e criadores da temporada. Teresa Cristina foi a responsável pelo ciclo sobre o Sudeste. A atriz Tainá Müller assumiu o posto para o Sul do Brasil. O chef Paulo Machado desbravou o Centro-Oeste com a gente. Agora, Joelma apresenta a região Norte.

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