"Hoje eu tenho um pacote pra entregar", dizia sorrateiramente e com certa frequência o bartender Derivan de Souza aos colegas no fim do expediente no bar. Não se tratava de nenhuma atividade escusa, muamba ou mumunha. O código secreto avisava que determinado cliente, bêbado como gambá, não tinha condições de dirigir de volta para casa.
Derivan colocava o embrulho num táxi, acompanhava-o até o Hotel Jaraguá e colocava-o para dormir. Telefonava para a esposa do desacordado, avisando que estava tudo bem. Não raro ouvia como resposta, do outro lado da linha: "Derivan, você é um anjo".
Entregue o pacote, havia tempo para uma saideira nos bares que ainda estivessem abertos, circuito que não terminava antes das 5 da manhã. Podia dar um pulo na Toca da Angélica, no Boi na Brasa, no Bar das Putas (hoje batizado oficialmente como Sujinho), dançar um samba puladinho no Garitão Danças ou um forró sacudido na Rua das Palmeiras, "onde era preciso se acostumar ao mormaço humano".