Céu multicor
"Olha pro céu, meu amor, vê como ele está lindo. Olha praquele balão multicor, como no céu vai sumindo". Basta fechar os olhos e cantarolar, baixinho, a música de Luiz Gonzaga — um clássico do repertório do Rei do Baião — para a cantora, multi-instrumentista e atriz Lucy Alves ser transportada, de imediato, de seu apartamento do Rio de Janeiro para a pequena Itaporanga, no sertão da Paraíba.
Se respirar fundo, pode até sentir o cheiro de milho assado na fogueira — e os olhos arderem por causa da fumaça que alcança as bandeirinhas coloridas, penduradas de um poste a outro da rua. "Foi numa noite, igual a esta, que tu me deste o teu coração. O céu estava assim em festa pois era noite de São João", diz a segunda estrofe da música.
As lembranças das noites de São João chegaram junto com o mês de junho. O vestido cheio de babados, em estampa xadrez, obra de sua avó materna, exímia costureira; o chapéu de palha com duas trancinhas embutidas; as bochechas rosadas com blush quase vermelho; as sardinhas caprichosamente pintadas com lápis preto para os olhos; o fuzuê da meninada a correr de um lado para o outro com um milho assado numa mão, um estalinho na outra.
"Desde que nasci, vejo o São João na rua", comenta, cabelos amarrados no topo da cabeça, casaquinho preto de mangas compridas e pernas de fora, como entrega a câmera do seu celular — nesta entrevista, pelo zoom, ela se remexe na cadeira com rodinhas, apoia as mãos no joelho, leva às mãos para o alto. "Sou muito inquieta", define-se.