Chefs como você nunca viu
Nossa revela os bastidores do livro em que o fotógrafo Paulo Vitale mostrou as estrelas da gastronomia em ângulos inéditos e inusitados
Nossa revela os bastidores do livro em que o fotógrafo Paulo Vitale mostrou as estrelas da gastronomia em ângulos inéditos e inusitados
Fotos e vídeos: Paulo Vitale
Texto: Flávia G Pinho, em colaboração para Nossa
Imagine pendurar Paulo Yoller em um gancho de açougue. Ou pedir que Oscar Bosch pose com um polvo cru sobre a cabeça. Essas são apenas algumas das maluquices que o fotógrafo Paulo Vitale propôs a 51 chefs — o mais incrível é que todos toparam sem pestanejar.
O ensaio fotográfico, que se prolongou por quase cinco anos e já vinha sendo exibido nas redes sociais de Vitale, acaba de virar o livro "Chefs", lançado pela Editora Brasileira.
Para chegar ao tema de cada foto, Vitale mergulhou fundo na biografia, nas criações e nas redes sociais de cada chef, para captar detalhes de seu temperamento.
Quem folheia o livro e se encanta com as fotos não imagina como Vitale, seu assistente e fiel escudeiro, Alexandre Teixeira, e, claro, os chefs, suaram a camisa em cada sessão. Por outro lado, os bastidores revelam os grandes nomes da gastronomia em uma descontração às vezes inédita.
Exemplo disso é o catarinense Alysson Muller, enrolado em uma rede de pesca, reproduzindo o sorriso tresloucado de Jack Nicholson em "O Iluminado". E o que falar sobre a desenvoltura do francês Emmanuel Bassoleil entoando "La Marseillaise", o hino da França, enquanto empunhava uma baguete?
Já o carioca Pedro Siqueira, do restaurante italiano Puro, leva um belo banho de molho de tomate — cena, aliás, repetida várias vezes até o clique perfeito.
Retratar um chef especializado em carnes, como se fosse uma peça em um açougue, era o objetivo do fotógrafo. Coube ao assistente Alexandre executar um nó especial que aguentasse o peso de Yoller sem risco de um tombo. "Ele não aguentava mais de alguns segundos e logo pedia para descer."
A imagem lembra a de um duende. Deitado sobre o fundo de lona, o chef do restaurante Dom permaneceu imóvel por duas horas, enquanto o fotógrafo, inspirado pela obra do italiano Giuseppe Arcimboldo, compunha uma nova barba feita de minúsculas folhas. "Quis mostrar sua conexão com a terra, com os alimentos orgânicos. O Alex é tão fora da curva, respeita tanto a liberdade criativa, que nem pediu para ver como a foto tinha ficado antes da publicação."
Um Salvador Dalí franco-brasileiro: essa foi a forma que Vitale escolheu para fotografar o chef-celebridade, jurado do MasterChef. No lugar dos indefectíveis bigodes projetados para o alto, duas pimentas saindo diretamente da boca de Jacquin, famoso por sempre dizer o que pensa. "Dalí e Jacquin representam essa fusão entre o elemento técnico e a irreverência", teoriza o fotógrafo.
"Quis mostrá-lo como um caçador primordial. O Rodolfo teve muita coragem". Assim Vitale descreve a foto em que Santis aparece com um cordeiro morto nos braços. As pessoas querem comer, mas preferem não ver de onde vem a comida. É uma infantilização. Eu e ele recebemos uma enxurrada de críticas", admite. Pela complexidade da produção, a foto não aconteceu no estúdio, mas no próprio restaurante de Santis, o Nino — difícil foi suportar o cheiro do animal, que empesteou o ambiente.
Especializado na cozinha amazônica e um dos participantes do "Iron Chef Brasil" (Netflix), o chef posou com um enorme pirarucu nos braços. Chegou ao estúdio levando o peixe em uma caixa de isopor gigante, sem saber o que o aguardava. "Para criar mais tensão, fiz o Alexandre jogar baldes d'água no Felipe. Ele ficou encharcado, não tinha roupa seca para trocar e foi embora molhado mesmo, de Uber."
A sobreposição de fotos foi o truque de Vitale para exibir o toque de Vanessa, chef à frente do Bistrot Parigi: um chapéu comprido dos profissionais da cozinha literalmente em chamas. "Ela posou primeiro de dólmã. Depois, fotografei o chapéu pegando fogo". No fim das contas, conta Vitale, Vanessa foi corajosa o suficiente para encarar as labaredas no alto da cabeça, ainda que por poucos segundos.
Quem chegou à casa dos 40 anos deve se lembrar do ator Kevin Kline comendo peixinhos de aquário vivos no filme "Um Peixe Chamado Wanda", de 1988. A cena serviu de inspiração para Vitale clicar o famoso sushiman mordendo um peixe cru cortado ao meio.
Um dos maiores craques do país no manuseio do atum, o chef que comanda o Quina do Futuro, em Pernambuco, aparece na foto ao lado de um Yellowfin do seu tamanho — e que teve que ser sustentado por uma corda puxada por quatro pessoas."Assim que eles levantaram o atum, caiu uma bola de sangue no chão", relembra Vitale.
Publicado em 15 de setembro de 2022.
Reportagem: Flávia G Pinho
Edição: Juliana Simon
Imagens: Paulo Vitale
Design: Suellen Lima