Entre as cenas que mais chocaram o ecólogo Douglas Trent, um dos profissionais do Programa Bichos do Pantanal, foi ver onças com as patas completamente queimadas, tamanduás com os pelos em chamas e animais como capivaras sem opção de alimento por conta do fogo na mata.
"Isso me deixa sem palavras, toca o coração da gente", descreve esse estadunidense do Novo México, no Brasil desde 1980.
Embora nos últimos anos tenha ocorrido aumento na população de animais no Pantanal, como onças e araras-azuis, Trent alerta que o desmatamento ainda é o principal inimigo da região, cuja perda já é de 25%.
"A natureza tem uma forte capacidade de se regenerar, mas se a região continuar secando, em breve não vai ter mais Pantanal. E se virar deserto, não tem mais turismo", prevê esse especialista em ciência ambiental e em projetos ecoturísticos.
Assim como ele mesmo lembra, via dados da ONG WWF-Brasil, o turismo de natureza no destino gera cerca de 7 milhões de dólares por ano, sobretudo por conta da popularidade da região entre turistas estrangeiros.
"A pandemia e os incêndios trouxeram um desastre econômico para todos. As pousadas não têm clientes", explica Trent.
Além dos custos mais elevados da viagem, o ecólogo acredita que a ausência de brasileiros se dá devido ao pouco interesse dos turistas nacionais pela região. "Há uma desconexão quase total com a natureza. Os brasileiros querem ir mais para a Disney e para ca Europa do que virem para o Pantanal", analisa.
Outro projeto que tem atuado sem descanso durante as queimadas é a Aecopan (Associação Civil de Ecoturismo no Pantanal Norte), formada por guias, pousadeiros e operadores de turismo.
Nas últimas semanas, essa brigada voluntária tem feito limpeza de áreas atingidas, organização de equipamentos e execução dos aceiros, como são conhecidas as faixas criadas pelo homem, ao redor da vegetação, a fim de bloquear a propagação do fogo.