Que alterações o Airbnb fez para se adaptar à crise atual?
Durante uma crise (e a que estamos vivendo é a mais grave da história recente), o que define uma empresa é a sua capacidade de adaptação. O Airbnb nasceu durante a crise imobiliária de 2008 e, ao longo de 12 anos, foi se transformando porque conseguimos perceber as mudanças no comportamento do consumidor. Com a pandemia não está sendo diferente. Começamos a observar um movimento no final de janeiro na China. Depois, foi a vez da Coreia do Sul. Quando o coronavírus chegou à Itália, decidimos que era hora de rever o foco da empresa. Logo no começo, estabelecemos uma nova política de cancelamento para evitar que as pessoas viajassem e pudessem ficar em quarentena.
Depois, mobilizamos rapidamente a empresa para lançar dois produtos diretamente vinculados ao contexto de pandemia: as experiências on-line (por sugestão da própria comunidade de anfitriões de experiências) e estadias de longa duração. Essa última foi uma grande tendência em termos de demanda. Observamos um grande número de pessoas alugando imóveis da mesma cidade em que vive para passar a quarentena.
Em São Paulo e outros grandes centros do Brasil, tivemos um aumento de 34% em abril e 42% em maio (em relação ao ano passado) na procura de imóveis de mais de três quartos. Ou seja, de famílias saindo das suas casas para ficar em quarentena em um espaço maior.
Quais são as apostas do Airbnb, em termos de tipos e destinos de viagens, para um futuro próximo?
Estamos de olho no que está acontecendo nos Estados Unidos e na Europa, especialmente em países que já estão no processo de reabertura, como Itália, França, Espanha e Alemanha, e conseguimos detectar três tendências. A primeira é viajar para destinos domésticos ultra locais, ou seja, a um máximo de 300 quilômetros de distância, aos quais as pessoas podem chegar confortavelmente de carro. Quanto mais próximo, maior a demanda.
Na Europa, isso até pode incluir ir de um país ao outro, uma vez que as distâncias são curtas. Já nos Estados Unidos, a procura de destinos próximos aos grandes centros, como Nova York, Chicago e Los Angeles, cresceu entre 45% e 60% em relação ao último ano.
No Brasil, a gente já começa a observar os primeiros sinais de intenção de viagem, não em reservas, já que estamos em meio à pandemia, mas em número de buscas. A procura por cidades próximas de São Paulo, como Atibaia, Sorocaba e São José dos Campos, triplicou com relação ao ano passado.
Aí eu já entro na segunda tendência, que é o turismo descentralizado, fora das cidades grandes. As pessoas estão buscando menos contato. Então, faz todo sentido sair de casa, pegar o carro, ir para uma cidade menor, entrar em uma casa do Airbnb com toda infraestrutura e passar o fim de semana. A terceira grande tendência que a gente observa é, claro, protocolos de limpeza e higienização como parte da tomada de decisão.
O que disso vai se perpetuar no momento pós-pandemia?
Uma vez que as pessoas comecem a explorar novos destinos, essas mudanças vão se perpetuar no sentido da descentralização do turismo. Não acho que deixarão de sonhar em ir a lugares como Paris, Disney, Londres e Barcelona, mas as viagens internacionais serão as últimas retomadas, já que envolvem grandes deslocamentos aéreos.