Aos poucos, o cais de Port Canaveral desaparece no horizonte e o oceano se torna um novo palco para a magia. Estou a bordo do Disney Treasure, o mais novo navio da frota Disney Cruise Line, com a infortuna missão de achar resposta para a pergunta que todos fazem sobre um cruzeiro 'do Mickey': vale tanto quanto ir aos parques temáticos?

Comparar um navio da Disney com as experiências no Magic Kindgom, EPCOT, Hollywood Studios e cia, antecipo, é um exercício quase tão desafiador quanto decidir entre as disputadas montanhas-russas de Guardiões da Galáxia, de Tron ou de Star Wars.

Uma coisa é certa: diferente da agitação dos parques, onde cada minuto parece cronometrado entre filas, fast pass (o fura-fila dos brinquedos) e horários de shows, o ritmo no cruzeiro é outro e a imersão nos mundos encantados da marca ganha uma nova dimensão.

O mais especial de embarcar em um cruzeiro Disney é se aproximar das histórias de forma diferente de como ocorre em qualquer parque temático. O navio proporciona uma experiência mais íntima com as histórias" Cinthia Douglas, brasileira à frente do setor de vendas e marketing da Disney Destinations

Você não terá que esperar até o fim da reportagem para saber meu veredito após dias navegando no Treasure. Digo já, quase saindo pela tangente: são duas formas de viver a mesma magia. Mas como eles fizeram para adaptá-la ao compasso das marés? Isso você descobre a seguir.

No final da rampa de acesso ao navio Treasure, um funcionário pergunta seu nome. Não é uma checagem de dados. Segundos depois você descobre a razão. "Welcome, family Burckhardt!", anuncia no sistema de som o mestre de cerimônias.

Sob aplausos dos tripulantes e acenos do Mickey vestido de capitão, a recepção personalizada acalora o coração de todos que embarcam no cruzeiro — sim, esta cena se repetirá para cada grupo familiar dos 4 mil passageiros que comporta o Treasure.

São pequenos gestos que elevam à máxima potência no navio uma frase clássica do Walt Disney: "Não há mágica na mágica, tudo está nos detalhes".

Durante a estadia você percebe isso, desde aquele anúncio individualizado na entrada da embarcação ao mimo de encontrar toalhas dobradas em formatos divertidos quando retorna ao quarto ou ser chamado pelo nome pelo garçom nas refeições — será o mesmo que te acompanhará durante todo o cruzeiro, ao nível de, no decorrer dos dias, já antecipar suas preferências.

Confesso que não estava preparado para o que estava por vir quando as luzes do Walt Disney Theatre apagaram para o início de "Tales of Moana", o espetáculo que faz sua grande estreia no Disney Treasure.

Em 60 minutos, os olhos cismam em não acreditar nos efeitos especiais, trocas de palco num passe de mágica, projeções que te colocam inserido numa vila polinésia e até bolinhas de sabão que voam sobre a plateia e explodem em fumaça ao cair sobre nossas cabeças.

E nem falei do ponto alto deste espetáculo que conta a saga da heroína Disney desde criança — num bem-bolado recurso de marionete que dá vida à pequena Moana — até se unir ao semideus Maui e salvar seu povo.

Na luta da heroína contra o gigante de lava Te kã, o vilão ganha vida por um fantoche de 4,5 metros de altura — o maior já utilizado em um show da Disney — que se transforma no palco, a olhos vistos, em Te Fiti, a deusa da natureza — tem um spoiler dessa transformação no vídeo acima.

"Tale of Moana" tem humor, surpresas e emoção (daquelas que leva às lágrimas, mesmo). É um show — no mais puro significado da palavra.

Bem-vindo ao México! Esta é a sensação que você começa a ter assim que, do nada, vira uma esquina do navio e dá de cara com um corredor de cores vibrantes, lanternas penduradas e bandeirinhas do Día de Los Muertos, a mais tradicional festa mexicana.

Esse é só o prelúdio do que está por vir. Ao entrar no Plaza de Coco, o primeiro restaurante da Disney inspirado na animação "Viva - a vida é uma festa", você realmente tem a impressão de ser transportado para Santa Cecilia, a cidade do personagem Miguel e sua família.

Tudo é perfeito, das luzinhas penduradas como em uma pracinha do interior e cartazes envelhecidos anunciando lucha libre a um altar típico da festiva homenagem que os mexicanos fazem a seus muertos.

O próprio diretor do filme, Lee Unkrich, corrobora essa visão. Em uma entrevista que tivemos com ele dentro do Treasure, mencionou:

É incrível nos mínimos detalhes o que fizeram aqui. Certamente os hóspedes vão aprender muito sobre a cultura mexicana e serem envolvidos por ela"

No ambiente, o aroma de especiarias e milho tostado paira no ar, enquanto o som dos violões mariachi preenche o espaço preparando o palco para uma experiência que vai além do paladar.

No Plaza de Coco, o menu que reinventa clássicos mexicanos é embalado por dois shows ao vivo. O primeiro é uma festa ao som de mariachis. Na segunda noite, tal como no filme, o além-vida ganha cores e ritmos, com esqueletos dançantes e homenagens aos antepassados.

A porta se abre e o mundo real fica para trás. O Disney's Oceaneer Club, a área exclusiva para crianças de 3 a 12 anos no Disney Treasure, é um convite à imaginação. Enquanto os pais exploram outras áreas do navio, os filhos se perdem — no melhor sentido possível — entre princesas, super-heróis e galáxias distantes. Veja as principais áreas:

Você entra, se acomoda em uma confortável poltrona de couro e pede seu drinque. Até aí, tudo ok. De repente, relampejos e trovões mudam o ambiente, as luzes começam a piscar e uma série de fenômenos sobrenaturais passam a acontecer.

As imagens nos quadros começam a "derreter" na sua frente, cobras surgem na cabeça de uma senhora na parede — tal qual uma Medusa —, o aquário no centro do bar é tomado por peixes fantasmas e o espelho atrás do balcão é povoado por assombrações dançando uma valsa fúnebre.

Novos raios e trovões... e tudo volta ao normal — até a próxima "aparição".

É impressionante ver ao vivo — ou nem tão vivo, no caso — e a cores o que acontece no Haunted Mansion Parlor, o bar do navio inspirado na Mansão Mal-Assombrada, icônica atração dos parques da Disney.

Utilizando técnicas de holografia e efeitos especiais, o "mistério" ocorre a dois palmos da gente e não há quem resista a quase meter o nariz nos quadros para entender o "fenômeno sobrenatural" — eu também tentei, mas, sem sucesso, deixei na conta da magia da Disney mesmo.

Roteiros

O Disney Treasure oferece roteiros de 7 dias pelo Caribe Leste e Oeste, passando por lugares como Cozumel (México), George Town (Ilhas Cayman), Falmouth (Jamaica), St. Thomas (Ilhas Virgens Americanas), Tortola (Ilhas Virgens Britânicas) e San Juan (Porto Rico). A cereja do bolo é a parada na Castaway Cay, a ilha privativa da Disney nas Bahamas, com praias azulzinhas, tobogã no mar, snorkel e muito mais.

Alimentação

Há uma rotação para o jantar entre os restaurantes temáticos citados nessa reportagem. Como eles se repetem no seu cronograma durante a semana, o menu e as atrações mudam de uma noite para a outra. Além deles, há durante todo o dia um restaurante livre no formato buffet, com diversas opções — de frutos do mar a cozinha italiana —, e locais de comidas rápidas no deque da piscina. Todos esses estão incluídos no pacote — exceto bebidas alcoólicas. Quer algo mais exclusivo? Há outros restaurantes, do especializado em carnes ao assinado por chef Michelin. Estes são cobrados à parte.

Diversão

O pacote dá direito a todos os shows e atrações citados na reportagem, aos cinemas (são dois no navio), aos espaços infantis e para adolescentes — sim, há muitos ambientes dedicados só a eles, com salas de jogos e de vídeo e locais de convivência — e à infinidade de programas disponíveis para preencher sua agenda no navio — de stand up comedy às festas silenciosas (com todos dançando com fones de ouvido individuais).

Quanto vale

Em uma cotação para uma família de 4 pessoas (dois adultos e duas crianças pequenas), no site oficial da Disney Cruise Lines, entre as saídas que acontecem até o final de 2025 encontramos o pacote de 7 dias a partir de R$ 44.809 em cabine interna, R$ 50.540 em cabine com varanda e R$ 110.379 na categoria concierge — as mais luxuosas, com serviços especiais e espaços exclusivos.