Viciados em magia

As histórias de brasileiros que viveram, desde a década de 1970, os 50 anos do Walt Disney World Resort

Glau Gasparetto Divulgação

Clichê dos clichês, não há outra palavra além de "magia" para definir tão bem o que é o Walt Disney World Resort. Não a magia do pozinho da Tinker Bell, parceira de Peter Pan, ou de Elsa, a Rainha da Neve, obviamente.

É que viver a experiência imaginada pelo sonhador Walter Elias Disney, nascido no início dos anos 1900, é como entrar num mundo paralelo e esquecer todos os problemas da vida real no lado de fora, tal qual um passe de mágica.

Embora seu criador já vivesse um grande sucesso com o estúdio de animação e a Disneyland, na Califórnia, foi só em 1º de outubro de 1971 que o mundo conheceria tamanha força de entretenimento: o Walt Disney World Resort, em Orlando, na Flórida. E foi lá onde uma região pantanosa se transformou num complexo cheio de magia.

E lá se vão cinco décadas de expansão que se transformaram em quatro parques temáticos, parques aquáticos, hotéis, restaurantes, teatros e centros de compras, que recebem cerca de 52 milhões de visitantes ao ano (dado de 2015).

De todas as milhares de histórias que nascem lá, selecionamos algumas de brasileiros que passaram por lá nas últimas cinco décadas.

Um ímã de excursões para adolescentes

Foi na fase inicial do Walt Disney World Resort que a empresária paulista Claudia Venessi, 60 anos, fez sua primeira viagem a Orlando. "Foi em julho de 1976. Viajei para México e Estados Unidos com a Stella Barros Turismo. Na época, tinha apenas 14 anos e o mundo de Walt Disney estava estourando aqui no Brasil", lembra.

Fã dos gibis de Mickey e seus amigos, comuns nos anos 70, e de filmes como Mogli, A Dama e o Vagabundo e Cinderela, Claudia lembra de ter se divertido na Space Mountain e se encantado com It's a Small World, além do desfile com todos os personagens e a tradicional queima de fogos no fim da noite.

"Comparado aos nossos parques, o Magic Kingdom era bem diferente, com inúmeras atrações. Era muito bem cuidado, decorado e com efeitos impressionantes para a época, fora todas as guloseimas tamanho gigante que havia", detalha.

Claudia retornou a Orlando aos 27 anos. "Foi uma experiência bem diferente. Algumas atrações já não existiam e nosso maior interesse era nos novos parques, com apelos não tão infantis. Mesmo assim, nos divertimos muito", afirma.

Quarenta visitas à Disney e 2 mil itens colecionados

O designer gráfico Flavio Raphael Trambusti, 52 anos, de São Paulo, foi pela primeira vez à Disney de Orlando quando tinha 12 anos. Era 1981 e ele estava acompanhado pelos pais e o irmão. À época, só o Magic Kingdom funcionava. "Naquele tempo as filas já eram grandes, principalmente nas atrações mais clássicas".

Na lembrança estão Os Piratas do Caribe e a Mansão Mal-Assombrada, graças aos efeitos que ambas têm até hoje. "Lembro que havia muita interação com personagens, que circulavam pelo parque. Havia inúmeros shows também", comenta ele, que já era fã de tudo que envolve Walt Disney World.

Antes mesmo de visitar a Flórida, Flavio colecionava itens referentes a esse universo, hábito que mantém até hoje. "Minha coleção começou em 1975 com as historinhas Disney que vinham com disco e um livro, guardadas até hoje e que são o que mais valorizo. Tenho pelúcias, bonecos, livros, filmes, jogos, souvenirs. Ainda não contabilizei tudo, pois é muita coisa", reconhece, mas a estimativa é que existam mais de 2.000 itens em sua casa.

Flavio, que já visitou mais de 40 vezes os parques da Disney, também fez intercâmbios de trabalho em 2000 e 2001, no Magic Kingdom e Epcot, respectivamente, e ainda contribuiu com a produção de "A Princesa e o Sapo" (2009).

"Foi um sonho realizado. O filme foi produzido em Burbank (Califórnia), Canadá e São Paulo, simultaneamente. Trabalhei com finalização de pintura e traço. Eu limpava o desenho e pintava no computador", descreve.

De geração em geração

O criador de conteúdo e especialista em milhas aéreas Andre Strauss, 47 anos, de Curitiba, pisou no Walt Disney Resort pela primeira vez em fevereiro de 1993. De lá para cá, já soma quase 15 visitas só a Orlando. O encantamento que ele e a esposa Ana têm pelos parques passou aos filhos.

"Fui aos 18 anos com meus pais e irmão. Nos emocionamos muito quando chegamos ao Magic Kingdom. Parecia que estávamos entrando em um outro mundo mesmo, um mundo mágico. Até hoje me emociono ao entrar nesse parque", afirma.

A família fez questão de aproveitar cada minutinho, já que não sabia se conseguiria voltar. "Fomos até na atração do Dumbo, que é para crianças pequenas. Na verdade, naqueles dias, todos nós voltamos a ser crianças pequenas!", pondera.

Na viagem, também conheceram o Epcot e o Hollywood Studios. "Era um dos mais esperados por mim. Até hoje, Tower of Terror é uma das minhas atrações preferidas", cita ele, que sempre assistia ao "Clube do Mickey" — exibido pela TV Tupi e, depois, pelo SBT — e assinava revistinhas e gibis, elementos que despertaram o desejo de visitar os parques.

Dentre as tantas experiências que Andre viveu na Disney, uma das que marcaram a família aconteceu em 2016. Alice, a filha com então 5 anos, fez sua transformação em princesa Elsa na Bibbidi Bobbidi Boutique — serviço ainda suspenso em decorrência da pandemia.

"Ela realmente incorporou o personagem: saiu pelo parque sorrindo, acenando e tirando foto com as pessoas. Fomos abordados por um cast member, que disse que nosso jantar seria por conta da Disney, pois a 'Little Elsa' estava se comportando como uma princesa de verdade, fazendo o dia daquelas pessoas mágico e merecia este pequeno agrado'. Existe algum outro lugar na Terra que isso possa acontecer?", questiona.

Trabalhar na Disney: uma experiência de bastidores

No mesmo ano, pouco antes de se formar na faculdade, a empreendedora Janaína Demarque, 36 anos, de Itapevi, trocou a capital paulista por Orlando durante três meses para participar do Walt Disney World International College Programs.

"Meu objetivo era treinar meu inglês, pois havia acabado de me formar. Vi ali uma oportunidade de viajar, conhecer a Disney e trabalhar. Eu nunca havia saído do Brasil até então", diz ela, sobre a experiência aos 20 anos de idade.

A princípio, Janaína escolheu trabalhar como personagem, mas pediu para trocar de função, já que não podia interagir verbalmente com os visitantes (e exercitar seu inglês). "Fui realocada para o restaurante Tusker House, no Animal Kingdom, e lá fiquei até o final. Fiz de tudo: atendimento no balcão, limpeza do salão e mesas, tirava lixo. Havia rodízio de funções", cita.

Como o parque fechava mais cedo, ela conseguia fazer "bicos" em outros pontos do resort. Também pôde se divertir nos parques que funcionavam até mais tarde, com o cartão de acesso livre de cast member.

"Na minha visão, eu conheci a Disney da melhor maneira possível, pois também tive acesso aos bastidores, o que me fez entender por que as pessoas vão repetidas vezes para lá", argumenta.

Vinte anos falando de Disney

Como trabalho de conclusão do curso de informática, o hoje assessor de imprensa Léo Francisco, 35 anos, precisava criar um site. Fã de Walt Disney World e consumidor de tudo o que envolvia a companhia, no início da década de 2000 ele criou um projeto dedicado a falar sobre as produções do estúdio, batizado de 'Planeta Disney'.

"Foi o primeiro site exclusivamente sobre o tema no Brasil. Completo agora 20 anos escrevendo sobre Disney. Apesar de o site nunca ter trazido retorno financeiro, sempre fiz por amor e pelo prazer de trazer novidades e um pouco de magia dos filmes e das animações para os leitores e os fãs, como eu", comenta ele. Em 2013, o blog foi renomeado para 'Cadê o Léo?', mas sempre com espaço especial reservado para WDW.

Mas foi só no fim de 2015 que o jornalista cultural foi conhecer os parques, aos 28 anos.

"A festa de Halloween do Mickey foi uma das noites mais insanas da minha vida. Já a festa de Natal foi encantadora. Foi demais ver o Magic Kingdom todo decorado; rolou até neve artificial. Foi muito fofo!", lembra. Léo conheceu todos os parques e conferiu todas as atrações e shows possíveis.

"No último dia, voltamos para o Magic Kingdom. Deixamos para a ocasião as atrações mais clássicas, como as da Tomorrowland, do "Piratas do Caribe". Também realizei meu sonho de entrar no Castelo da Fera (restaurante Be Our Guest), conhecer e tirar foto com o anfitrião e jantar na sala principal. "Para mim, que amo o desenho, foi uma noite incrível e fechou com chave de ouro a viagem", comenta.

Walt Disney: dos desenhos aos parques icônicos

Walter Elias Disney nasceu em 5 de dezembro de 1901, em Chicago. Passou a infância numa granja em Missouri, ao lado dos pais, três irmãos e uma irmã. Aos 7 anos, comercializava os desenhos que fazia com os vizinhos. Quando a família voltou para a cidade grande, desenvolveu ainda mais sua habilidade com traços e fotografias na escola.

A vida profissional começou aos 19, como desenhista, criando seus desenhos animados. Aos 27, lançou seu primeiro curta-metragem ("Steamboat Willie"), estrelado pelo já conhecido Mickey Mouse. Sua carreira só se solidificou. Walt viu mais de 80 filmes serem feitos por seus estúdios de animação. Nos anos 1950, O Clube do Mickey e Zorro também eram populares programas na TV.

Seu primeiro parque temático, a Disneyland, em Anaheim, pertinho de Los Angeles, foi inaugurado em julho de 1955. Doze anos depois, o Magic Kingdom começou a ser erguido, mas Walt não acompanhou sua construção. Ele morreu em 15 de dezembro de 1966, vítima de um câncer pulmonar.

O irmão Roy O. Disney assumiu o chamado "Projeto Flórida", a fim de concluir o sonho do caçula famoso. Roy morreu em 20 de dezembro de 1971, logo após finalizar o legado de Walter Elias Disney, eternizado Walt Disney.

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