ícone de verão

Biscoito Globo: como um quitute saiu de uma padaria de SP para ganhar fama internacional no Rio

Biscoitando na praia

Frequentadores das praias do Rio de Janeiro não têm dúvidas: o biscoitinho crocante de polvilho ativa nas papilas gustativas o sabor que remete ao relax de verão — ou, quando se está preso no trânsito e um ambulante se aproxima do carro com a oferta, é o gosto que alivia o estresse

Naquele ano, os irmãos Milton e João Ponce inventaram a receita em uma padaria no Ipiranga, chamada (ironia das ironias) Record. Em 1955, decidiram tentar emplacar o produto no Rio

Todos os dias, 150 mil biscoitos Globo são produzidos, feitos de polvilho azedo, gordura de coco, leite, ovos, água e sal – ou açúcar, na versão doce. O símbolo carioca foi inventado em 1953, veja só, em uma padaria de São Paulo

Segundo conta Ana Beatriz Manier no livro Ó, o Globo! - A História de um biscoito, a decisão foi motivada por um evento: o 36º Congresso Eucarístico Internacional, que ocorreria no Rio, deveria receber 1,2 milhão de pessoas

Os irmãos Ponce levaram 2,5 mil pacotes do quitute para o congresso – venderam tudo em dois dias. Voltaram a São Paulo para buscar mais 5 mil. Foi um sucesso. Tanto que eles se animaram a transferir a produção para o Rio 

No começo, os pitéus eram chamados de “biscoitos paulistas”. Aos poucos, contudo, pegou mesmo o nome da padaria de cujos fornos eles saíam, no bairro de Botafogo. Daí o biscoito Globo

A tradicional embalagem, que traz desenhos do Pão de Açúcar e das torres Eiffel, de Pisa e de Belém, foi concebida por um português que trabalhava na Cia. Jorge Mendes de Papéis e Artefatos, em Olaria

A embalagem também se tornou uma peça icônica do design brasileiro, diz o desenhista industrial Marcelo Oliveira, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Virou inspiração para quadro, canga, ecobag e até Havaianas (que fez chinelos do clássico combo biscoito Globo + chá Matte Leão)

Oliveira lembra que um dos segredos do sucesso inicial do produto foi o “canal de venda” encontrado pelos inventores do quitute. “Estourou pela distribuição. Foi uma grande sacada: eles chegavam nos moleques de praia para que esses vendessem”, diz

 “O biscoito Globo se tornou importante pelo aspecto lúdico. Está ligado ao Rio de Janeiro na memória gastronômica e também na visual”, analisa Beto Cocenza, especialista em marketing e curador do BoomSPDesign: Fórum Internacional de Arquitetura, Design e Arte

Hoje, o petisco não se limita às praias do Rio. É encontrado em boteco descolado da Vila Madalena em São Paulo e servido em festas que querem imprimir um clima de verão e fustigar memórias de momentos felizes dos convivas

Desde 2012, o biscoito e seus vendedores ambulantes são reconhecidos como patrimônio cultural do Rio. Na pandemia, pela primeira vez a fábrica precisou desacelerar a produção devido às quarentenas. Com a reabertura, basta pisar na areia para ouvir ao longe um “ó, o Globo, bixcoito e mate gelado...” de novo 

Imagens: Edison Veiga, iStock, Nathana Rebouças/Unsplash, Marcos Paulo Prado/Unsplash, Kim Badawi/The New York Times, Divulgação

Design: Carol Malavolta

Reportagem: Edison Veiga

Edição: Juliana Sayuri e
Eduardo Burckhardt

Publicado em 05 de fevereiro de 2022