Por Roberto Maxwell

Viagem

Ryokan 2.0

Passamos um dia no Hoshinoya Tokyo, uma hospedaria que combina tradições do século 8 com o que há de mais moderno na arquitetura e gastronomia no Japão

O centro financeiro de Tóquio é conhecido pelos arranha-céus, muitos deles construídos nas últimas duas décadas, parte de um projeto de recuperação urbana. Um dos prédios mais elegantes é, na verdade, um tipo de hospedagem que ninguém espera encontrar numa área tão urbanizada

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Trata-se do Hoshinoya, um ryokan (lê-se com “r” brando, como em “cara”), uma espécie de pousada típica japonesa, reinventado como resort. Criados no século 8, os ryokan são frequentemente considerados a mais antiga forma de hospedagem comercial da história humana

Mais comuns no interior, os ryokan têm quartos com piso no estilo tatame, feito tradicionalmente com palha entrelaçada e ainda comum nas casas japonesas. Relaxantes casas de banho e experiências gastronômicas também fazem parte do serviço

Tudo isso embalado em atendimento de altíssimo nível, mesmo para o já alto padrão japonês. É o “omotenashi”, o modo japonês de ser hospitaleiro, em que um bom anfitrião é aquele que prevê as necessidades do seu convidado

O Hoshinoya leva toda a tradição do ryokan a um novo patamar. O projeto da acomodação é assinado pela arquiteta Rie Azuma que optou por levar o aconchego do tatame para além dos quartos. Dos corredores ao elevador, todo o chão é revestido com o piso

A madeira, normalmente reservada aos pisos e madeiras do ryokan tradicional, não ficou de fora. Janelas, entradas dos quartos de canto e revestimentos diversos levam o material, usado com elegância para trazer conforto visual para os hóspedes

Nos quartos, as janelas em vidro não podem ser abertas, o que não é o problema já que a temperatura e a umidade são cuidadosamente controladas nos ambientes. O vidro é sobreposto por janelas de correr revestidas com papel washi branco e translúcido

As grades externas são inspiradas nos komon, tipos de quimono cuja estampa é indistinguível quando se vê de longe mas forma belos desenhos geométricos vista de perto. Com a luz do sol, as formas da grade se projetam na tela formando um delicado espetáculo de sombras

Com 83 m2, o Kiku (crisântemo, em japonês) é o maior tipo de quarto do Hoshinoya. Decorado com minimalismo, ele tem um futon de casal adaptado, confortável e bem grosso, a alguns centímetros do piso, uma experiência um pouco diferente da oferecida tradicionalmente.

Todo o resto do quarto é ocidental, com mesa, cadeiras, escrivaninha, home theatre e um walk-in closet. O Kiku é o quarto ideal para casal viajando com uma criança. Ele comporta até 3 pessoas

Todos os andares com quartos contam com um Ochanoma Lounge, uma sala de chá contemporânea e aconchegante, com bebidas e aperitivos à disposição. Os hóspedes são convidados a usar o espaço para ler, trabalhar ou conhecer pessoas

O 17° andar é reservado para os banhos de águas termais, separados por gênero. Rica em sódio e iodo, a água é extraída de poços a 1.500 metros de profundidade. Uma parte do banho coletivo fica a céu aberto, debaixo de uma espécie de torre

Além do café da manhã, que é servido privativamente no quarto, o ryokan abriga o Nippon Cuisine, um restaurante capitaneado pelo premiado Noriyuki Hamada

Fortemente influenciado pela cozinha francesa, o chef exibe suas raízes através dos ingredientes bem japoneses, em especial frutos do mar, que ocupam um espaço central em sua cozinha autoral

O Hoshinoya também quer funcionar como um centro de propagação da cultura japonesa. Atividades como a cerimônia do chá, a apreciação do incenso e o kenjutsu (luta com espadas) são oferecidas aos hóspedes diariamente

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Com elegância, refinamento e minimalismo, o Hoshinoya oferece uma experiência tradicional japonesa de olho no futuro e nos viajantes internacionais com dinheiro no bolso

Edição: Juliana Sayuri, Eduardo Burckhardt e Juliana Simon

Reportagem: Roberto Maxwell

Imagens: Hoshino Resorts/Divulgação e Roberto Maxwell

Publicado em 08 de agosto de 2021