história

A rota do chá

Por Mirela Mazzola
Visitamos a região que abriga campos
de 'Camellia sinensis' e as mais antigas
casas especializadas do Japão

Renata Miwa

Quioto, a província da antiga capital do Japão, até hoje abriga casas centenárias de chá. O cultivo da Camellia sinensis, a planta com a qual se faz o famoso chá verde, conta um pedaço da história do país

O chá, que contém cafeína, taninos e
L-teanina, um aminoácido com propriedades relaxantes, se tornou tendência mundial no mercado de nutrição e bem-estar. Mas, na Ásia, a história é muito mais antiga

As primeiras sementes de Camellia sinensis foram trazidas da China por um monge zen e plantadas no jardim do templo Kosan-ji, a 15 km ao norte de Quioto, no fim do século 12

Até hoje florescem arbustos no templo, declarado patrimônio mundial em 1994

De Kosan-ji, mudas de chá foram levadas à pequena cidade de Uji, a 30 km, onde floresceram as mais antigas casas de chá do Japão. De lá, as sementes se espalharam depois por todo o arquipélago

Entrecortada por rios, a região de Uji tem
solo fértil com topografia em declive, favoráveis para o cultivo da planta. A cultura do chá também prosperou ali pela proximidade com a nobreza da época, instalada na cidade de Quioto

Hoje, o chá de Uji vem da região produtora de Wazuka, onde é possível percorrer os campos de Camellia sinensis em roteiros de bicicleta

Entre as duas estações de trem presentes em Uji enfileiram-se lojas centenárias de chá. A mais antiga é a Tsuen Chaya. Fundada por um samurai em 1160, ela passou por 24 gerações e hoje está nas mãos de Yūsuke Tsuen

Yūsuke Tsuen

Um erro comum entre iniciantes é se empolgar, comprar pacotes e armazená-los abertos por muito tempo. Também é importante prestar atenção na embalagem: o bom fabricante se preocupa em dar instruções de temperatura da água e tempo de infusão”

Entre os tipos de bebidas extraídas da planta estão o matchá (em pó, o mais pop), o hōjicha (feito a partir da torra de folhas maduras), o sencha (com folhas intermediárias), o genmaicha (misturado a arroz marrom torrado) e o gyokuro (com folhas jovens)

O gyokuro é considerado mais nobre, pois as delicadas folhas são cobertas pouco antes da colheita para inibir a fotossíntese e liberar um rico sabor “umami” – na Tsuen Chaya, 30g custam 2.700 ienes (cerca de R$ 124)

Umami é o chamado “quinto gosto”, o que vem além do doce, salgado, ácido e amargo. Foi descoberto pelo químico japonês Kikunae Ikeda. Tem o nome científico de glutamato monossódico, que também está presente em alimentos como tomate e queijo

Além de chás, a casa serve doces, sorvete e até lámen à base de matchá – as novas receitas, diz Yūsuke, são uma forma de diversificar o cardápio de quase 900 anos. Na casa dos 40 e pai de 4 filhos, ele espera que um deles assuma o negócio da família

As casas de chá de Uji não são endereços de cerimônia do chá. Isto é, elas não promovem um tipo de ritual. São como lojas convencionais, com um salão simples onde são servidos bebidas e doces

Edição: Juliana Sayuri e Eduardo Burckhardt

Direção de arte: Carol Malavolta e Rene Cardillo

Ilustrações: Renata Miwa

Reportagem: Mirela Mazzola

Imagens: Mirela Mazzola e Tsuen Chaya/Divulgação

Publicado em 05 de agosto de 2021