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Joias arquitetônicas da antiguidade marcam paisagem de Segóvia, na Espanha

Fellipe Fernandes

Do UOL, em Segóvia

31/07/2013 08h01

À primeira vista, Segóvia pode não ser aquela cidade que o visitante espera encontrar, ainda mais se lhe acontecer o mesmo que se passou comigo quando lá estive: o tempo fechar e chover, além de ter que disputar filas e espaços debaixo de chuva com turistas vindos de todas as partes do mundo. Mas, muitas vezes, trata-se apenas de uma impressão equivocada. Mesmo porque não é culpa da cidade que cerca de 500 mil pessoas queiram conhecê-la anualmente, faça sol ou não.

Digamos que, a princípio, cada um desse meio milhão é um impulso que se dá à Segóvia para renovar sua glória. Localizada a 87 quilômetros de Madrid, na parte meridional da província de Castilha e León, fincada ao pé da serra de Guadarrama, a cidade anda necessitada de turistas, seja ele de que tipo for e em que condição meteorológica vier. Segundo o relatório do Observatório Socioeconômico do governo local, o número de pessoas que visita à cidade em estância maior que dois dias caiu cerca de 21% em comparação com os números de 2010, enquanto que aqueles que vêm à Segóvia para visitas de um dia aumentou 13%.

  • Fellipe Fernandes/UOL

    O aqueduto de Segóvia é considerado uma das principais obras de engenharia da Espanha

“Dado o contexto econômico atual, podemos dizer que são cifras boas”, comenta o diretor do Observatório, Juan Antonio Folgado. Para ele, existem dois grandes motivos para que as pessoas visitem à cidade: a riqueza monumental e histórica e a gastronomia local, e apenas um para que não permaneçam nela: Segóvia é uma espécie de ponto de parada para quem viaja a outros destinos. “Estamos muito próximos de outros atrativos como Ávila, Salamanca e Burgos, além, é claro, de estarmos a um pulo de Madrid”, diz Juan Antonio, que também crê que “quem viaja a esses lugares se programa para conhecer Segóvia num roteiro curto, que envolve uma ou duas cidades a mais”.

Não deixa de ser curioso que a cidade, fundada originalmente pelos celtas no século VII a.C., depois conquistada pelos gregos até ser dominada pelos romanos e reconquistada pelos Reis Católicos na Idade Média, continue mantendo a característica de ser um ponto de apoio para o viajante. No chamado Século de Ouro espanhol, durante o reinado de Fernando II e Isabel I, dado o caráter itinerante do reino no processo de unificação espanhol, o lugar já cumpria tal função. “As cidades se converteram, naquela época, em bases para que os reis e soldados pudessem se recompor depois das batalhas, enquanto o reino ia ganhando os contornos que conhecemos hoje”, explica ele.

Aliás, tal peculiaridade, segundo Juan Antonio, é o que tem mantido a cidade viva com o passar dos anos. Inúmeras pessoas de diferentes cultuas e interesses que invadem as ruelas da cidade todos os dias dão impulso ao comércio dinâmico, aos restaurantes funcionando mesmo em baixa temporada e aos monumentos históricos do lugar.

Isso sem contar os peregrinos que escolhem fazer o Caminho de Santiago que parte de Madrid e passa pela cidade. Não é um dos trajetos mais populares, mas está à disposição daquele que queira se encontrar espiritualmente (e Segóvia os acolhe de braços abertos).

Com que gasta um turista?

Se você vem de trem desde Madrid, o primeiro gasto que você fará na cidade será de 90 centavos de euro pelo preço de uma passagem de ônibus (em táxi, dez euros) que vai lhe levar desde a estação – longe à beça do centro – ao monumento mais importante de Segóvia: o grande aqueduto, imponente em seus dois mil anos de idade, 28 metros de altura, em plena Plaza del Azoguejo, o ponto de encontro efervescente do turismo na cidade, rodeada por lojas, restaurantes e um grande centro de apoio ao visitante (com informações gratuitas e souvenires oficiais à um preço, digamos, também oficial).

  • Fellipe Fernandes/UOL

    As muralhas de Segóvia são um testemunho do poderio que a cidade teve durante séculos

O aqueduto, construído pelos romanos para o abastecimento da cidade do século I d.C., é considerado uma das obras de engenharia civil mais importantes do país - e também uma das mais bem conservadas. É tão representativo para o povo de Segóvia que figura no escudo da cidade e foi um dos pontos fortes observados pela Unesco para conceder à cidade, em 1985, o título de Patrimônio da Humanidade.

Outros monumentos que pesaram para a concessão do título foram o conjunto de igrejas, muitas em estilo românico, representado pela Catedral de Santa Maria, construída em estilo gótico tardio a partir do ano de 1525, cuja entrada custa cinco euros, e o Alcázar, um palácio/fortaleza com origens que remontam ao princípio do século XII, rodeado por um fosso profundíssimo e cravado no alto de um monte, de cara para o abismo.

Além de forte militar, o palácio serviu de residência para os reis castelhanos, inclusive para uma jovem Isabel que dali saiu no dia 13 de dezembro de 1474 para ser coroada rainha na Plaza Mayor da cidade e se converter num dos personagens mais decisivos da história da Espanha e do mundo: a mulher que unificou o país e financiou as expedições de Cristóvão Colombo que o levaram ao descobrimento das Américas. A entrada no Alcázar custa cinco euros, e com acréscimo de dois euros o visitante pode subir à torre e admirar a confluência dos rios Eresma e Clamores.

A gastronomia local, apontada por Juan Antonio como um dos grandes atrativos para o turismo na cidade, fica representada pelos assados que, por serem típicos em toda Castilha, em Segóvia ganham um atrativo a mais nos cordeiros, especialidade da região. Outros coadjuvantes como a sopa de alho e os embutidos de porco têm grandes saídas também. Por uma refeição com menu degustação, acompanhada de um bom vinho local, pão e sobremesa, o visitante desembolsará, em média, 20 euros por pessoa, e ainda poderá ganhar de brinde uma das lembranças que não imaginava ter quando, ao desembarcar, tudo parecia propício a dar errado.