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Estação de esqui de Portillo tem paisagens de ficção e clima de isolamento

Marcel Vincenti

Do UOL, em Portillo (Chile)*

03/09/2013 07h25

A paisagem poderia fazer parte de alguma história de J.R.R. Tolkien, o famoso criador de “O Senhor dos Anéis”: ao redor de uma lagoa congelada ergue-se uma cadeia de montanhas nevadas e pontiagudas, com encostas íngremes e cumes que chegam a atingir mais de cinco mil metros de altura. Mesmo com o frio negativo, o sol se faz presente e dá ao local uma iluminação de cinema. 

A exemplo dos personagens de Tolkien, os frequentadores desse lugar estão em busca de aventura. São quase todos amantes de esportes de neve que, experientes ou não, chegam ao destino para praticar esqui ou snowboard. E, mais do que isso, buscam fazê-lo sob uma constante sensação de isolamento.

Localizada a cerca de duas horas da cidade de Santiago, no Chile, a estação de esqui de Portillo chega a receber sete mil hóspedes a cada temporada de neve, que começa no final de junho e vai até o começo de outubro. Mesmo assim, consegue preservar uma aura de destino intocado. Diferentemente de outros centros de esqui sul-americanos, como Bariloche, o lugar não oferece centros comerciais movimentados com restaurantes, bares, shoppings e milhares de transeuntes.

  • Turistas utilizam meio de elevação de Portillo para chegar até o popular restaurante Tio Bob´s

Na paisagem de Portillo os destaques são um dos trechos mais belos da Cordilheira dos Andes, 34 pistas de esqui, três estabelecimentos hoteleiros, uma área com jacuzzis e piscina aquecida e um restaurante localizado no alto de uma montanha. E pouco mais que isso. “Os turistas escolhem Portillo porque sabem que aqui podem se desligar do mundo e dedicar-se unicamente a admirar nossas paisagens e a se divertir na neve”, conta Alejandro Goich, gerente do resort. “Somos como um navio de cruzeiro encravado no meio das montanhas, do qual o hóspede não precisa sair durante sua estadia”.

Rotina de aventura

A rotina desse mundo à parte oferece muita aventura e pouco estresse para os hóspedes. De manhã, esquiadores com pouca experiência (incluindo crianças) se reúnem ao redor de instrutores para melhorar suas técnicas sobre a neve. Para eles, há em Portillo pelo menos 15 pistas classificadas como “fáceis” e “intermediárias”, cujas descidas não são tão íngremes e os trajetos, pouco sinuosos (mas que oferecem emoção – e algumas quedas – para seus usuários).

Esqui de helicóptero

Portillo também pode ser desbravada de helicóptero. Na estação, os turistas têm a chance de contratar voos que proporcionam visão para marcos como o “Cristo Redentor” (na fronteira entre Chile e Argentina), o Parque Andino Juncal e o Aconcágua, a maior montanha das Américas, com 6.960 metros de altura. Esquiadores experientes, por sua vez, podem usar o helicóptero para atingir pontos isolados de Portillo e, de lá, descer por pistas exclusivas até a base da estação. A brincadeira, porém, não é barata: um voo turístico de 20 minutos chega a custar US$ 950 (preço que pode ser dividido entre cinco pessoas).

Entre esses percursos, os mais usados pelos aprendizes são o “Corralito” e o “La Princesa”, com 78 metros e 131 metros de extensão, respectivamente. Já a “Bajada del Tren” é indicada para intermediários, que atravessam um antigo túnel ferroviário no trajeto.

Os esquiadores e snowboarders mais experientes, por sua vez, têm à sua disposição uma série de pistas para testar suas habilidades. Ao cume da maioria delas se chega a bordo de teléfericos (ao todo, são 14 meios de elevação em Portillo) que passam sobre as montanhas nevadas que cercam a estação, em percursos que são uma atração à parte. 

A paisagem que se vê lá de cima abrange a lindíssima Laguna del Inca (a lagoa congelada com superfície de 4 km² que se destaca na paisagem de Portillo) e até as montanhas que marcam a fronteira entre Chile e Argentina. Para descer, os caminhos mais radicais são o “Roca Jack”, o “Las Vizcachas” e “El Caracara”. A pista mais comprida do lugar tem 2465 metros de extensão.

Ver pessoas com muletas e tipoias é algo normal em Portillo: as equipes médicas da estação sempre estão carregando alguém que se machucou enquanto esquiava. Mas o perigo oferecido pelo esporte não parece assustar os viajantes que pagam um valor alto para desfrutar dessas aventuras: geralmente, o hóspede não pode ficar menos que sete dias nos hotéis de Portillo.

  • Marcel Vincenti/UOL

    Turistas almoçam no Tio Bob´s, restaurante que fica em um dos pontos mais altos de Portillo

O pacote principal custa a partir de US$ 1950 para adultos (crianças e adolescentes pagam menos) e inclui hospedagem de uma semana no Hotel Portillo (o principal hotel do resort, com 125 apartamentos e espaços como piscinas e academia), acesso às pistas e quatro refeições por dia. Os equipamentos de esqui devem ser alugados à parte: por uma semana, um kit adulto com esquis, botas e bastões custa US$ 265.

Quem quiser economizar, porém, pode ser hospedar no alojamento Octagon, que tem 16 apartamentos e pacotes semanais a partir de US$ 1300 por pessoa, ou no albergue Inca, muito procurado por mochileiros, que abriga 26 quartos recheados de beliches e banheiros compartilhados (e tem pacotes semanais a partir de 860 dólares). Portillo também tem cinco chalés que podem ser alugados pelos turistas: para ficar uma semana em um desses alojamentos, que atendem com conforto até oito pessoas, é necessário pagar a partir de US$ 4950 pelo aluguel do local.

Piscina e montanha

Portillo também oferece opções de lazer para quem está cansado de esquiar. Um passeio imperdível no local é a subida de teleférico até o topo da montanha em que está o Tio Bob´s, um restaurante a 3200 metros sobre o nível do mar que oferece comida informal e uma vista espetacular da região que cerca a estação (os esquiadores mais experientes também podem fazer o roteiro e descer lá de cima deslizando na neve).

Se o cansaço bater, porém, a melhor pedida é passar algumas horas na área da piscina e jacuzzis aquecidas que fica bem em frente ao Hotel Portillo. A imagem do lugar é curiosa: na água, os hóspedes curtem o sol sem camisa e com cervejas na mão, criando imagens típicas de verão no meio das montanhas nevadas da estação de esqui.

  • Marcel Vincenti/UOL

    Turista percorre uma das 34 pistas de esqui que podem ser encontradas em Portillo, no Chile

As jacuzzis também são um ótimo lugar para curar os efeitos de uma noitada: semanalmente, Portillo abriga festas animadas que atravessam a madrugada. Elas geralmente são realizadas dentro do bar e da discoteca do Hotel Portillo, com música ao vivo e bebidas de preços altíssimos (uma long neck chega a custar R$ 15). Mas, se o hóspede quiser economizar (e se divertir mais), vale a pena ir a uma das festas promovidas pelos funcionários da estação no bar La Posada, em que a animação é maior e as bebidas, bem mais em conta.

O homem-avalanche de Portillo

  • O norte-americano Frank Coffay, 54 anos, passou toda a sua vida nas montanhas. Fez escaladas no Himalaia, foi instrutor de esqui no Alasca e, atualmente, ainda vive boa parte do ano na região das Rocky Mountains, no Colorado. Durante o inverno sul-americano, ele viaja a Portillo para desempenhar uma função curiosa: provocar avalanches nas encostas que cercam a estação. “Meu trabalho é essencial para a segurança de Portillo”, diz ele. “Tenho que analisar o nível da neve que cobre as montanhas da estação e, se identificar algum risco de deslizamento, realizar explosões que gerem avalanches seguras, impedindo acidentes futuros”. Um dos métodos usados por Coffay é subir em um helicóptero e, do ar, jogar um artefato explosivo sobre a área que tem potencial para gerar avalanches. Ele também vai a pé ou de esqui aos locais que sofrerão a intervenção. O americano conta que, no Alasca, chegou a ser soterrado por uma avalanche enquanto esquiava, acidente que não o traumatizou. “Faz parte da emoção de viver nas alturas”, diz ele.

DICAS DE VIAGEM

  • Antes de ir a Portillo, faça um seguro viagem. Acidentes nas pistas de esqui são comuns e um simples primeiro atendimento no ambulatório da estação pode custar mais de 100 dólares. 
  • Neste ano, Portillo funcionará até o dia 5 de outubro. Com a temporada chegando ao fim, os preços dentro da estação de esqui tendem a ficar mais baixos. Ou seja, é um bom momento para viajar até lá.
  • A maneira mais prática de chegar a Portillo é com o transfer operado pela estação de esqui: o serviço de ida e volta entre o aeroporto de Santiago e Portillo custa 430 dólares em um veículo para quatro pessoas.
  • Na viagem ao Chile, compre passagens aéreas com possibilidade de cancelamento. É comum que nevascas súbitas impeçam os hóspedes de deixar Portillo e façam com que eles percam seus voos.
  • Para curtir as jacuzzis e a piscina aquecida de Portillo, vá ao local antes das 16h, quando o sol ainda está presente e há pouca gente na água. 
  • TAM e LAN são duas das principais companhias que operam voos para a capital chilena. Juntas, as empresas realizam oito voos diários (ida e volta) na rota São Paulo/Guarulhos – Santiago e dois voos diários na rota Rio de Janeiro/Galeão – Santiago. As tarifas custam a partir de US$ 269 para voos partindo de São Paulo e US$ 289 do Rio de Janeiro. Estes valores não incluem taxas e estão sujeitos a disponibilidade de assentos.
  • Pessoas hospedadas em outros lugares do Chile podem pagar para passar o dia esquiando em Portillo. O ingresso para adultos entre 18 e 64 anos custa a partir de 55 dólares. O preço não inclui os equipamentos: um kit de esqui completo pode ser alugado por 39 dólares.

*O jornalista Marcel Vincenti viajou ao Chile a convite da estação de esqui de Portillo e da companhia aérea TAM.