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Cidade de Milão, na Itália, ganha novas hamburguerias

Ratha Tep

New York Times Syndicate

19/10/2013 09h07

Em uma bela tarde de domingo, há algumas semanas, testemunhei um fluxo contínuo de clientes entrando em um espaço com paredes de tijolinhos vermelhos para pegar os hambúrgueres gigantescos que haviam pedido antes de puxarem um banquinho em algum canto do restaurante. A cena poderia ter acontecido no Brooklyn ou em Boise, principalmente porque havia uma bandeira norte-americana gigantesca na entrada -- mas era no 202 Hamburger & Delicious, no Corso di Porta Ticinese, uma rua de compras em Milão.

E ela é apenas uma das várias hamburguerias que se espalharam pela cidade do norte da Itália nos últimos anos, graças à fascinação com a comida "confortável" dos EUA e a casualidade nela implícita -- ou seja, o oposto da refeição italiana, que é demorada, tradicional e elaborada. O mais interessante é que essas novas casas utilizam ingredientes de primeira -- italianos, obviamente -- e, com isso, os resultados são cópias idênticas das melhores versões do outro lado do Atlântico, mas com um sotaque italiano, oferecendo um toque de ambas as gastronomias.

"Milão é mais internacional comparada a outras cidades italianas e o pessoal está começando a abandonar aquela tradição de comer sempre dois pratos", explica Tizzy Beck, dona da Tizzy's N.Y. Bar & Grill. "Além disso, está percebendo que o fast-food não tem que necessariamente ser junk food se utilizar bons ingredientes".

  • Dave Yoder/The New York Times

    Hamburguerias descoladas são opção para quem busca uma refeição rápida em Milão

No 202 Hamburger & Delicious (Corso di Porta Ticinese, 6; 39-02-8366-0635; 202hamburger.com) não é só o ambiente, mas os hambúrgueres, deliciosos, que poderiam passar por norte-americanos -- e são resultado de uma viagem de descoberta e degustação a Nova York dos dois donos, Roberto Caramia e Ivan Totaro.

"Cada dia a gente comia um hambúrguer diferente", conta Caramia.

Beniamino Nespor e Eugenio Roncoroni, amigos desde a adolescência, já passaram pela cozinha de alguns dos melhores restaurantes do mundo -- Nespor no Restaurante Martín Berasategui, no País Basco, Roncoroni no Quince de San Francisco -- antes de abrirem o Al Mercato Ristorante & Burger Bar (Via Sant'Eufemia, 16; 39-02-8723-7167; al-mercato.it) em 2011. E os dois conceitos, bem distintos, estão sempre em jogo dos dois lados da cozinha envidraçada. Em um deles, os clientes do Al Mercato Ristorante são convidados a participar de uma experiência mais formal, com a opção do cardápio degustação de dez pratos; já no Burger Bar a refeição é mais casual, pois oferece hambúrgueres feitos com carne da Rossa Reggiana e outras comidas de rua como tostada de barriga de porco.

"Comer hambúrguer é divertido, faz uma bagunça danada", diz Nespor. "Não tem nada a ver com aquela coisa de sentar com a família durante duas horas e meia, quando a coisa começa a embaçar".

Outras opções

Mesmo os grupos maiores parecem ter ficado fascinados com o hambúrguer. A Sebeto, uma cadeia napolitana conhecida pela pizzaria Rossopomodoro -- que os nova-iorquinos conhecem graças à filial no empório Eataly -- resolveu apostar no sanduíche em 2011, inaugurando a Ham Holy Burger (Via Palermo, 15; 39-02-875-510; hamholyburger.com).

"Depois de tantos anos investindo na pizza, começamos a buscar outra opção que fosse 'comida mundial'", conta Franco Manna, um dos fundadores do grupo.

Cheguei a ver, em um domingo de abril, pais e filhos, bem vestidos, passeando pelo bairro de Brera, a caminho de um restaurante bem arejado, onde os hambúrgueres são preparados com carne de Fassone, da região do Piemonte. Entre os acompanhamentos, o presunto curado speck, queijo scamorza defumado e radicchio grelhado. E o conceito parece estar fazendo sucesso: a segunda Ham Holy Burger abriu em maio de 2012 em Roma e a terceira no bairro milanês de Marghera, em novembro.

Antes de pararem num dos bares barulhentos ao longo dos canais do bairro de Navigli, os jovens param no Trita Tailor Made Burgers (Piazza XXIV Maggio, 6; não tem telefone; trita.it), casa alegre e funcional aberta em março de 2012 por três amigos: Riccardo Cortese, Federico Pinna e Alessandro Dalli. A diferença aqui é que no cardápio há também a opção Bufalo Campano, de animais de um ano e três meses de idade. Pelos janelões da cozinha é possível ver o pessoal cortando os nacos de carne para passar pelo moedor e preparar os hambúrgueres à mão.

Outro grupo de investidores pretende abrir o Polpa no bairro Porta Romana ainda este ano.

A algumas quadras dali, os hipsters se reúnem no Tizzy's, que abriu em 2011 (Alzaia Naviglio Grande, 46; 39-02-5811-8227; tizzysbarandgrill.com) e usa a carne moída e preparada por um açougue artesanal, como explica Beck, nova-iorquina da gema, mas é acompanhada de produtos bem norte-americanos, como o queijo Cheddar, as sobremesas tipo banana split e a cerveja Brooklyn Brewery.

Contando com a experiência de frequentar lugares como o Shake Shack e o Little Owl em sua cidade natal, Beck não precisou fazer nenhuma viagem de pesquisa gastronômica.

"Sou uma nova-iorquina fazendo aquilo que conheço bem", resume ela.