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Conheça estabelecimentos de Roma que não colaboram com a máfia

Amanda Ruggeri

New York Times Syndicate

15/11/2013 08h01

Embora os maiores grupos da máfia italiana sejam do sul - entre eles a Cosa Nostra da Sicília, a 'Ndrangheta da Calábria e a Camorra de Nápoles - seu controle é exercido em todo o país.

E se estende também a Roma. No início deste ano, um relatório do presidente do Tribunal de Apelações, Giorgio Santacroce, descobriu que as organizações criminosas basicamente dividiram a cidade em áreas sob seu controle - e fazem uso sistemático de estabelecimentos comerciais, incluindo cafés e restaurantes, para lavar dinheiro.

Isso faz com que o turista se sinta um tanto impotente a respeito de um problema tão abrangente e tão arraigado. Segundo a ONU, as maiores organizações mafiosas italianas movimentam 116 bilhões de euros, ou cerca de US$150 bilhões, por ano, mas algumas aberturas aqui e ali agora permitem que tanto viajantes como italianos apoiem a luta contra o crime organizado.

  • A Focacceria San Francesco é um dos estabelecimentos de Roma que não pagam a máfia

Em 2012, uma confeitaria, café e restaurante chamada Antica Focacceria San Francesco abriu sua primeira filial no centro de Roma. Só que a casa é um pouquinho diferente das outras, pois não só serve as especialidades da região da Sicília, incluindo cannoli, arancine e a cassata, como seu dono, Vincenzo Conticello, é visceral e abertamente contra a máfia - que, em 2005, pediu que ele pagasse o "pizzo", a taxa de proteção de milhares de euros, pela sede, que fica em Palermo. "Mais de 75 por cento das lojas de Palermo pagam, mas eu sempre me recusei".

Conticello se recusou a pagar e ainda por cima chamou os carabinieri. As ameaças começaram logo depois: suas mercadorias desapareciam, os carros dos clientes eram danificados e um de seus gatos foi morto. A família do comerciante vivia protegida. "Eu tinha medo - por mim, pela minha família, meu negócio, por tudo". Apesar disso, continuou dando queixa até que a polícia resolveu montar uma investigação; quatro meses e meio depois, o chefe que tinha organizado a extorsão foi preso e condenado.

Desde então a Antica Focacceria só cresceu, abrindo filiais em Milão e no Aeroporto Fiumicino de Roma. Em 2012, Conticello  abriu mais duas casas: o café e restaurante na Piazza della Toretta 38/40, do lado da Piazza di San Lorenzo, em Lucina, o primeiro a abrir no centro histórico de Roma (39-06-68308297; afsf.it; aberto para almoço e jantar de terça a sábado e almoço aos domingos). Os produtos usados pelo estabelecimento são comprados apenas de empresários que também se declararam anti-"pizzo". Muitos pertencem À Libera Terra, uma cooperativa que, através de iniciativas de serviços comunitários, manifestações e eventos, trabalha para conscientizar o mundo sobre o problema do crime organizado.

  • Kathryn Cook/The New York Times

    Garçons preparam produtos da Antica Focacceria de San Francesco, na capital italiana

A segunda Antica Focacceria abriu em novembro passado, também no centro da capital; fica em Trastevere, rio acima a partir de Campo dei Fiori e do Gueto Judaico (Piazza di San Giovanni della Malvi 14; 39-06-5819503).

Libera Terra

É possível comprar produtos da Libera Terra no centro de Roma. A Bottega dei Sapori e dei Saperi della Legalità, loja dedicada a Pio La Torre, um legislador siciliano morto pela máfia em 1982, fica na Via dei Prefetti 23, a cinco minutos de caminhada da Piazza Navona e vende massas, geleias, vinho, azeites e outros produtos cultivados em terras confiscadas da máfia, desde a Sicília ao Piemonte (39-06-69925262; liberaterra.it). "Alguns clientes vêm à loja porque sabem que o que vendemos é orgânico e de alta qualidade", conta o gerente Franco Piersanti, "mas a grande maioria vêm mesmo porque já conhece a Libera Terra". Altromercato, uma loja que trabalha no esquema de comércio justo perto da Piazza del Popolo, também vende itens da Libera Terra (Via di Ripetta 262; altromercato.it).

"Eu sei que muitos preferem pagar o 'pizzo'", diz Conticello, "mas, no longo prazo, acabamos nos tornando escravos da criminalidade. Denunciar a prática deveria ser a regra".

Até que isso aconteça, os turistas que quiserem ajudar podem, pelo menos, comprar alimentos não contaminados pela taxa do medo.