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Monumentos homenageiam soldados nos cem anos da 1ª Guerra, na França

Nancy R. Newhouse

New York Times Syndicate

01/12/2013 08h15

Eu parei às margens dos campos silenciosos que se estendiam até a floresta próxima à cidadezinha francesa de Fère-en-Tardenois, no Vale do Marne. À minha frente erguia-se uma figura monumental e comovente: um soldado norte-americano na Primeira Guerra Mundial carregando um companheiro no campo de batalha. Além dela, pouca coisa: um pedestal com algumas inscrições, um sentimento de perdas passadas e o silêncio.

Um amigo francês já tinha me falado sobre o monumento à Batalha de Croix Rouge e, em abril, quando fui a Paris, resolvi vê-lo pessoalmente. Na verdade, meu objetivo era visitar pelo menos uma pequena parte da região disputada na Primeira e Segunda Batalhas do Marne. Com a aproximação do centenário da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), eu queria ter pelo menos uma vaga ideia do que os soldados norte-americanos passaram, pois foram peças importantes no último ano do conflito. A história dessa única batalha e da criação do memorial foi o meu primeiro vislumbre do drama que foi "a guerra que acabaria com todas as guerras" e o papel que os norte-americanos tiveram nela, do qual eu não sabia muita coisa.

Em 26 de julho de 1918, o 167º Regimento de Infantaria (Alabama), junto com o 168º (Iowa), atacaram posições sólidas mantidas pelos alemães na Batalha de Croix Rouge. Em uma luta acirrada, os norte-americanos sofreram muitas baixas ao avançarem por campos abertos (ao contrário da tática de trincheira típica da época) rumo ao complexo onde ficava a sede da fazenda, extremamente protegido, e aos alemães bem armados escondidos na floresta próxima.

Na investida final, o major John W. Carroll, comandante do Primeiro Batalhão, gritou: "Homens, guardem sua munição! Vamos acabar com eles na base da baioneta!" Um soldado conta que foi "a única batalha disputada no braço" que viu durante a guerra e o general Douglas MacArthur depois elogiou o cavalheirismo dos homens envolvidos.

E eles levaram a melhor nessa disputa pequena, mas intensa, perto do Château-Thierry, a apenas 72 km a leste de Paris, e os alemães recuaram. Ela fez parte da Segunda Batalha do Marne, um teatro enorme de operações dos soldados norte-americanos, que chegavam ao montes à França (250 mil/mês) no último ano da guerra.

Pois o filho de um daqueles homens da Infantaria Alabama criou um monumento impressionante no local para homenagear não só o 167º Regimento como a 42ª Divisão da Infantaria (Arco-Íris) da qual fazia parte ("Arco-Íris" porque era formada por unidades de 26 estados e do Distrito de Columbia). Inaugurado logo após o Dia do Armistício de 2011, bem antes do aniversário da Grande Guerra, durante muito tempo ele foi o sonho de Nimrod T. Frazer, hoje com 80 e poucos anos, de Montgomery, Alabama, cujo pai, o sargento William Johnson Frazer, foi condecorado com a Ordem do Coração Roxo.

O centenário tem uma significado todo especial para a Europa, onde será realizada uma infinidade de eventos. Nos campos de batalha do Marne e do Somme na França e Ypres na Bélgica, além de Galípoli, Sarajevo e os países da Comunidade das Nações, várias cerimônias serão realizadas, a maioria começando em agosto, mês em que a guerra começou. E muitos museus, como o Museu Nacional da Primeira Guerra Mundial do Liberty Memorial, em Kansas City, no Missouri, já organizaram eventos relacionados ao Dia do Armistício (Dia dos Veteranos nos EUA) em novembro. Haverá todo o tipo de exposições e o Museu Imperial de Guerra de Londres vai inaugurar novas galerias sobre o tema em meados de 2014.

  • Thierry Secretan/The New York Times

    Vista do Cemitério Americano e Memorial Aisne-Marne, em Belleau Wood

Na França já aconteceu um ambicioso programa pan-europeu, o La Grande Collecte-Europeana 1914-1918. Em novembro, em 70 pontos de coleta espalhados pelo país, as pessoas podiam levar documentos de guerra pessoais ou de familiares para análise gratuita de arquivistas e especialistas. Parte do material foi digitalizado e já pode ser acessado on-line no Europeana1914-1918.eu.

Na França, as excursões aos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial sempre foram populares (como no Somme, onde muitas são organizadas por operadoras britânicas, uma vez que as tropas do país lutaram principalmente na região) e devem se proliferar durante o centenário. Cerimônias solenes serão realizadas em locais cruciais como Verdun, onde as perdas francesas, em 1916, superaram os 200 mil homens, mas estudiosos e fãs do período no mundo inteiro também estão organizando homenagens. Por exemplo, em Dayton, Ohio, a Liga de Historiadores da Aviação da 1ª Guerra, em parceria com o Museu Nacional da Força Aérea dos EUA, fará um show aéreo com os aviões da época em setembro do ano que vem.

Qualquer pessoa com um parente que lutou, ou mesmo por puro interesse nesse conflito que destruiu praticamente uma geração inteira de homens na Europa e mudou drasticamente sua cultura e moral, se sentirá compelida a rever esses quatro anos extraordinários.

Eu comecei minha visita pelo Château-Thierry - e a viagem de uma hora a partir de Paris não deixou de ser um choque quando constatei como os alemães chegaram perto da capital em 1914 e em 1918.

Apesar de agradável, Château-Thierry é uma cidadezinha comum e o taxista simpático que contratei antecipadamente sabia os melhores caminhos para me levar aos locais que queria ir. Começamos na pequena Igreja Metodista Americana, inaugurada em 1924, que tem uma placa de pedra com os nomes dos mortos em 1917-18 e um vitral em que aparece o Marquês de Lafayette cumprimentando o general John J. Pershing. Parecia irresistível, mas, apesar da placa indicar "aberto", estava tudo fechado: foi o único contratempo da viagem.

Na estrada, já fora da cidade, há um monumento simples à 3ª Divisão de Infantaria dos EUA em ambas as guerras; mais a frente, no topo de uma colina, o impressionante Monumento Americano Aisne-Marne. A imensa construção de pedra é cercada de gramados e plantas; as inscrições em francês e inglês, testemunha da amizade e do valor das forças dos dois países: "O tempo não apagará a glória de seus feitos". Do longo terraço é possível ver o Vale do Marne.

A pouco mais de dez quilômetros a noroeste de Château-Thierry, chegamos ao local da Batalha de Belleau Wood, famosa entre os Fuzileiros Navais norte-americanos. Ali, as forças aliadas enfrentaram os alemães que queriam chegar a Paris e, em seis de junho de 1918, os fuzileiros lançaram o ataque, conquistando a área toda no dia 26. Morreram mais homens naquele dia do que em toda a história da corporação até então.

Depois de uma volta pela área de 80 hectares e admirar a famosa figura de Iron Mike, que representa um fuzileiro em ação, eu me deparei com canhões alemães, placas dos fuzileiros explicando a batalha e, espalhados pela floresta, crateras e buracos. Ainda em Belleau Wood, sob as árvores imponentes do Cemitério Americano e Memorial Aisne-Marne, o horror da guerra ficou bem claro quando me deparei com 2.289 túmulos que ali se encontram. Impecável, o cemitério tem um clima de honra e paz. Dentro da bonita capela, com um campanário ao lado, as paredes trazem os nomes de mais de mil norte-americanos desaparecidos em combate, cujos corpos jamais foram recuperados.

Não muito longe dali, mas a anos-luz de diferença no ambiente, fica o Cemitério Alemão, perto do vilarejo de Belleau. O contraste é extraordinário. Bem cuidado, o espaço é pequeno - e levei um tempo para perceber que havia quatro soldados enterrados sob cada lápide, com nomes de cada lado da cruz alemã. Os túmulos são muito mais próximos uns dos outros; no ossário modesto estão os restos mortais de quatro mil homens. Nenhuma palavra heroica, só um profundo senso de melancolia.

Outro monumento nacional com ares de heroísmo, Les Fantômes, exala grandeza e sensibilidade nas oito figuras gigantescas que se destacam contra o céu, entre elas a de um granadeiro e um artilheiro. Charles de Gaulle esteve ali para celebrar os 50 anos da vitória da Segunda Batalha do Marne. É um local tranquilo no caminho para a cidadezinha de Fère-en-Tardenois.

 

Também visitei outros marcos pequenos, quase pessoais, perto do vilarejo: o chafariz em memória de Quentin Roosevelt (filho de Teddy Roosevelt), a estátua do segundo-tenente Oliver Ames II e a 42ª Divisão Arco-Íris na Fazenda Meurcy e a Igreja Memorial Americana Seringes, todos bem próximos uns dos outros, sendo que esses dois últimos, apesar de ficarem em propriedades particulares, têm acesso livre. Em uma paisagem rural tão sossegada, chega a ser surpreendente, quase inoportuna, a presença de tantas homenagens (uma delas, por exemplo, foi feita em uma rocha de granito). O meu taxista, Penchedez, me contou como as propriedades e aldeias passaram de mão em mão, entre Aliados e alemães, inúmeras vezes, inclusive até no mesmo dia.

Voltamos para Château-Thierry, rumo ao Cemitério Americano e Memorial Oise-Aisne, onde 6.012 soldados estão enterrados, incluindo sete grupos de irmãos. É o segundo maior cemitério norte-americano da Primeira Guerra na Europa (o maior, Meuse-Argonne, fica perto de Verdun), com uma geometria impressionante, os túmulos emoldurados por árvores, flores e um gramado impecável. Joyce Kilmer, morto na Batalha de Ourcq, está enterrado aqui.

Um bom lugar para aprender várias coisas sobre a guerra é o Musée de la Grande Guerre, inaugurado no Dia do Armistício de 2011, em Meaux, a 40 km de trem de Paris. Elegante, o prédio de sete mil metros quadrados foi construído basicamente para conter a enorme coleção de Jean-Pierre Verney, um colecionador apaixonado de elementos bélicos. Ao lado, uma figura imensa de pedra, "Liberty Weeping", doada pelos norte-americanos em 1932 aos "heroicos filhos da França".

O museu não se concentra nas histórias das batalhas, mas sim em objetos e na vida pessoal dos soldados. Fiquei emocionada ao ver a seção de pertences dos homens - não só as armas e máscaras de gás, mas cantis, maços de cigarro, um suporte para o sabonete e a munição cavada na própria trincheira, algumas feitas no formato de mulheres voluptuosas. Lindamente dispostos em todo lugar, os uniformes de ambos os exércitos.

Pôsteres de recrutamento - alemães, franceses, britânicos e norte-americanos (um deles específico para os britânicos solteiros!) - postais e fotos dividem espaços com brinquedos e lembranças. O espaço central, grande e arejado, exibe um tanque de 1917 e um campo móvel para pombos-correios. Há também a recriação de uma trincheira francesa (altamente claustrofóbica) e uma alemã, na sua frente, em um minicenário da terra de ninguém (embora não seja possível retratar a lama que foi o terror das tropas de ambos os lados).

A visita ao museu pode ser combinada com a exploração da área à volta de Château-Thierry. Quem tiver tempo deve seguir até St. Mihiel, onde em setembro de 1918, 500 mil soldados do 1º Exército Americano, com o apoio dos franceses, realizaram uma ofensiva vitoriosa contra os alemães. A luta se estendeu a Côte de Châtillon, seguida logo depois pelo armistício.

Quem quiser voltar a 1916 e a Verdun, que fica pertinho, terá uma visão mais ampla da guerra.

O caminho que vai das ruas movimentadas de Paris à paisagem sossegada da região do Marne contém uma longa história - que será relembrada durante o centenário em homenagem aos jovens norte-americanos que lutaram com os aliados no último ano da guerra.,

Se você for

  • Thierry Secretan/The New York Times

    Escultura de James Butler em Croix Rouge Farm

O passeio que eu descrevi pode ser feito em um dia e meio ou dois, se você incluir o Musée de la Grande Guerre. Custa cerca de 150 euros.

Um livro bom é "Major & Mrs. Holt's Battlefield Guide to Western Front-South" (Pen & Sword Military, edição 2011), que dá descrições e direções precisas e itinerários extremamente bem detalhados.

O site da Comissão Americana de Monumentos de Batalhas, o abmc.gov (ver Cemitério Americano Aisne-Marne e Cemitério Americano e Memorial Oise-Aisne), possui uma cronologia interativa excelente da Primeira Guerra Mundial.

Um relato detalhado da batalha de Croix Rouge, mapas e um site guia da região pode ser encontrado no croixrougefarm.org/visiting. Para informações sobre o Musée de la Grande Guerre, Pays de Meaux, visite museedelagrandeguerre.eu.

Para informações sobre o Museu Nacional da Primeira Guerra Mundial no Liberty Memorial, em Kansas City, no Missouri, visite theworldwar.org.

Entre os sites dedicados ao centenário estão o centenaire.org, com informações sobre projetos, e o centenarynews.com, com notícias e artigos. O europeana1914-1918.eu inclui os relatos pessoais e documentos que estão sendo reunidos para a criação de uma biblioteca europeia on-line.