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Com céu perfeito para observação, Atacama aproxima turista dos planetas

Eduardo Vessoni

Do UOL, em São Pedro do Atacama*

04/12/2013 08h00

Sobre aquele terreno árido de tons alaranjados, dez telescópios estão, estrategicamente, apontados para o céu. Diante das lentes potentes, cruzam estrelas, planetas e nebulosas. De vez em quando, rola até um foguete lançado na China.

A descrição soa como a de alguma obra de ficção científica, mas quando o destino é o deserto do Atacama, qualquer semelhança é, na verdade, puro talento para paisagens de contornos surreais.

Cercado pelas cordilheiras dos Andes e altas montanhas secundárias, eis o cenário que o visitante encontra durante o tour astronômico que acontece diariamente a seis quilômetros ao sul de São Pedro de Atacama, o minúsculo povoado que serve de base para quem visita esta cobiçada região do norte do Chile.

O tour com duas horas e meia de duração está dividido em duas partes. Primeiro, o visitante aprendiz de astrônomo observa o céu a olho nu, conhece em detalhes as características de uma estrela e aprende a ler um mapa do céu.

O grupo até faz cara de interesse e ainda arrisca algumas perguntas inocentes. Mas o que todo mundo quer mesmo é colocar a mão na massa (ou melhor, no telescópio).

Na segunda etapa da visita, é possível ver objetos através das lentes daqueles brinquedinhos caros que a gente só espera encontrar em filmes com personagens aficionados pelo assunto.

Sob o céu do Atacama

Com raras gotas de chuva e mais de 300 noites de céu limpo, o Atacama é considerado um dos melhores lugares do planeta para observação do céu devido a suas condições favoráveis como os mais de 2400 metros de altitude, baixa umidade local e pouca luminosidade artificial.

Nos últimos anos, o Chile tem se tornado líder mundial na área da astronomia. Foi ali que o arrojado projeto ALMA (www.almaobservatory.org) escolheu para instalar seu projeto de observação astronômica em parceria com países da Ásia, Europa e América do Norte.

O maior projeto astronômico da história desta ciência abriga um telescópio com 66 antenas de alta precisão, instalado a 5000 metros de altitude.

Lua, planetas, nebulosas, aglomerados de galáxia, estrelas e estrelas duplas (sim, elas existem e confesso que só fui saber de sua existência depois da visita a este observatório) são algumas das imagens que cruzam a visão do visitante.

“Para a maioria das pessoas, aprender é sinônimo de tortura. Fico feliz ao ver visitantes saírem daqui olhando o céu e reconhecendo estrelas”, afirma o engenheiro francês Alain Maury, um dos fundadores da Space, empresa responsável pelos passeios astronômicos para amadores.

Sofrimento mesmo é encarar as baixas temperaturas à noite durante a visita ao ar livre.

Mas nada melhor do que humor para ajudar a esquecer o frio congelante de poucos graus acima de zero. A proposta do programa de observação é diversão para os leigos que acham que a astronomia é um assunto denso.

“O humor é também uma arma contra o desconhecido. Rir observando o céu permite ter contato com ele”, explica Maury, especialista formado em engenharia e fotografia, que iniciou a carreira no observatório de Côte d'Azur, na França, e, atualmente, fabrica seus próprios telescópios.

E ele vai logo avisando que nada de querer ir para o céu quando morrer. “Não é realmente uma boa ideia: é frio, não tem ar e tem muita radiação mortal. Melhor falarmos de universo mesmo”, completa.

SERVIÇO

SPACE – tour astronômico
Calle Caracoles, 166 (escritório central para reservas do tour)

A visita é oferecida em inglês, espanhol ou francês de acordo com o dia. Durante os meses de inverno, o tour começam às 19h; e às 21h, no verão.
www.spaceobs.com
Melhor época
Cada mês do ano significa uma experiência diferente e tudo vai depender do que o visitante quer observar. A vista da Via Láctea, por exemplo, é mais impactante durante o inverno, porém as temperaturas no deserto nesta época do ano são desanimadoras.

Em alguns meses não é possível ver planetas, mas é possível ver galáxias. Quando há Lua, se perdem as galáxias. E assim cada tour é diferente do outro.

E dá para ver algum fenômeno raro durante os tours?

“Nada de OVNIs por aqui, o mais estranho que eu já vi em São Pedro de Atacama foram alguns turistas”, ironiza Maury.

Brincadeiras à parte, Alain e os visitantes já viram três vezes a passagem de satélites artificiais como o último lançado pela China. Como aquele país está, diametralmente, oposto ao Chile, quando um foguete do outro lado do mundo é lançado de manhã, este chega à noite em São Pedro.

Considerado o observatório público melhor equipado da América do Sul e com até quatorze mil visitantes por ano, o Space abriga dez telescópios em funcionamento (manuais e automáticos), além de outros dois em fase de instalação e de montagem, como o de espelho com 72 cm que o próprio Alain está concluindo. Todo o equipamento do local pode ser manuseado pelos visitantes.

O encontro com as estrelas, no sentido mais literal da expressão, termina com chocolate quente servido no interior da casa de Alain e sua esposa Alejandra, uma curiosa construção redonda em que a sala está a céu aberto, no centro, e os quartos, ao redor.

E sob céus atacamenhos, a experiência de viajar até aquelas terras desérticas do norte do Chile ganham ainda mais contornos de surrealidade aumentados por potentes lentes telescópicas.

* O jornalista Eduardo Vessoni viajou ao Chile a convite da Ford Brasil (www.ford.com.br)