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Sabi Sand Reserve, na África do Sul, permite imersão na vida selvagem

Eduardo Vessoni

Do UOL, na África do Sul *

31/01/2014 18h11

A caça começa cedo na selva. Às 5h30 as atividades já começam, a fim de garantir o melhor da África selvagem para os turistas, mas também castigam os mais preguiçosos. É o preço que se paga para assistir, ao vivo, o que muita gente só vê deitado no sofá, diante da televisão.

No 4x4, o tracker ajeita a espingarda carregada na frente do carro, enquanto o ranger dá as primeiras instruções de comportamento para um grupo de estrangeiros sonolentos.

Os motores são acionados e o grupo segue pela trilha de terra mato adentro. O tracker, especialista em pegadas e sons da selva, conhece tão bem aquele território quanto o leopardo que cruzou o caminho algumas horas antes. No volante, o field guide, como também é conhecido o ranger, segue atento às orientações do colega e joga o carro para onde for preciso, só para garantir a melhor posição para o disparo.

Aqueles profissionais não se comprometem e logo avisam que não podem garantir a observação de nenhum animal, mas fazem de tudo para que o grupo volte para o hotel com as melhores histórias de caçadores. Logo, surgem os primeiros e aquele grupo silencioso vai esboçando suas primeiras reações diante de gnus, cudus, zebras, leões e elefantes.

Diariamente, essa é a rotina dos que visitam o Sabi Sand Reserve, na província de Mpumalanga, na África do Sul. As caças são proibidas nessa que é uma das reservas naturais mais antigas do país, mas os aventureiros de primeira viagem não perdem a chance de disparar. Binóculos, câmeras fotográficas e flashes são as melhores armas para registrar uma das experiências mais fascinantes em todo o continente africano: os safáris.

Criado em 1948 pelos proprietários de fazendas locais preocupados com a preservação da vida selvagem que começava a desaparecer com a caça descontrolada das décadas anteriores, o Sabi Sand Reserve possui uma área de 60 mil hectares que junto com o vizinho, o clássico Kruger National Park, oferece dois milhões de hectares de área preservada.

É quase impossível não ver, ao menos, um grupo de impalas correndo pelos campos, um elefante sossegado procurando frutos das marulas típicas das savanas ou um grupo de leões preguiçosos sob a sombra de alguma árvore. Dizem que a melhor época para a observação de animais é entre junho e agosto por conta da abundância de bichos próximos às reservas naturais de água, mas mesmo durante os sufocantes meses de verão, o visitante corre o agradável risco de ficar cara a cara com os mais cobiçados da região.

Geralmente, os hotéis dessa reserva privada oferecem duas saídas diárias para a observação de animais de hábitos diurnos e noturnos, e a comunicação rápida entre rangers costuma render aventuras dignas das sessões vespertinas de filmes. Só que agora, a um palmo do viajante. Ou a uma pata, como você preferir.

Por rádio, chega a notícia de que um leopardo faminto está rondando a região, à espera da sua próxima vítima. E o que parecia um safári ingênuo de observação de aves coloridas e impalas tímidos se transforma numa busca alucinada por mais um dos Big Five da África, expressão utilizada para designar os cinco mais cobiçados animais pelos antigos caçadores de leão, elefante, búfalo, rinoceronte e o próprio leopardo.

  • Eduardo Vessoni/UOL

    O leopardo é um dos Big Five, expressão que se refere aos cinco animais mais cobiçados pelos antigos caçadores africanos

O ranger acelera o 4x4 e risca a estrada de terra. A frente da Land Rover, o tracker busca rotas alternativas para chegar ao local de mata fechada. Sua expressão é tensa e ninguém quer perder o espetáculo da perseguição entre presa e predador. A vegetação vai ficando densa e o ranger, não satisfeito, faz manobras jamais imaginadas para um automóvel para chegar até a cena mais esperada do safári: a caçada.

Camuflado entre as folhagens, o leopardo observa o impala que, entre uma folha e outra, checa desconfiado a movimentação ao redor. O felino fixa os olhos atentos na primeira refeição da semana e nem a chegada de outros carros que trazem visitantes tira-lhe a atenção.

A presa vai se afastando e o leopardo começa a deslizar pelo mato alto. A selva parece parar de respirar naquele momento e só a cisticola chiniana, do alto, é capaz de dedurar a visita indesejada. Essa pequena ave típica da África tem apenas 15 centímetros, mas possui um dos sons mais característicos da região e costuma avisar a vizinhança da aproximação do perigo.

E hoje não foi diferente. O impala já se encontrava longe quando o leopardo acabava de se convencer de que o almoço estava perdido.

Dizem que se correr o bicho pega, mas nem todo dia é de caça para os habitantes da selva. Para os outros, todo dia é uma alucinada caçada às melhores imagens da vida selvagem da África do Sul.

 

*O jornalista viajou a convite do hotel Sabi Sabi (www.sabisabi.com)