Topo

Capadócia surpreende com rochas inusitadas e cidades subterrâneas

Marina Gomes

Do UOL, na Turquia

13/02/2014 19h11

Um céu colorido de balões dá 'bom-dia' todas as manhãs aos visitantes da Capadócia, na Turquia. Eles vão surgindo às dezenas no horizonte, quando o sol nasce. Antes do primeiro raio soa dos minaretes o chamado para a reza - uma das cinco que os muçulmanos devem fazer. O dia vai tomando cores surreais e a paisagem vai se revelando. Você se dá conta de que realmente está em um lugar especial.

A Capadócia fica a 700 km de Istambul e 300 km da capital Ankara, e não sem razão é uma das regiões mais procuradas pelos turistas na Turquia. Na verdade, já se destacava desde as eras mais remotas.

Foi terra dos hititas (cerca de dois mil anos antes de Cristo), frígios, assírios, medos, cimérios e persas. Foi assediada por Alexandre, o Grande, e província do Império Romano. Depois respondeu aos impérios bizantino e otomano. Guerras, intrigas e perseguições moldaram sua história assim como a ação do vento e a atividade vulcânica deram os contornos da paisagem que se vê. A região, afinal, era ponto comum de rotas comerciais importantes e por isso sofreu constantes invasões. Em tempos perigosos os habitantes partiam para os refúgios subterrâneos, e cada civilização que sucedia foi responsável por aumentar estas cidades que abrigavam verdadeiros formigueiros humanos.

Há registro de mais de 150 cidades subterrâneas, que começaram a ser escavadas pelos hititas e estão ao redor de uma região de 25 mil km quadrados. Elas eram conectadas a muitas casas por passagens secretas e algumas podiam receber até 30 mil pessoas. As mais visitadas são Derinkuyu (a mais profunda, com oito andares) e Kaymali (a mais larga, com quatro andares abertos ao público).

Derinkuyu está há 40km de Goreme e tem 85 metros de profundidade. A estrutura impressiona. No primeiro subsolo, mais amplo, o abrigo de animais. Andando um pouco vai se descortinando todo o aparato que permitia a vida por longos períodos longe da luz: dutos de ventilação, poços de água, vias de comunicação e igrejas, além de refeitórios e quartos. Um tunel de 10km levaria até Kaymali em caso de perigo, e pedras rolantes serviriam para trancar o inimigo nos apertadíssimos corredores.

Como chegar

A Turkish Airlines (www.flyturkish.com.br/portal/) é a única companhia com vôos diretos do Brasil para a Turquia. São quatro vôos semanais de São Paulo a Istambul com duração de pouco mais de 13 horas, e brasileiros não precisam de visto. O vôo de Istambul à Capadócia dura 1h20 até os aeroportos de Nevsherir ou Kayseri, os mais próximos.

Mundo mágico
A surpresa subterrânea não é menor, porém, que o interesse despertado pelo que está acima da terra. A paisagem insólita vislumbrada é fruto da ação vulcânica, cujas lavas deram origem às rochas porosas, que foram moldadas pelo capricho e criatividade de vento e água. Assim, formaram-se as esculturas de "chaminés de fadas" e, dentro delas, os habitantes fizeram suas casas e igrejas, pois elas ofereciam conforto térmico adequado para as mudanças de temperatura.

O ideal é ficar pelo menos três dias para dar conta das diversas atrações. As cidades-base para explorar esta área de contornos tão inusitados são Göreme, Uçhisar, Avanos e Ürgüp. Um pouco mais distantes e maiores são Kayseri e Nevsehir.

Cada "setor" tem sua característica própria. Em alguns as rochas são extremamente interativas, formando um playground natural para adultos. Em outras, como Pasabang, as chaminés de fadas tomaram forma de cogumelo, enquanto em Devrent lembram animais.

Percorrer tudo é simples. As opções vão desde cavalgadas a quadriciclos, passando por aluguel de motos e vôos de balão. Sim, balão. A Capadócia é certamente um dos lugares mais interessantes do mundo para seguir a direção do vento. Murat Muncu, piloto-chefe da Urgup Balões explica que os voos saem 320 dias por ano devido às boas condições climáticas. E isso mesmo no inverno, com neve. "Diariamente são cerca de 100 balões colorindo o céu. Em cada um cabem 20 pessoas. Atingimos cerca de 1000 metros altura e circulamos por uma área de 10km em cada passeio, em média", explica.

Os passeios terminam antes das 9h, então é possível aproveitar o resto do dia para conhecer outras atrações, como o castelo de Uchisar, há 5 km de Goreme. Ele fica no topo de uma montanha, garantindo uma vista magnífica dos vales. Pode-se voltar a Goreme caminhando pela estrada, e aproveitar para fazer paradas estratégicas nos mirantes para apreciar o lindo pôr do sol que tinge as rochas.

Onde ficar

Há opções para todos os bolsos e a pedida é escolher um hotel na rocha, uma experiência única. Uma das cidades mais charmosas e recomendadas é Goreme. Se puder investir, há hotéis mais luxuosos como o Cave Suites (www.cappadociacavesuites.com) e de preços médios como o excelente Canyon View (www.canyonviewhotel.com). Há ainda pensões mais em conta como o Anatolia Cave (www.anatoliacave.com).

Museu a Céu Aberto de Goreme
Com o fortalecimento do cristianismo começam a surgir as primeiras igrejas e, como tudo por lá, elas foram escavadas nas rochas. São centenas delas na região (estima-se que de 400 a 600) e as mais antigas datam provavelmente do século 6. O Museu ao Ar Livre de Goreme é um complexo declarado patrimônio da humanidade pela Unesco e tem alguns dos mais significativos e bem preservados afrescos. Fica a apenas 1,5 km do centro da cidade. Conheça algumas de suas principais atrações:

Convento
Em forma de cruz, com uma cúpula com quatro colunas e três arcos. Estão abertos para visitação salão de jantar, cozinha e alguns quartos do primeiro andar e a capela no segundo nível. A igreja do terceiro andar é alcançada por um túnel.

Igreja de Santa Bárbara
Igreja da segunda metade do século 11, também em forma de cruz, com duas colunas. Há um arco central e dois laterais. Os motivos religiosos foram pintados em vermelho diretamente sobre a rocha, e há também representações de padrões geométricos, animais mitológicos e símbolos militares. Nesta igreja há uma representação de São Jorge e o Dragão (diz a lenda que ele nasceu na Capadócia, embora pouco se saiba).

Igreja da Maçã
O nome vem de uma árvore que caiu há muito tempo em frente à entrada principal. É uma igreja com quatro colunas e o acesso atualmente é feito pelo túnel norte, embora a entrada original estivesse atrás.

Preservaram-se belos afrescos que datam dos séculos 11 e 12 e narram cenas da Bíblia. E nas partes mais desgastadas podem-se ver pinturas simples em vermelho, ornamentos do período iconoclasta (época em que houve a destruição de imagens sacras).

Igreja da Serpente
É composta por duas câmaras. A da frente é abobadada e a de trás tem um teto plano. Os afrescos datam do século 11, pintados diretamente na rocha. Em frente à entrada há uma imagem de Cristo com um livro na mão, e à sua esquerda uma grande cruz e o Imperador Constantino e Helena. Ela tem este nome porque as pinturas retratam a morte da serpente.

Igreja da Escuridão
Para entrar é preciso comprar um tíquete separado. Ela data do final do século 12, e algumas das cenas nas paredes são a Anunciação, a Jornada para Belém, a Natividade, o Batismo, a Ressurreição de Lázaro, a Transfiguração, a Entrada em Jerusalém, a Última Ceia, a Traição de Judas e a Crucificação.

Igreja da Fivela
A mais antiga que se tem conhecimento, do século 10. Ela fica há 500 metros do museu, mas usa-se o mesmo tíquete para entrar. É formada por quatro câmaras e contém os mais importantes tipos de pinturas, pois foi decorada em diferentes períodos.