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Eslováquia tem construções preservadas e até cenário de "Nosferatu"

Cris Gutkoski

Do UOL, na Eslováquia *

04/03/2014 16h32

Bratislava, a capital da Eslováquia, fica a 62 km de Viena, na Áustria. A curta distância, percorrida de trem, de automóvel ou num agradável cruzeiro pelo rio Danúbio, transforma a maior cidade dos eslovacos num compacto destino de final de semana para os viajantes. Mas bastam algumas horas caminhando pelo conservado centro histórico de Bratislava, cidade que já foi capital da Hungria, de 1536 a 1783, e sede da coroação dos reis, para perceber que os séculos de história agregam atrações para uma visita prolongada.

Na arquitetura e na celebração do convívio com a natureza, em especial com o rio Danúbio, bem servido de mirantes, parques e ciclovias, a cidade antecipa as belezas da Eslováquia, um jovem país que até 1993 pertencia à antiga Tchecoslováquia.

Nas ruas estreitas da Cidade Velha, reservadas para pedestres, um monumento como o Portão de São Miguel faz vizinhança com embaixadas, pizzarias, cervejarias e um bar cubano; enquanto uma construção do século 17, o Palácio de Pauli, onde o compositor Franz Liszt fez um concerto ainda criança, fica a poucos metros de uma danceteria estilosa, a Trafo Music Bar, na rua Venturská. Antes e depois de Liszt, Mozart, Haydn, Beethoven e Béla Bartók também se apresentaram por ali.

Portais

Turismo na Eslováquiawww.slovakia.travel
Visite Bratislavawww.bratislavavisit.com
Kosice - Capital Cultural da Europa em 2013www.visitkosice.eu
Visoké Tatry (Altos Tatras)www.tatry.sk


Seguindo por esta rua rumo ao sul, já nas bordas da Cidade Velha, erguem-se dois símbolos de Bratislava que contam histórias contrastantes de poder político nesta região da Europa. Um deles data do século 13, a Catedral de São Martinho, onde foram celebradas 19 coroações de reis, de 1563 a 1830, entre elas a coroação da imperatriz Maria Teresa, descendente dos Habsburgos. O outro símbolo ainda não fez 50 anos e é uma das lembranças mais imponentes do legado comunista na Cortina de Ferro: a Nova Ponte (Nový Most), inaugurada em 1971. A antiga Tchecoslováquia rompeu com o regime autoritário dos soviéticos em 1989, com a Revolução de Veludo.

A ousada ponte suspensa dos comunistas, cujo topo lembra um disco voador, ganhou em anos recentes a prazerosa companhia de um templo de consumo nas margens do Danúbio, o shopping Eurovea Galleria, que esparrama os sofás de seus bares e lounges em jardins e mirantes. Apenas um espelho d´água com chafariz separa o shopping do novo prédio da ópera e do teatro nacional. A primavera e o verão no hemisfério norte, de março a setembro, são ideais para curtir o sol sobre a grama verde de Bratislava, com vista para o rio. No inverno, com neve e tudo, todos os caminhos levam para a praça principal e sua feira de artesanato na Cidade Velha, um Natal tipo quermesse, com vinho quente e todo o catálogo de doces do Império Austro-Húngaro.

Onde ficar

My Home Apartmánový dom, em BratislavaTel: 421 (0) 2/52 495955 / www.my-home.sk
Crowne Plaza, em BratislavaTel: 421 (0) 2 5934 8111 / www.crowne-plaza.sk
Hotel Patria, em Vysoké TatryTel: 421 052 784 8699 / www.hotelpatria.sk

Em qualquer época do ano, o Castelo de Bratislava merece uma visita sem pressa. No alto de uma colina, ele parece proteger a cidade dos invasores até hoje. Saber que esta fortaleza medieval por pouco não chegou ao século 21 reduzida a destroços valoriza ainda mais a sua imponência. O castelo que abrigou a dinastia dos Habsburgos quando Bratislava era capital da Hungria e sede das coroações da realeza foi destruído por um incêndio em 1811 e permaneceu em ruínas por um século e meio, até 1953, quando teve início o projeto de restauração. Neste mesmo ano morreu Josef Stálin, o dirigente russo que comandava com mão de ferro os países do bloco comunista e cujos métodos de extermínio dos opositores seriam revelados pouco depois, em 1956. Atualmente o castelo é sede de um importante conjunto de museus de história, de arqueologia e de música do país: no acervo estão objetos da Idade da Pedra, da Idade Média e da história recente. O acesso pode ser feito de ônibus e trólebus, que partem do centro da cidade.

A rainha Maria Teresa, mãe de 16 filhos, que no século 18 reformou grande parte das instalações em estilo barroco, mantinha os seus cavalos num estábulo na área onde atualmente funciona um restaurante de gastronomia eslovaca e internacional, com mesas em salões e também ao ar livre, quando o clima permite. O silêncio do lugar, a vista do Danúbio lá embaixo e a magnitude da fortaleza que renasceu das cinzas comovem o visitante. É a hora de pedir um drinque e pronunciar pelo menos uma palavra em eslovaco: na zdravie! Saúde!

  • Cris Gutkoski/UOL

    A rua de São Miguel é a principal artéria do centro histórico de Bratislava, reunindo bares, restaurantes, lojas, embaixadas e museus

Festa para Jánosík, o Robin Hood local

Atrações

Aqua City, em Popradwww.aquacity.sk
Museu ao Ar Livre de Orava, em Brestováwww.muzeum.zuberec.sk
Museu Histórico da Eslováquia, em Bratislavawww.snm.sk
Teatro Nacional Eslovaco, em Bratislavawww.snd.sk

País de 5,4 milhões de habitantes, a Eslováquia ingressou na União Europeia em 2004 e adotou o euro como moeda oficial em 2009. Desde o período anterior, de longa união com o que é hoje a República Tcheca, a população de eslovacos era majoritariamente rural. Nos arredores de Bratislava, a vida das comunidades ligadas à agricultura começa a emergir, em regiões vinícolas dos Pequenos Cárpatos e nas atrações culturais de Terchová e Brestová, por exemplo.

Distante 130 km da capital, Terchová é terra natal de um querido herói eslovaco, Jánosík, assassinado por soldados austríacos no século 18 por representar um perigo às leis do bom comportamento social. A guia Monika Profantová explica que Jánosík era um tipo de Robin Hood local, que tirava dos ricos para dar aos pobres. Morreu aos 24 anos, mas é lembrado até hoje em shows de música e dança como os promovidos pelo restaurante Janosikova Koliba, que entre os pratos típicos serve o "bryndzové halušky", feito com batatas, queijo de cabra e bacon frito.

Em Brestová, vizinha de Zuberec, a 222 km de Bratislava, a imersão nas comunidades rurais é mais profunda e abarca vários séculos, desde a Idade Média, graças a um imenso museu ao ar livre, o Museu de Orava. São dezenas de casas de madeira (com telhado de madeira) que contam a dura vida de lenhadores, agricultores e criadores de animais tentando povoar regiões inóspitas, de terrenos montanhosos cobertos de florestas. As famílias moravam em três cômodos, que no auge do inverno abrigavam também ovelhas, porcos e vacas. Entre as relíquias dos objetos estão os grossos casacos de lã e couro, feitos em casa, que os homens vestiam para enfrentar o trabalho ao ar livre. “Os jovens ganhavam este casaco no dia do casamento, para começar a vida”, conta a diretora do museu, Marianna Janostínová.

  • Cris Gutkoski/UOL

    O Castelo de Orava é um dos monumentos mais visitados da Eslováquia

Curiosidade da região, o Castelo de Orava (acima do rio de mesmo nome) é um dos monumentos mais visitados da Eslováquia. A construção próxima a Oravský Podzámok, data do século 13 e tem como um de seus charmes o fato de ter servido de locação para o filme "Nosferatu", de 1922. Depois de ter passado por diversas reconstruções, sendo a mais recente e custosa uma acontecida após a Segunda Guerra Mundial, o castelo hoje oferece aos visitantes um museu, além de passeios por suas dependências, que englobam torres, fortificações e várias áreas separadas da construção.

Preciosidade entre as construções de madeira, a igreja em estilo gótico tardio é remanescente do século 15, com campanário em forma de pirâmide acrescido no século 17. Os painéis com os 12 apóstolos estão preservados desde 1646. No centro da igreja, em cores vibrantes, surge Santa Isabel da Hungria (1207-1231), que cresceu no Castelo de Bratislava, se dedicou aos pobres após a morte do marido e foi canonizada pouco depois de morrer, aos 24 anos.

Agências

City Tour Bratislavawww.tour4u.sk
Planet Funwww.planetfun.sk
Rajec Travelwww.rajectravel.sk

Turismo de aventura nos Montes Tatras
A localidade de Brestová já pertence à rota dos Montes Tatras, o principal cartão-postal do norte da Eslováquia. Trata-se da mais alta cadeia de montanhas dos Cárpatos, invariavelmente cobertas de neve, devido a prolongados invernos, cujos topos, nos Altos Tatras (Visoké Tatry) se localizam a 2.654 metros (Gerlachovsky), 2.633 metros (Lomnický) e 2.556 metros (Kezmarský) de altitude. É uma região turística por excelência, pela paisagem de cair o queixo e pela infraestrutura de lazer e esportes de inverno que congrega resorts, hotéis, pousadas, estações de esqui, funiculares, teleféricos, parques aquáticos, ciclovias e trilhas nas montanhas para visitantes de distintas idades e preparo físico. O Hosky Hotel Sliezky Dom, por exemplo, está situado a 1.670 metros de altitude, no pé do pico mais alto dos Montes Tatras, o Gerlachovsky.

Em Vysoké Tatry, distante apenas 11 km de Poprad, a maior cidade da região, com aeroporto internacional, o Hotel Patria serve de agradável refúgio diante das montanhas geladas. Foi construído nos anos 70 do século 20, quando tchecos e eslovacos pertenciam a um país só, e o tamanho da sua piscina aquecida e coberta faz imaginar que atletas russos desfrutaram alguns feriadões por ali, com direito a treino. O hotel preserva até hoje o alfabeto cirílico nos seus informativos sobre cardápios e serviços de quarto. Mas o dia-a-dia se tornou bastante capitalista: paga-se 4 euros para usar a banheira de hidromassagem da piscina por 20 minutos.

Visitados por multidões de eslovacos, tchecos, poloneses, húngaros, russos e europeus em geral, os Altos Tatras atraem turistas de aventura há quase 500 anos. Acredite: a cidade histórica de Kezmarok, a 21 km de Poprad, guarda registros de que uma antiga moradora, Beata Laská, então feliz proprietária do castelo da cidade, fez no ano de 1565 a primeira excursão de que se tem notícia aos Altos Tatras. A primeira tentativa de escalar as montanhas geladas se deu décadas depois, em 1615, feita por um estudante de Kezmarok, David Frolich.

  • Cris Gutkoski/UOL

    No norte da Eslováquia, na fronteira com a Polônia, os Montes Tatras são uma imensa cadeia de montanhas em cujas bordas foram erguidos centros de lazer e de esportes de inverno

Emoldurada pelos picos brancos, Kezmarok vale a visita também para conhecer um Patrimônio Cultural da Humanidade, título concedido pela Unesco em 2008 a várias igrejas evangélicas da Eslováquia, construídas em condições precárias durante a Contra-Reforma, que resistiram ao tempo e à intolerância religiosa dos mandatários da época. Com rico interior barroco, a igreja evangélica que mantém o desenho original de 1717 comporta 1.500 pessoas, no térreo e nos mezaninos. Ela começou a ser reconstruída em 1991, após a Revolução de Veludo.

A aventura de Beata Laská nos Montes Tatras, lembrada diante do Castelo de Kezmarok, não terminou bem. “Ela era muito independente, fazia o que queria”, conta a guia Monika Profantová, mestre em história. A excursão às montanhas, de vários dias, foi feita durante uma viagem do marido e, ao saber da ousadia da mulher, ele trancou-a a torre, de onde ela só saiu anos depois, já com a saúde mental comprometida. Mas Beata Laská conseguiu preservar e deixar para a posteridade o diário das suas corajosas trilhas nas montanhas, percursos que são refeitos até hoje, o que a torna não apenas a primeira mulher a enfrentar a vertigem dos Tatras, mas também uma das pioneiras entre as autoras de relatos de viagem da Europa.

* A jornalista Cris Gutkoski viajou a convite do Grupo V4 - Visegrad Four