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Gosta de moda? Conheça três hotéis de estilistas em Milão, na Itália

Eric Wilson

New York Times Syndicate *

02/04/2014 18h02

Na Itália, os estilistas modernos substituíram a família Medici; assim, clubes noturnos ganham o nome de Roberto Cavalli; restaurantes são criados por Giorgio Armani e Dolce & Gabbana; museus, dedicados a Gucci e Ferragamo e teatros - usados apenas alguns dias por ano para os desfiles - são construídos por Gucci, Armani, Prada e Versace.

Apesar dos problemas econômicos do país, seus estilistas atravessam uma fase de expansão à la Renascença, que em nenhum outro lugar é tão bem representada quanto em sua mais nova obsessão: os hotéis. Decorados à imagem de seus criadores e surgindo em várias cidades do mundo, as novidades incluem o Hotel Missoni, em Edimburgo, cuja roupa de cama é decorada com listras de cores berrantes, e o tão aguardado Armani Hotel de Milão, uma estrutura moderna, com paredes de vidro, na cobertura de um prédio da década de 1930. Os dois se juntam ao time de estalajadeiros que inclui Versace, Bulgari e Ferragamo.

Para os amantes da moda, esses estabelecimentos oferecem a oportunidade de se submeter integralmente à visão dos estilistas - não só de vestir suas roupas, mas também viver, pelo menos por uma noite, entre suas camas, roupa de cama e robes, como queriam Giorgio e Donatella. Aliás, é isso que você está comprando: a chance de sonhar no mundo deles, literalmente.

Durante a última Semana da Moda de Milão, eu quis conferir a experiência de me hospedar com os estilistas em vez de comprar em suas lojas. Uma semelhança já ficou óbvia de cara: os hotéis são caros (e as diárias tendem a subir durante os períodos de pico). Reservando os quartos mais baratos de cada um através do Expedia, em meados de janeiro, acabei pagando US$ 861,17 no Armani, US$ 746,75 no Bulgari Hotel e uma média de US$ 342,09 no "acessível" Maison Moschino, outro hotel de estilista que abriu em 2010.

Armani Hotel Milano
Quando o táxi parou na frente do Armani Hotel, nas imediações do quadrilátero da moda, tive a desagradável sensação de estar sendo avaliado por um vendedor que calculava a quantas anda a minha conta bancária. O prédio, que ocupa um quarteirão inteiro, contém dentro de suas paredes brancas e austeras o que só pode ser descrito como um shopping center Armani, com uma livraria, uma loja de chocolates e uma filial do Nobu, além de várias coleções de roupas Armani. A fachada não é nem um pouco amistosa, mas é linda, com seus contrastes de branco e preto pontuados por cortinas de bambu vivo. O hotel ocupa os últimos andares, com uma academia, um spa e uma pequena piscina na cobertura com vista para a cidade.

  • Dave Yoder/The New York Times

    Decoração do Armani Hotel Milano traz vários tons de bege e preto

Uma mulher de tailleur elegante, muito animada, apareceu por uma porta lateral e se apresentou como "gerente de estilo de vida", termo que os funcionários usam indiscriminadamente (pelo menos foi a minha impressão), já que os serviços que ela ofereceu enquanto me levava para a recepção, no sétimo andar, estavam mais para os de uma terapeuta do que uma concierge. Quando as portas se abriram, reconsiderei. Naquela manhã ensolarada de janeiro, a luz do sol que batia nos pináculos do Duomo atravessava os janelões imensos e se refletia no piso de mármore branco, tornando a cena mais brilhante que os portais do Paraíso. Talvez eu precisasse mesmo da ajuda de uma "gerente de estilo de vida" - ou de São Pedro, se eu não conseguisse me encaixar.

Toda a decoração é uma expressão maravilhosamente detalhada da estética Armani (clean, de bom gosto, cheia de textura, cara), tão vanguardista como o futuro retratado em "Gattaca". Pouquíssimos artefatos comuns - como maçanetas ou interruptores - são permitidos nesses domínios, onde as cortinas, a temperatura e até o sinal de "não perturbe" são operados por um controle remoto sensível ao movimento e o acesso aos quartos é feito através da inserção do cartão num monitor mais sensível que um scanner de retina. Quando a cor muda, você abre a porta; fechá-la do lado de fora, porém, requer uma manobra quase acrobática.

Os quartos são espaçosos e decorados com os móveis da coleção Armani Casa, todos numa paleta bem masculina de tons de cinza e bege; a colcha, com um acabamento fosco, era muito macia e cobria meticulosamente todos os lados da cama. Por todo lado, pequenas e maravilhosas surpresas: uma máquina de café com blends Armani; um closet gigante; um cardápio de travesseiros; uma TV de tela plana que saía de um console ao pé da cama; cosméticos com aroma de olíbano (um dos principais elementos dos perfumes da grife); banheiros com divisão entre o box do chuveiro, o vaso sanitário e a banheira; toalhas que dão a sensação de um mergulho no meio de uma pilha de coelhos brancos... mas melhor que tudo isso são os cotonetes: com hastes pretas e quinze centímetros de comprimento, dão um ar chique até à higiene pessoal.

Infelizmente, o jet lag e a decepção entraram em ação às três da manhã, quando eu percebi que as luzes dos painéis de controle dos dois lados da cama e de um terceiro, ao lado do closet (que incluía um interruptor geral), não apagavam. Uma vez que eu já me encontrava num estado de semiconsciência, nem me ocorreu chamar a "gerente de estilo de vida".

O hotel sabe do problema, como fiquei sabendo na manhã seguinte, na hora de fazer o check-out, mas, por enquanto, a solução (ou falta dela) cabe direitinho na estética Armani. Posso recomendar fita isolante? Pelo menos é preta.

Armani Hotel Milano, Via Manzoni 31; (39-02) 8883-8381; milan.armanihotels.com.

Maison Moschino
O Maison Moschino foi a minha base de operações durante os quatro dias de desfiles - não porque eu tenha alguma preferência pelo estilo excêntrico e brincalhão da casa, mas porque era o menos caro (Moschino é uma grife direcionada para as jovens, com uma submarca chamada Cheap & Chic, então imaginem a frequência). Fica numa antiga estação ferroviária perto do 10 Corso Como, o shopping mais exclusivo da cidade, mas longe de todo o resto. A fachada, com um pátio aberto enorme, lembra muito o auge de Miami Beach. O saguão é pequeno, branco e eficiente, mas decorado com luminárias de papel na forma de animais (galinhas, poodles, carneiros), flutuando como se fossem nuvens. Muito charmoso.

  • Dave Yoder/The New York Times

    Silhuetas de modelos de roupas são usadas como luminárias de chão na Maison Moschino

A decoração varia de quarto para quarto - incluindo uma homenagem ao Chapeleiro Maluco e uma suíte com uma parede de caixas de sapatos pintadas; porém, a menos cara de todas (e mais básica) é a "dormindo num vestido de baile"; ali, a cabeceira da cama parece o corpete de um vestido vermelho de veludo num cabide, cuja "saia" se transforma na colcha.

Franco Moschino, o fundador da casa, era conhecido por sua mordacidade - e seu humor cheio de ironia foi perpetuado no hotel, o que significa que é preciso, no mínimo, ficar de olhos abertos para evitar surpresas e constrangimentos.

O meu quarto, tão apertado que não tinha escrivaninha nem penteadeira, recendia a lírios e rosas artificiais - e o cheiro era tão forte que pedi na recepção que as camareiras parassem de usar qualquer que fosse o bendito produto. Quando voltei ao quarto, descobri uma lata enorme do tal purificador de ar, como um bilhete que dizia: "Um presente para você"! Estou fora.

Maison Moschino; Viale Monte Grappa 12; (39-02) 2900-9858; maisonmoschino.com.

Bulgari
Até a chegada do Armani, o endereço certo para quem queria luxo era o Bulgari, inaugurado em 2004 em parceria com a cadeia de hotéis Ritz-Carlton, que tem a primazia de estar localizado ao lado do Jardim Botânico. Dei um presente a mim mesmo passando minha última noite em Milão ali.

  • Dave Yoder/The New York Times

    Bar do hotel Bulgari, em Milão

O quarto, em estilo Zen, era tão grande que eu quase podia correr dentro dele - e fiquei encantado de poder realizar uma fantasia que me atormenta desde que Sharon Stone, em 1994, disse que praticamente toma banho do perfume da grife The Vert, que lembra um pouco o cheiro de chá verde. Ao lado da banheira ("mármore negro do Zimbábue com detalhes em travertino de Navona", de acordo com o guia do quarto) havia gel de banho, sabonete, velas aromáticas e, como eu descobri ao voltar para o quarto no fim da noite, uma garrafa térmica com chá verde. Se Sharon Stone tiver a chance de experimentar, nunca mais vai querer sair da banheira.

Ao contrário da atriz, porém, o Bulgari já começa a dar sinais da idade. Os pisos rangem um pouco e os vasos ornamentais na porta de cada quarto, cheios do que parecem ser bastões de canela, estão cobertos por uma fina camada de pó. No saguão sossegado, há potes de balas para os hóspedes - como também na pequena academia do subsolo, o que não deixa de ser engraçado.

Mais engraçado ainda é pensar que na academia do Armani há garrafas de água, maçãs verdes e uma variedade de nozes - mas, no Bulgari, eu não tive problemas para dormir.

Bulgari; Via Privata Fratelli Gabba 7b; (39-02)805-8051; bulgarihotels.com.

* Texto publicado originalmente em março de 2012