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Vinho, queijos e casas históricas integram rota gastronômica na Toscana

Anelise Sanchez

Do UOL, na Itália

09/05/2014 16h22

As regiões italianas da Toscana e da Úmbria são territórios que produzem excelências gastronômicas e ainda conservam uma forte tradição culinária. Com o auxílio do movimento Slow Food, que surgiu na Itália em 1998, esses lugares ainda preservam animais, vegetais, legumes, queijos, pães e frios que corriam risco de extinção devido a técnicas agrícolas intensivas e o comércio de massa.

Percorrer as pequenas cidades italianas em busca de sabores tradicionais ao mesmo tempo em que se contemplam belas paisagens é a proposta dessa viagem. A ideia é deixar de lado o ritmo frenético das grandes cidades e experimentar, por pelo menos cinco dias, a arte de “saber viver” dos italianos, explorando algumas das mais belas cidades da Val D'Orcia, entre a província de Siena e Grosseto e próximas da fronteira com a região Úmbria.

Partindo de Roma de carro, o nosso primeiro destino é a pitoresca cidade de Montepulciano, terra de vinhos de excelente qualidade.  O percurso até lá é de aproximadamente 170 km, mas para economizar a dica é aquela de hospedar-se em Chianciano Terme, que por possuir boa estrutura, um complexo de termas e inúmeros hotéis, oferece preços convidativos. Apesar de ser menos movimentada e frequentada sobretudo por idosos, a distância entre Montepulciano e Chianciano Terme é de apenas 10 km e locomover-se de lá até as cidades próximas é muito fácil.

Dirigindo pela rodovia A1 na direção de Firenze (Florença), pegue a saída para Chiusi-Chianciano Terme. Se em vez do hotel preferir o contato com a natureza, uma boa pedida é hospedar-se no Agriturismo Palazzo Bandino, uma típica propriedade toscana administrada há seis gerações por uma família que também produz seu próprio vinho, organiza cursos de culinária e há pouco tempo também inaugurou um spa.

De lá siga as indicações para chegar até Montepulciano e, no meio do caminho, faça uma parada estratégica no Viale della Rimembranza, onde está a imponente igreja de San Biagio. Será impossível não encantar-se com suas decorações em mármore travertino em diversos tons de rosa. A beleza desse lugar nos faz pensar em um templo que merece diversas horas de contemplação.

Vista do centro histórico de Montepulciano - Alfredo Santucci/UOL - Alfredo Santucci/UOL
Vista do centro histórico de Montepulciano
Imagem: Alfredo Santucci/UOL

Seguindo até Montepulciano, o turista será obrigado a subir algumas ladeiras até chegar ao centro histórico da cidade. Seu principal ponto de encontro é a chamada Piazza Grande, que entre outras atrações abriga o belíssimo Palazzo Comunale, sede da prefeitura local, e o Pozzo dei Grifi e dei Leoni. Além de seu patrimônio artístico e arquitetônico, a cidade também atrai centenas de visitantes graças ao Vino Nobile di Montepulciano, produzido desde o século 8 d.C e considerado um dos melhores vinhos da Itália.

Uma experiência inesquecível é visitar, gratuitamente, uma das históricas adegas que armazenam e comercializam o produto. Entre elas, Le cantine del Redi foi considerada como uma das mais belas da Europa. Seus corredores de tufo conservam centenas de barris de carvalho francês e frascos de envelhecimento do néctar de Baco. O único risco para o turista é sair de lá ligeiramente embriagado depois de degustar tantos tipos diferentes de vinho. Nesse caso, obviamente, não dirija e prefira fazer uma parada gastronômica em uma “trattoria” (restaurante). Na Osteria del Conte, por exemplo, para extasiar-se peça uma massa como “pici al ragù bianco” (macarrão comprido com carne de pato) e uma seleção dos melhores queijos da região, acompanhados de mel e geleias caseiras.

Para quem estiver na cidade no último domingo de agosto, a dica é comprar um ingresso para assistir o Bravio delle Botti. Trata-se de uma competição entre as oito contradas (bairros) de Montepulciano. Em uma homenagem ao patrono da cidade - San Giovanni Decollato - os participantes correm pelas ruas empurrando um barril de 80 kg e o vencedor é premiado com um pano de tecido nobre, pintado com uma imagem do santo.

Depois de Montepulciano, a etapa seguinte é Pienza, famosa por produzir um dos queijos com leite de ovelhas mais apreciados no mundo: o pecorino ou cacio. A descoberta arqueológica de antigas panelas de barro onde fervia-se o leite revelou que essa iguaria existia desde a pré-história e o seu sabor inconfundível é atribuído às hortaliças como tomilho e absinto das quais se alimentam as ovelhas.

Pienza, contudo, também é um patrimônio da Unesco e, no passado, era considerada a cidade ideal pelo papa Pio II, que a transformou em um dos símbolos do Renascimento italiano. Seu imenso patrimônio artístico inclui monumentos como a igreja medieval de San Francesco, a catedral Dell’Assunta e o Palazzo Piccolomini, com uma das mais belas vistas da Val D’Orcia.

Vista das colinas que circundam a cidade de Pienza, na Toscana - Alfredo Santucci/UOL - Alfredo Santucci/UOL
Vista das colinas que circundam a cidade de Pienza, na Toscana
Imagem: Alfredo Santucci/UOL

Outra cidade nos arredores cuja visita é imperdível é Montalcino, terra do Brunello, um dos melhores vinhos tintos do mundo. Seus 3.000 hectares de parreiras são um espetáculo da natureza que surpreende todos os turistas que chegam até lá. A atenção dedicada a cada garrafa é tanta que, todos os anos, no mês de janeiro, uma comissão de degustadores avalia as qualidades químico-físicas do vinho. Cada safra recebe uma classificação que varia entre uma e cinco estrelas e, desde 1992, o resultado é gravado em um azulejo comemorativo realizado por grandes personalidades. Todos eles ficam expostos no muro da sede da prefeitura.

O Brunello é um dos melhores cartões de visita da Toscana. A cidade, contudo, também é um importante polo turístico graças aos seus monumentos. O lugar conhecido como Piazzale della Fortezza, exemplo de arquitetura militar de 1300, é aquele que domina o panorama de Montalcino, mas no seu centro histórico outros destinos que merecem ser visitados são a Loggia Gotica, as igrejas de Sant’Agostino e Sant’Egidio (século 14) e o Museo Civico e Diocesano,  que conserva pinturas e esculturas dos anos 300 a 900.

Continuando na direção de Castiglione D’Orcia, um lugar paradisíaco e considerado uma das aldeias mais pitorescas de toda a Itália é Bagno Vignoni. Graças à origem vulcânica do território que a circunda, essa cidadezinha possui termas de água quente que, no passado, foram frequentadas por Lorenzo de’Medici, escritor, político e um dos personagens mais influentes em Florença a partir de 1469. Para quem passa por lá, a grande atração de Bagno Vignoni é a piscina natural que ocupa o centro da aldeia, substituindo a praça principal que geralmente decora qualquer cidade italiana.

Na volta, na estrada SP 53 (strada provinciale) que da Bagno Vignoni chega até Pienza, fica o Castello di Spedaletto, parada obrigatória para fotos inesquecíveis. Construído no século 12 como hospital para abrigar os peregrinos que viajavam até Roma, no século seguinte o local foi reformado e servia como armazém para conservar a collheita de toda a Val d’Orcia.

Parreiras circundam a estrada que levam o turista até Montalcino - Alfredo Santucci/UOL - Alfredo Santucci/UOL
Parreiras circundam a estrada que levam o turista até Montalcino
Imagem: Alfredo Santucci/UOL

Em 1191 o castelo foi citado nas memórias de viagem de Felipe II, rei da França, que retornava de sua terceira cruzada. Atualmente, a estrutura abre suas portas para hospedar eventos e funciona como hotel, mas também pode ser visitada externamente por turistas que se encantam com a igreja de San Nicolò e as casas coloniais sem seu pátio interior.

Antes de voltar a Roma, a última etapa da viagem é Castiglione del Lago, na região da Úmbria - também conhecida como o “coração verde da Itália” - e localizada na fronteira entre Siena e Arezzo. Essa cidadezinha, eleita uma das mais belas de todo o país, é emoldurada pelo Trasimeno, o quarto maior lago italiano. Graças as suas águas calmas e a paisagem bucólica dos arredores, no verão, essa é uma das maneiras ideais para escapar do calor europeu.

Suas principais atrações turísticas são o Palazzo della Corgna, de 1563, a igreja barroca de Santa Maria Maddalena e a fortaleza medieval construída a pedido de Federico II, mas para os amantes da boa mesa Castiglione del Lago oferece um cardápio caprichado com pratos típicos a base de peixe de água doce e “fagiolina del Trasimeno”: um feijão minúsculo e facilmente digerível.

A qualidade dos vinhos da Úmbria também não tem nada a invejar aqueles produzidos pela vizinha Toscana, que por muito tempo ofuscou a beleza dessa região caracterizada por altas montanhas, zonas pastoris e campos de girassol. Depois que provar uma taça de um Rosso di Montefalco ou Sagrantino, com certeza incluirá um retorno a essa magnífica região em sua próxima viagem à Itália.