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Sabará é museu a céu aberto pertinho de Belo Horizonte

Daniel Ribeiro

Do UOL, em Sabará (MG)

15/05/2014 07h00

Embora bem menos conhecida que Ouro Preto, Tiradentes e Mariana, Sabará é a mais antiga das cidades históricas da Rota do Ouro no século 17 e a mais antiga vila a ser habitada no que é hoje a região sudoeste do Brasil.

Distante apenas 23 quilômetros de Belo Horizonte, surgiu inicialmente como uma vila de bandeirantes. A descoberta do ouro possibilitou à então chamada Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabarabuçu se tornar um município em 1711, com a intervenção de Borba Gato. O nome da cidade tem origem na junção dos rios Sabará, menor, e o rio das Velhas, maior. Essa junção seria chamada pelos índios de Sabarabuçu.

Na cidade ficava a Casa de Fundição, para onde todo o ouro extraído naquela região deveria ser levado. Ali o metal precioso era pesado e transformado em barras. Na mesma casa, o ”quinto” era retido, parte do total do ouro que era pago de imposto a Portugal. Embora símbolo da dominação e abuso português no período colonial, a Casa de Fundição abriga hoje o Museu do Ouro, com importantes obras de arte sacra e peças da época.

Devido à importância que Sabará teve no ciclo do ouro, a cidade ganhou papel relevante na Guerra das Emboabas entre 1707 e 1709, quando os bandeirantes tentaram ganhar dos portugueses os domínios daquela região. Logo após a guerra, a vila foi elevada a sede da comarca de Sabará, a maior de Minas Gerais.

Ferradura e arte sacra
O centro da cidade se mantém preservado e em atividade. A Casa da Ópera -ou Teatro Municipal- tem a acústica considerada próxima da perfeição e ainda está em atividade. A construção segue o padrão italiano em forma de ferradura, com quatro andares de camarotes e uma plateia central.

Ali estiveram os imperadores do Brasil D. Pedro 1º, em 1831, e D. Pedro 2º, em 1881. Na ocasião da visita, os imperadores se hospedaram em um casarão na antiga Rua Direita, hoje rua D. Pedro 2º, onde funciona a prefeitura. Atualmente, a Secretaria de Cultura de Sabará é responsável pela programação do local.

O fluxo de escravos foi intenso e deixou para a memória viva as ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. A construção de uma pequena capela para a santa foi feita em 1713. Em 1768, a irmandade dos escravos começou a construção de um grande templo, que foi interrompida em 1888 com a abolição da escravatura.

Imagem sacra Sabará - Daniel Ribeiro/UOL - Daniel Ribeiro/UOL
Interior da igreja matriz de Sabará, em Minas Gerais, consagrada à Nossa Senhora da Conceição. Tudo o que parece ouro na foto, é realmente ouro
Imagem: Daniel Ribeiro/UOL

Na sacristia da capela funciona o Museu de Arte Sacra de Sabará, com crucifixos e imagens dos séculos 18 e 19, incluindo peças de Aleijadinho. Além desta, a cidade oferece um banquete aos apreciadores de arte sacra. As igrejas sabarenses impressionam por sua simplicidade no exterior e a decoração interna rica e detalhada, muitas vezes folhada a ouro.

Dois bons exemplos são a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e a matriz de Nossa Senhora da Conceição, ambas com arquitetura barroca despretensiosa, mas ricamente adornadas com imagens em madeira policromada e folhas de ouro.

A proximidade de Belo Horizonte faz de Sabará quase um museu para ser visitado durante o dia. Apesar de boas instalações, a pobre vida noturna da cidade desestimula os turistas a ficarem ali por mais de dois dias. 

ATRAÇÕES

Igrejas

Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
A pequena capela, dedicada à santa e construída em 1717, é envolta por ruínas do que seria um templo maior, cuja construção foi abandonada em 1888, com a abolição da escravatura. Possui imagens de São José de Botas, Santa Rita de Cássia e São Camilo feitas por Aleijadinho. Visitação paga junto com o Museu de Arte Sacra.
Praça Melo Viana s/n. 

Nossa Senhora do Carmo
O exterior da construção não revela a suntuosidade da ornamentação interna. A igreja de 1763 possui muitas obras de Aleijadinho, com destaque para a Nossa Senhora das Dores, que conta com um altar lateral recuado, tamanho seu culto no século 18 naquela região.
Rua do Carmo, s/n. 

Nossa Senhora da Conceição
Igreja Matriz de Sabará. Esta também surpreende pela riqueza de seu interior todo em madeira de cedro folhada a ouro, concebido por Aleijadinho em 1710.
Praça Getúlio Vargas, s/n. Visitação paga.

Nossa Senhora do Ó
Capela na cidade antiga, com motivos chineses. A construção é de 1717 e surpreende por uma arquitetura que remete aos pagodes chineses, com uma torre e pinturas orientais. Conta-se que os portugueses teriam usado mão de obra de colonos de Macau, mas essa história é incerta.
Largo Nossa Senhora do Ó, antigo Arraial do Tapanhoacanga. Visitação paga.

São Francisco de Assis
Igreja dos escravos bem mais simples. Há obras de Aleijadinho, em sua maioria santos de roca, imagens de madeira não maciça. O cristo morto atrás da mesa do altar é o principal diferencial da igreja.
Rua Borba Gato, s/n. Visitação paga.

Vista de Sabará, Minas Gerais - Daniel Ribeiro/UOL - Daniel Ribeiro/UOL
Vista da cidade de Sabará do pátio da Igreja Nossa Senhora das Mercês
Imagem: Daniel Ribeiro/UOL

Museus

Museu do Ouro
Funcionando na antiga Casa de Fundição da Comarca de Sabará, o Museu do Ouro abriga um importante acervo que remonta à história do Ciclo do Ouro no interior do Brasil. A visita se faz tão fundamental quanto o Museu da Inconfidência, em Ouro Preto,  para aqueles que pretendem compreender melhor aquele período da história nacional. O museu acolhe obras sacras de Aleijadinho e outros escultores, móveis, moedas cunhadas em ouro e artigos religiosos, como cálices e relicários. Na antiga casa preservada pelo Patrimônio Histórico, pode-se também observar maquetes de minas de ouro e uma biblioteca. Ao todo são 749 peças ligadas à prática da mineração nos séculos 18 e 19 em exposição permanente.
Rua da Intendência, S/Nº – Centro
De terça a sexta-feira, das 10h às 17h; sábados e domingos, das 12h às 17h

Museu de Arte Sacra
Na sacristia da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, o museu guarda crucifixos e imagens de santos do século XVIII. Há imagens de Aleijadinho em madeira de cedro policromada e pintadas com pigmentos naturais e folhas de ouro.
Praça Melo Viana
De terça a sexta-feira, das 10h às 17h; sábados e domingos, das 12h às 17h (exceto nos horários de missa)

Lugares históricos

Chafariz do Kaquende
A cidade de Sabará conta com muitos chafarizes, sendo o mais importante o Kaquende, restaurado ainda em funcionamento. Na época colonial, toda a água que abastecia as casas da cidade vinha dos chafarizes públicos, onde os escravos buscavam o líquido em baldes para levar às casas de seus senhores. A água do Kaquende é potável e, segundo alguns moradores antigos, milagrosa.
Praça Augusto Dias. Grátis.

Casa da Ópera
Atual Teatro Municipal de Sabará, que recebe frequentemente concertos de música barroca e operetas. A casa é construída no padrão italiano de teatros e é considerada uma das melhores acústicas da América Latina por musicólogos e músicos de todo o mundo. A construção é de 1819, e sua inauguração foi celebrada juntamente com o aniversário de Dona Maria da Gloria, princesa de Portugal, com apresentações de ópera.  Quando não há shows, a casa é aberta para visitação gratuita.
Rua Pedro II, s/n. Grátis.

Como Chegar:

De carro – Saindo de São Paulo ou do Rio de Janeiro, vá até a capital mineira. De Belo Horizonte são apenas 23 quilômetros. Sabará está na região metropolitana da capital. A saída é pela Avenida Cristiano Machado, sentido Vitória (ES).

De avião – O aeroporto mais próximo é o de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte. Do aeroporto pegue o ônibus executivo para Belo Horizonte e de lá há opções de linhas a cada 15 minutos ou táxi que custará cerca de R$ 120.

De ônibus – A partir de Belo Horizonte saem ônibus para Sabará a cada 15 minutos na Avenida dos Caetés, próxima da esquina com a  Avenida São Paulo.

*O jornalista Daniel Ribeiro viajou a Belo Horizonte com o apoio da TAM (www.tam.com.br)