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Projeções em ex-pedreira na França fazem turista "entrar" em obras de arte

Mariana Pasini e Mário Barra

Do UOL, em Les Baux-de-Provence (França)

05/08/2014 18h33

Quem visita a pequena Les Baux-de-Provence, no sul da França, normalmente está em busca da aura medieval do lugar, que parou de verdade no tempo e ainda exibe muros, brasões e máquinas de cerco em suas ruelas de pedra. Mas a 300 metros da entrada da cidade existe uma pedreira abandonada de calcário cujo interior serve atualmente como opção de passeio para fãs de arte, com projeções nas paredes que fazem o visitante se sentir imerso em pinturas famosas.

Mistura única de museu com cinema, o espaço é conhecido desde 2012 como Carrières de Lumières e já está em sua terceira exposição, cada uma com cerca de um ano de duração. Nas duas exposições anteriores, os paredões do local receberam projeções de obras de mestres como Claude Monet e Vincent Van Gogh.

A mais recente, inaugurada em março de 2014, conta com quadros de artistas vienenses como Gustav Klimt e Egon Schiele, todos expandidos em paredes com até 20 metros de altura. Ao todo, a área disponível para as exibições possui mais de 6 mil metros quadrados, já que inclui as paredes e parte do solo. Para o espetáculo visual ocorrer, são empregados 100 projetores, espalhados por todo o interior da antiga pedreira.

Antes de ser renovado para receber público, o local fornecia rochas para castelos e construções das cidades vizinhas até 1930. Escondida na região do Val d’Enfer (ou Vale do Inferno), entre cidades históricas de Arles e Avignon, a mina já serviu em 1959 como cenário para o filme “Testamento de Orfeu”, de Jean Cocteau.

Somente a partir de 1977 é que o espaço passou a ser utilizado para projeções. Desde 2011, os direitos de exploração do local pertencem a um grupo chamado Culturespaces, responsável por administrar outros edifícios culturais na França como o Teatro Antigo de Orange e a Arena de Nimes, ambos heranças romanas.

Imersão completa

A pedra local, o calcário, ainda está ali, sujando calças sensíveis a pó e os calçados. Os grandes blocos comuns em locais de extração de pedra também persistem. Mas ao invés do maquinário pesado e trabalhadores, o que se encontra é um imenso espaço vazio e escuro, somente iluminado pelas pinturas.

O Carrières de Lumières fica em uma pedreira desativada do sul da França - Mariana Pasini/UOL - Mariana Pasini/UOL
O Carrières de Lumières fica em uma pedreira desativada do sul da França
Imagem: Mariana Pasini/UOL

Longe da agitação de uma atividade mineradora, a dimensão gigante das imagens convida o turista à introspecção e a contemplar a arte de uma forma diferente da qual o visitante se habituou em museus tradicionais. Dinâmicas, as projeções se combinam ao formato das paredes, e também parecem brincar com os diferentes elementos de cada quadro.

A principal sensação é a de que se está “dentro” das telas. O espectador pode ser levado a enxergar até coisas que não estão na pintura original. Ilusões de ótica, provocadas pelo formato irregular dos blocos de pedra, alteram as projeções. Paredes compridas dão outro sentido às paisagens de cidades europeias, enquanto as colunas mais altas intensificam o impacto dos retratos.

A pressa para ver todas as pinturas -- algo típico para aficionados em museus grandes -- não se faz presente, já que as projeções se repetem a cada 45 minutos. Para colaborar, não existe limite de horário para permanecer dentro da pedreira, tampouco uma rota sugerida. Sem sugestões de itinerário ou preocupação com o tempo, visitante fica livre para se sentar em qualquer canto da pedreira e simplesmente observar.

A obsessão por informação recebe um antídoto no Carrières. Nenhuma placa informa os nomes das obras que são mostradas. Mas quem desconhece o trabalho de Klimt, Schiele e demais artistas pouco nota a diferença, já que não é o objetivo da experiência bombardear o visitante com dados sobre a Secessão de Viena, escola artística que se desenvolveu na Áustria no começo do século 20 e que é o tema principal da mostra atual.

Isso não quer dizer que o Carrières não elucide nada sobre os artistas vienenses. Fora do espaço de exposição, em uma área já debaixo do sol, é possível encontrar os murais típicos de exposições que explicam a origem e importância dos pintores. Mas é dentro da “caverna” onde o visitante é levado a consumir a arte de uma forma diferente, talvez menos burocrática do que em um museu.

O Carrières de Lumières possui 2 mil metros quadrados para o público caminhar - Mariana Pasini/UOL - Mariana Pasini/UOL
O Carrières de Lumières possui 2 mil metros quadrados para o público caminhar
Imagem: Mariana Pasini/UOL

Até o som ajuda a dar outro significado a telas famosas como “O Beijo”, de Klimt, já que o espetáculo é acompanhado por uma trilha sonora cuidadosamente escolhida, que conta até com obras do compositor alemão Ludwig van Beethoven. Há ainda vez para trechos de filmes e animações. Na parte exterior da pedreira, o visitante também pode assistir a um pequeno vídeo sobre a experiência de Cocteau no lugar.

Recomendações

A imersão é tamanha que é possível até mesmo tropeçar por conta da desatenção em alguns trechos com solo mais irregular dentro da pedreira. Outro cuidado que o visitante deve ter é levar casaco, especialmente fora dos meses de verão, já que o interior sem iluminação de uma pedreira pode ser desconfortavelmente frio. Para comer, as opções mais próximas -- incluindo o restaurante anunciado no site -- estão na cidadezinha medieval, a 10 minutos a pé pela rodovia.

É necessário planejamento para lidar com o problema do acesso ao local. Chegar à região é mais fácil entre junho e setembro, quando a linha de ônibus intermunicipal L59 está disponível, levando pessoas de Arles a Saint-Rémy de Provence e passando pela estrada (A7) que leva a Les Baux e ao Carrières.

Fora da alta temporada, um táxi a partir de Arles pode custar 40 euros e dura meia hora. Apesar de curto, o trecho de estrada revela os campos de lavanda que dão fama à Provença. Alugar carro é a opção mais recomendada pelo escritório de turismo que atende o público na pequena comunidade, e o Carrières conta com uma área de estacionamento gratuita.

Não há trem direto para Les Baux, mas há estações da SNCF, a empresa que controla o sistema ferroviário francês, em diversas cidades próximas. Os aeroportos de relevância mais próximos da região são o de Avignon (a 28 km) e o de Marselha (a 70 km).

SERVIÇO
Carrières de Lumières
Exposição atual: “Klimt e Viena, um século de ouro e de cores”
Quando: Todos os dias. Mostra atual em cartaz até 4 de janeiro de 2015.
Horário: Até 30 de setembro, das 9h30 às 19h; e de 1º de outubro a 4 de janeiro de 2015, das 10h às 18h (última entrada ocorre uma hora antes do fechamento)
Onde: Route de Maillane, 13.520, Les Baux-de-Provence – Provença, França
Quanto: 10 euros
Mais informações: www.carrieres-lumieres.com ou (00 XX 33) 04 90 54 47 37
Transporte: ônibus L59 desde Arles (somente entre junho e setembro). Recomenda-se alugar carro, se possível.