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Caminhada no Rio Grande do Sul cruza a maior praia do mundo em extensão

Eduardo Vessoni

Do UOL, na Praia do Cassino (RS)

22/10/2014 07h00

Naquelas terras distantes de mar agitado, no extremo sul do Brasil, não há sinal de telefone, muito menos mensagens apitando na caixa de entrada do e-mail. Não existem também hotéis, lojas ou restaurantes.

Ainda assim tem gente que tira férias para passar alguns dias em total isolamento, em uma das regiões mais ermas do sul do país.

Considerada a maior praia do mundo em extensão, a Praia do Cassino é destino para caminhantes aventureiros que cruzam os 220 km de orla entre os molhes da barra da Lagoa dos Patos, no balneário do Cassino, no Rio Grande do Sul, até a barra do arroio Chuí, na fronteira com o Uruguai.

Neste tipo de viagem, onde o estar é mais importante do que o chegar, o viajante percorre 180 km em áreas completamente desérticas, onde a única movimentação é a das águas que chegam furiosas na praia de areia batida.

De um lado, o Oceano Atlântico. Do outro, a Estação Ecológica do Taim e a Lagoa da Mangueira. De resto, é deixar os pés (e a mente) comandarem a travessia.

Isolamento 

A viagem de sete dias começa na cidade de Rio Grande, cidade gaúcha onde são dadas as primeiras instruções para quem seguirá em total isolamento nos dias seguintes. A cada dia são percorridos 30 km, aproximadamente, com paradas para almoço e acampamento. Tudo ali mesmo, na maior e mais isolada praia do Brasil.

Localizada a 22 km do centro de Rio Grande e a 334 km de Porto Alegre, a Praia do Cassino faz parte do balneário de mesmo nome. Famosa pelos diversos naufrágios que aconteceram naquela região de bancos de areia traiçoeiros, a Praia do Cassino abriga ruínas ao longo da travessia como as do navio Altair, encalhado ali desde 1976 após enfrentar uma tempestade.

Outra atração que os caminhantes encontram na praia são os molhes da Barra, cais construídos para manter a profundidade do canal para navegação.

Construída no início do século passado, entre 1909 e 1925, a obra é considerada uma das maiores da engenharia oceânica. Atualmente, o local serve como refúgio de leões e lobos-marinhos.

Ao longo da Praia do Cassino há quatro faróis que garantem tom nostálgico à viagem solitária: o farolete Verga e o farol da Sarita, ambos desabitados. Já o icônico Albardão e o farol do Chuí, ocupados pela Marinha brasileira, podem ser visitados, cujos terraços garantem vistas panorâmicas do imenso tapete de areia que se estende sob os pés.

O acampamento próximo ao Albardão, erguido em 1909 como o primeiro de uma rede de iluminação da costa entre Rio Grande e o Uruguai, é considerado um dos pontos altos da travessia.

E assim, a cada quilômetro vencido, o caminhante se dá conta de que estar é mais importante do que chegar.

Confira a programação diária da travessia:

  • 1º dia (33 km): Destaque para os molhes da Barra do Cassino;
  • 2º dia (32 km): Caminhada na praia até o 2º acampamento;
  • 3º dia (36 km): Caminhada na praia até o 3º acampamento;
  • 4º dia (32 km): Destaques para o Farol do Albardão e Lagoa da Mangueira, e caminhada até o 4º acampamento;
  • 5º dia (32 km): Caminhada até o 5º acampamento;
  • 6º dia (26 km): Caminhada até o último acampamento;
  • 7º dia (29 km): Último trecho da caminhada com destaque para o centrinho de Hermenegildo, almoço no bar do seu Zé, e chegada ao fim da maior praia do mundo, nos molhes do Arroio Chuí, na fronteira entre o Brasil e o Uruguai. Nesta última etapa é possível subir no Farol do Chuí para observar a fronteira entre os dois países e as praias uruguaias. As caminhadas terminam, diariamente, às 17h30, quando o carro de apoio volta para buscar os que ainda estão caminhando.