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Inhotim merece dois dias para ser explorado; veja passo a passo do tour

David Santos Jr

Do UOL, em Inhotim (MG)

12/11/2014 22h13

Localizado no município de Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte, Inhotim é um local único no mundo. O empresário mineiro Bernardo Paz fundou em sua propriedade, no ano de 2002, o Instituto Cultural Inhotim, com a finalidade de abrigar um acervo de arte contemporânea e também uma coleção botânica. Em 2005, o Instituto foi aberto para visitas pré-agendadas e, em 2006, ao público em geral. Em 2014 o local foi escolhido pelos usuários do Trip Advisor como um dos 25 melhores museus do mundo e hoje estima-se que, anualmente, cerca de 300 mil pessoas visitem o Inhotim. 

Não se sabe ao certo a origem do nome, mas uma estória interessante contada pelos mais antigos moradores da região diz que a palavra surgiu como referência a um minerador inglês chamado Sir Timothy que, na linguagem popular, passou de "Senhor Tim" para "Nhô Tim".

Diferentemente da maioria dos museus, no Inhotim as obras de arte contemporânea estão distribuídas em pavilhões, galerias e ao ar livre, em meio a um Jardim Botânico, totalizando 110 hectares de área. São cerca de 700 obras produzidas por artistas de diferentes partes do mundo e 4.200 espécies de plantas de todos os cantos do planeta. Muitas obras foram construídas no sistema “site-specific”, no qual o artista cria no mesmo local de exposição.

Para facilitar a circulação pelo complexo e o planejamento da visita, o UOL Viagem criou este mapa abaixo. Cada obra ou galeria destacada no texto está presente na ilustração - é só passar o mouse por cima de cada ponto.

 


O Instituto Inhotim está preparado para receber o visitante com uma estrutura impressionante. Possui restaurantes, lanchonetes, pizzaria, cafés, estacionamento, serviço de transporte com carrinhos elétricos, visitas guiadas com monitores, bebedouros e sanitários estrategicamente distribuídos, lojas com produtos de artistas locais e visitas de grupos mediante agendamento. É até possível fazer ensaios de fotografia para gestantes, debutantes e noivas, mediante pagamento. Está previsto para breve a construção de um hotel dentro da área do parque.

Não é permitido fotografar ou filmar dentro das galerias nem ao lado das obras de arte externas, entrar com bebidas alcoólicas, animais de estimação, alimentos, brinquedos, instrumentos musicais, fazer piquenique, alimentar os animais, tocar nas obras, coletar plantas e usar o celular dentro das galerias e pavilhões. Além de preservar o patrimônio do Instituto, estas medidas permitem que o visitante utilize o tempo para interagir com as obras e a natureza. O tempo deve ser levado em conta quando se planeja conhecer o Inhotim. A área é imensa e as obras e jardins são tão curiosos e interessantes que o ideal é passar de dois a três dias por lá.

Primeiro dia
A sugestão de visita para um fim de semana é aproveitar a disposição natural das galerias e obras e dividir o passeio em duas partes. No primeiro dia, vá conhecer o Eixo Rosa e o Eixo Amarelo e, no segundo dia, o Eixo Laranja. Na entrada do parque o visitante recebe um mapa com todas as informações necessárias e localização das galerias, obras externas e serviços.

Por dentro da galeria Sonic Pavilion, há um poço tubular de 202 metros de profundidade, ¿com microfones e equipamentos de amplificação sonora instalados - David Santos Jr/UOL - David Santos Jr/UOL
Por dentro da galeria Sonic Pavilion, há um poço tubular de 202 metros de profundidade para ouvir o "som da terra"
Imagem: David Santos Jr/UOL

Dependendo da vontade de caminhar, o visitante pode fazer o percurso a pé ou em carrinhos elétricos (pagos à parte). Após entrar no parque e, de posse do mapa, um bom começo é seguir pelo Eixo Rosa até a Galeria Doug Aitken (G10), que fica no ponto mais distante e mais elevado da área de visitação. Apesar da caminhada ser longa e morro acima, vale a pena, ainda mais que o restante do percurso tem só descida.

A galeria Sonic Pavilion se parece com um disco voador de vidro e aço. A vista é linda e a obra do artista é genial. Ele perfurou o solo até uma profundidade de 202 metros e instalou microfones nas profundezas da terra. Os sons captados são amplificados e lançados no interior da galeria. É uma experiência que nos remete ao mais primitivo do ser humano, sons parecidos com os que escutamos durante a gestação.

Bem perto está a Galeria Matthew Barney (G12), com a obra "De Lama a Lâmina": domos geodésicos de vidro e aço ficam no meio de uma área de mata. A preocupação ambiental do artista e a integração da obra com a natureza pode ser vista nas árvores caídas e descascadas na trilha de acesso à galeria, e o interesse pelo sincretismo religioso da Bahia está nas cores e materiais utilizados na instalação.

Uma característica incrível do Inhotim é o fato de as galerias e obras externas estarem distantes umas das outras. Isso permite que o visitante reflita e absorva o que viu enquanto se desloca pelo parque. Esse respiro mental torna a visita leve e bastante enriquecedora.

Galeria Matthew Barney conta com a obra "De Lama a Lâmina": são domos geodésicos de vidro e aço no meio de uma área de mata - David Santos Jr/UOL - David Santos Jr/UOL
Galeria Matthew Barney conta com a obra "De Lama a Lâmina": domos geodésicos de vidro e aço no meio de uma área de mata
Imagem: David Santos Jr/UOL

Um pouco mais abaixo está a Galeria Miguel Rio Branco (G16). É um prédio arrojado e abriga fotografias, vídeos e instalações multimídias criadas pelo artista em 30 anos de carreira. Em frente a Galeria Doris Salcedo (G8), o Eixo Rosa se conecta com o Eixo Amarelo. Neste local existe um lago rodeado por duas galerias, Mata (G1) e True Rouge (G2), e diversas obras externas de artistas como Tunga, Edgar de Souza, Olafur Eliasson e Amílcar de Castro, entre outros. E também o restaurante Tamboril e o Bar do Ganso, charmoso bistrô concebido pelo designer Paulo Henrique Pessoa. É a hora ideal para o almoço e uma pausa.

Seguindo pelo Eixo Amarelo, o visitante encontra outro lago com as galerias Fonte (G4), Rivane Neuenschwander (G13), Praça (G3) - com destaque para as obras "Abre a Porta" e "Rodoviária de Brumadinho", dos artistas John Ahearn e Rigoberto Torres, e a Galeria Cildo Meireles (G5)." Através" e "Desvio Para o Vermelho" são obras de Cildo que merecem um tempo para digerir toda experiência. Partindo da Galeria Praça e passando pela Igrejinha chega-se a Galeria Lygia Pape (G20), já no Eixo Laranja. Um cubo de concreto entre palmeiras abriga a obra "T-téia", da artista que inaugurou o movimento neoconcreto no Brasil.

Para finalizar o primeiro dia, na parte baixa do Eixo Rosa estão obras imperdíveis como "Narcissus Garden", da artista japonesa Yayoi Kusama (A17). Quinhentas esferas de aço inoxidável flutuam sobre um tanque de concreto coberto por água. O visitante vê sua própria imagem refletida e fragmentada pelas esferas em movimento. Na margem do lago está a "Invenção da Cor - Penetrável", de Hélio Oiticica, obra construída postumamente seguindo precisas instruções deixadas pelo artista.

O visitante pode andar pelo "Penetrável" de Oiticica e entrar em contato com elementos da obra de arte como a forma, a cor e o espaço - David Santos Jr/UOL - David Santos Jr/UOL
O visitante pode andar pelo "Penetrável" de Oiticica e entrar em contato com elementos da obra de arte como a forma, a cor e o espaço
Imagem: David Santos Jr/UOL

O visitante pode andar pelo "Penetráve"l e entrar em contato com elementos da obra de arte, como a forma, a cor e o espaço. Ali ao lado, há um jardim de palmeiras azuis muito exótico, o Restaurante Oiticica, a Galeria Lago (G6) e Galeria Marcenaria (G9). Na margem oposta do lago fica a interessante "Bisected Triangle" (A4), do artista Dan Graham, formada por vidros espelhados.

Segundo dia
O segundo dia não exige uma grande caminhada de início. Como o Eixo Laranja é circular, o visitante pode ir direto para a Galeria Adriana Varejão (G7). Obras da artista, como "Celacanto Provoca Maremoto", mosaico de 184 peças que faz referência histórica ao barroco e aos azulejos portugueses, e "Panacea Phantastica", uma instalação externa formada por imagens impressas por serigrafia em azulejos de 50 plantas alucinógenas, de várias partes do mundo, estão em um prédio incrível. Repare nos reflexos formados no espelho d'água que emoldura a galeria.

Bem perto está a obra "Desert Park" (A19), de Dominique Gonzalez-Forester. São pontos de ônibus instalados sobre areia branca no meio da floresta tropical. Seguindo morro acima, estão os famosos fuscas coloridos de Jarbas Lopes (A6). As peças da lataria foram trocadas entre os três fuscas, que chegaram rodando de Belo Horizonte, e estacionaram nos jardins do parque.

O Narcissus Garden, da artista japonesa Yayoi Kusama, conta com 500 esferas de aço inoxidável, que flutuam sobre um tanque de concreto coberto por água - David Santos Jr/UOL - David Santos Jr/UOL
O Narcissus Garden, da artista japonesa Yayoi Kusama, já é um dos símbolos de Inhotim
Imagem: David Santos Jr/UOL

Adiante está a Galeria Cosmococa (G15), de Hélio Oiticica e Neville d’Almeida, uma viagem à parte. Nela, o visitante pode interagir e experimentar vários tipos de sensações e até mesmo entrar em uma piscina para apreciar uma exibição de slides com trilha sonora temática. Antes do almoço, o visitante pode ir até a clareira onde está a Galeria Cristina Iglesias (G19).

No ponto mais extremo do Eixo Laranja estão as obras do artista Cris Burden, "Beehive Bunker" (A21) e "Beam Drop Inhotim" (A14). Nesta última, o artista lançou de um guindaste 71 vigas de ferro sobre uma piscina de concreto fresco. O resultado é impressionante. A seguir está a Galeria Carroll Dunham (G22) com pinturas das impressões do artista sobre o Inhotim. É a décima oitava galeria permanente do Instituto.

Na Galeria Carlos Garaicoa (G18) está a obra "Ahora Julguemos a Desaparecer (II)", que representa a degradação de Havana, a capital de Cuba. O artista recriou miniaturas de prédios em constante desaparecimento. Após alguns dias, as miniaturas consumidas pelo fogo são substituídas por outras idênticas. Uma cidade sobre a mesma cidade, em um eterno ciclo de destruição e reconstrução.

Na reta final está o Galpão Cardiff & Miller (G11). A obra "The Murder of Crows" é formada por 98 caixas de som as quais emitem cantigas de ninar, composições musicais e textos. Para se recuperar da experiência assustadora da obra acima, o visitante pode se divertir com a "Viewing Machine" (A13), de Olafur Eliasson, um caleidoscópio gigante. E para fechar a peregrinação cultural-botânica, a Galeria Psicoativa (G21). Nela se encontra uma retrospectiva de 30 anos de carreira de Tunga, o artista que influenciou o empresário Bernardo Paz a investir em arte contemporânea.

Visitar o Instituto Inhotim certamente é viver uma experiência diferente, intensa e modificadora, independente do conhecimento que cada um tem sobre arte contemporânea. 

"Beam Drop Inhotim" tem uma história inusitada: o artista lançou de um guindaste 71 vigas de ferro sobre uma piscina de concreto fresco. O resultado foi este da foto - Celina Cardoso/UOL - Celina Cardoso/UOL
O artista lançou de um guindaste 71 vigas de ferro sobre uma piscina de concreto fresco e conseguiu este resultado
Imagem: Celina Cardoso/UOL