Turistas se aventuram entre campos minados para realizar ritual cristão
Os fiéis olham constantemente para o céu antes de afundar nas águas do rio Jordão que banham Qasr al-Yahud, destino do Oriente Médio sagrado para cristãos do mundo inteiro. Foi neste local que, há aproximadamente dois mil anos, Jesus teria sido batizado por João Batista.
É o solo ao redor, porém, que primeiro fisga a visão dos turistas que visitam a área. Apesar da aura divina, a região está cercada por extensos campos minados: enterrados no chão desértico, milhares de artefatos explosivos se espalham por terrenos ermos e ruínas de igrejas. Atrás de emaranhados de arame farpado e portões de ferro coroados pela cruz, o aviso: “Perigo. Minas!”.
Qasr al-Yahud está dentro da Cisjordânia, território que os palestinos querem transformar em seu país, mas que hoje tem boa parte de sua extensão controlada por Israel.
Em 1967, o local encontrava-se sob domínio da Jordânia. Naquele ano, ao vencer a Guerra dos Seis Dias contra seus vizinhos árabes (incluindo o Estado jordaniano), Israel avançou até a margem ocidental do rio Jordão e colocou Qasr al-Yahud sob sua jurisdição.
O conflito deixou como herança milhares de minas na zona que cerca o sítio batismal. Boa parte delas não foi removida até hoje.
Fé tranquila
O cenário de guerra, porém, parece não assustar os peregrinos. Quando o UOL Viagem visitou o lugar, 14 senhoras russas, cobertas por mantos brancos, entravam calmamente nas águas barrentas do Jordão para rezar e buscar a purificação da alma. Dois jovens soldados israelenses, monitorando a fronteira, observavam o ritual com cara de tédio.
Na paisagem, além das ruínas minadas, destacam-se estruturas operantes de igrejas das mais diversas correntes do cristianismo. Fiéis erguem templos nesta área desde o século 4 d.C. e, ao redor de Qasr al-Yahud, aparecem hoje de edifícios franciscanos às chamativas abóbadas das igrejas ortodoxas.
"Foi uma grande felicidade visitar este lugar, por onde passou um homem que tentou nos ensinar a viver em sociedade", relata a brasileira Valéria Gadioli, que acaba de terminar uma peregrinação pela Terra Santa. "Ao mesmo tempo, todas estas bombas mostram que a mensagem de paz de Jesus ainda precisa ser difundida pelo mundo".
Em 2011, ao reabrir Qasr al-Yahud para o turismo de massa, o governo israelense afirmou que a área era segura para receber forasteiros. Na época, o Exército de Israel teria retirado da região mais de 8.000 minas terrestres, deixando o caminho que é percorrido pelos peregrinos completamente livre de artefatos explosivos. Hoje, as minas terrestres que sobraram estariam totalmente isoladas atrás dos arames farpados.
O governo jordaniano, por sua vez, assinou um tratado de paz com Israel em 1994 e deixou de ser – pelo menos até agora – uma ameaça.
Em 2011, o governo de Israel também investiu US$ 2,3 milhões na construção de uma infraestrutura para receber os fiéis em Qasr al-Yahud, que inclui escadas para entrar no Jordão, corrimãos para ajudar no equilíbrio dentro da água e espaços com chuveiro e vestiário.
Concorrência árabe
"Qasr al-Yahud é um local seguro, mas ainda recebe poucos brasileiros", diz Samuel Ben Zikri, um paraense de família judia que guia turistas do Brasil por Israel. "Apenas 5% dos brasileiros que recebo aqui optam por vir até esta parte do rio Jordão".
Ben Zikri conta que a maioria dos turistas que percorre a Terra Santa, na hora de passar pela experiência do batismo, acaba escolhendo o sítio religioso de Yardenit, localizado no setor norte do rio e dono de um ambiente mais pacífico.
Situado perto da cidade de Tiberíades, o local não tem campos minados ao seu redor e, por estar perto do mar da Galileia, apresenta águas mais límpidas. Além disso, a infraestrutura do lugar inclui lojinhas de presentes e espaço que pode comportar dezenas de batismos ao mesmo tempo.
O governo jordaniano, por sua vez, afirma que Jesus foi batizado dentro do que é hoje seu território, na margem oriental do Jordão situada bem na frente de Qasr al-Yahud. O local é chamado pelo nome árabe de Al-Maghtas e também exibe um espaço especial para cerimônias de batismo, além de ser importantíssimo para atrair visitantes ao reino hashemita.
Se a batalha por peregrinos for a única disputa entre Israel e Jordânia, quem ganhará é o turista.
SERVIÇO
É recomendável que qualquer visita a Qasr al-Yahud seja feita na companhia de um guia turístico. A maioria dos turistas que visita o sítio batismal vem de Jerusalém ou da Galileia: a companhia de um profissional do turismo local pode facilitar o trânsito pela Cisjordânia, hoje recheada de postos de controle do Exército israelense. Para saber quem são os guias credenciados para operar na região, acesse o site do Ministério do Turismo de Israel: www.goisrael.com.br
Antes de viajar, informe-se também sobre a situação da segurança na região.
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