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Paris em 36 horas: Cidade Luz é para quem gosta de romance, arte e boa mesa

Amy Thomas

New York Times Syndicate

29/04/2015 10h28

Embora a Margem Direita do Sena, em Paris, venha sentindo os efeitos do internacionalismo e da ascensão irrefreável dos "bobos" (a versão local para hipster), que, de uns anos para cá, mudaram a paisagem, a Margem Esquerda conseguiu preservar a alma da capital francesa. Basta caminhar pelas vielas de pedra do Quartier Latin ou os boulevards arborizados do St.-Germain-des-Prés para se ter a nítida sensação de fazer parte de uma das fotos em preto e branco de Robert Doisneau. As cafeterias, os prédios de calcário, a população bem vestida criam um cenário atemporal – o que não significa que o sul da cidade seja imune às mudanças, mas, pelo menos por enquanto, o charme clássico ainda ganha das influências contemporâneas.

SEXTA-FEIRA

15h30 - Para abrir o apetite
A Margem Esquerda abriga riquezas culturais, artísticas e de moda, mas uma das melhores maneiras de mergulhar nos hábitos franceses é através da comida. O Paris by Mouth, um site que já tem cinco anos, oferece excursões de três horas a grupos pequenos, incluindo a popular Taste of St.-Germain (95 euros, ou cerca de US$100 com o euro a US$1,05), que vai lhe abrir o fim de semana com delícias de todos os tipos. Entre as seis ou sete paradas estão a Padaria Poilâne, que produz os mesmos filões de pão de massa levedada nos fornos à lenha do subsolo há 83 anos; Le Marché Couvert (ou o mercado coberto), onde os parisienses endinheirados compram seu saucisson, leite fresco e legumes e verduras sazonais; e Pierre Hermé, o "Picasso dos Doces", cujos bolos e macarons são quase bonitos demais para serem comidos. Além das iguarias degustadas ao longo do passeio, há também informações históricas e culturais que vão ajudá-lo a explorar o cenário gastronômico sozinho. 

19h30 - Para cima e para o alto
Não dá para visitar Paris e ignorar a dama mais majestosa de todas: a Torre Eiffel, obra majestosa de 324 metros em ferro trabalhado, firmemente plantada no gramado do Champ de Mars, perto do Sena. É a estrutura mais alta da cidade. Dois elevadores vão levá-lo lá para o topo (ou, se tiver coragem, suba os 1.665 degraus; 15,50 euros e 5 euros, respectivamente) e, como essa é a "heure bleue", aproveite a hora mágica em que a cidade inteira está banhada de uma luz etérea. Se ficar apreciando a paisagem por bastante tempo, será brindado com o show de luzes que acontece na hora cheia, quando vinte mil lâmpadas afixadas em todos os lados da torre piscam e dançam por cinco minutos incríveis.

Aproveite a relativa tranquilidade na caminhada do anglicizado 7º Arrondissement, rumo ao restaurante basco – o primeiro a abrir em Paris, há mais de 80 anos – Chez L'Ami Jean - Chris Carmi­chael/The New York Times - Chris Carmi­chael/The New York Times
O Chez L'Ami Jean é um restaurante basco imperdível em Paris
Imagem: Chris Carmi­chael/The New York Times

22h - Drama no jantar
Aproveite a relativa tranquilidade na caminhada do anglicizado 7º Arrondissement, rumo ao restaurante basco – o primeiro a abrir em Paris, há mais de 80 anos – Chez L'Ami Jean. Dentro do salão lotado e pouco iluminado você se verá lado a lado com o pessoal local mais vibrante e os turistas que querem aproveitar a noite. Enquanto estuda o menu degustação de preço fixo (78 euros), observe as micagens (e ataques ocasionais de estrelismo) do chef, Stéphane Jégo, pela vitrine que separa a cozinha enquanto ele prepara pratos como a cavala ao vinagrete de alho-poró e a barriga de porco com ostras e coelho. Guarde espaço para a sobremesa: o famoso arroz doce da casa, acompanhado de caramelo, flor de sal e merengues crocantes é farto e dá para quatro – e vai mudar totalmente a sua percepção do doce, geralmente considerado sem graça.

SÁBADO

11h - Arte de vanguarda
Se para você os museus nacionais como o d'Orsay são grandes demais e as galerias de St. Germain muito pequenas para matar a vontade de apreciar arte, provavelmente vai amar as proporções das fundações parisienses e as mostras que organizam. A Cartier Fondation e a Fondation Henri Cartier-Bresson, por exemplo, ficam a uma curta distância uma da outra, de lados opostos do famoso Cemitério de Montparnasse, perfeitas em sua dose equilibrada de clássico e arrojado. Há várias exposições temporárias ao longo do ano. A Cartier – situada no prédio Jean Nouvel, contemporâneo e arejado – recebe trabalhos de talentos prestigiados como o japonês Takeshi Kitano e o escultor australiano Ron Mueck. Já a Cartier-Bresson, menor e mais modesta, se concentra em fotógrafos como Walker Evans e Saul Leiter.

13h30 - Um almoço que vale a pena
A menos que seja para esperar pão fresco na padaria, ficar na fila por causa de comida é coisa que parisiense não faz – a única exceção é Le Comptoir du Relais, e você também deve entrar para saber por quê. Em uma esquina meio caída do St. Germain, de fato, só se percebe a pequena casa por causa da aglomeração de famintos que querem provar as delícias do chef Yves Camdeborde, responsável pela tendência da "bistronomia" que toma conta da Margem Direita. A fusão do ambiente do bistrô casual e da alta cozinha revela toda a sua mágica em pratos simples, mas fantásticos, como o croque monsieur de salmão defumado, cremoso e crocante (10 euros) ou mesmo a salada sazonal (13 euros), que leva pelo menos dez ingredientes e é polvilhada com pedacinhos de cebola crocante.

O Jardim de Luxemburgo já não é mais a única área verde da região onde se pode comer as guloseimas que acabou de comprar; Les Berges, uma faixa de quase 2,5 km ao longo do Sena, só para pedestres, foi inaugurada em 2013 – e o que era uma pista que fedia a diesel agora fica cheia de famílias inteiras, corredores, ciclistas e skatistas - Chris Carmi­chael/The New York Times - Chris Carmi­chael/The New York Times
Paris oferece alguns dos mais lindos jardins do mundo para o turista
Imagem: Chris Carmi­chael/The New York Times

15h - Ah, a moda
Já que você está no meio de um bairro de compras movimentado, por que não usar seus cartões de crédito para adquirir alguns tesouros franceses? (Não se esqueça de pedir informações sobre o reembolso do VAT.) Alexandra Sojfer faz os guarda-chuvas e bengalas mais enfeitados que se possa imaginar, com detalhes como cabo esculpido de madeira com entalhe de cabeça de animal e sombrinhas de tafetá enfeitadas com cristais Swarovski. Da rua, a Deyrolle parece ser uma loja de jardinagem modesta, mas se for ao piso superior vai encontrar um empório exótico com cabeças de rinoceronte, esqueletos de pantera, cascos de tartaruga e tudo o que há relacionado à taxidermia. E deixe para os franceses a tarefa de vender até velas de grife. Cire Trudon, fundada em 1643, já forneceu para a corte do Rei Luis XIV! Hoje você pode levar para casa seu próprio pedaço da história francesa: o busto incendiário de Maria Antonieta ou Napoleão.

18h - Vista do terraço
Os parisienses jantam tarde; com isso, você tem a desculpa de se divertir com um de seus passatempos preferidos: ficar vendo o movimento nos terraços dos cafés. Pegue um dos lugares cobiçados do Café de Flore, onde nomes como Simone de Beauvoir e Picasso já bebericaram, fumaram e elucubraram bastante, e repare nos clientes tradicionais cumprimentando o maître d'hôtel com beijinhos enquanto os garçons, em seus aventais brancos longos, com bandejas de aperitivos nas mãos, acenam e sorriem. Experimente o Campari de bitter (9,80 euros) ou o kir doce, que nada mais é que vinho branco com uma dose de cassis (9,50).

20h - A nova culinária
Nem descolada, nem saudosista, o Semilla consegue o equilíbrio perfeito da nova cozinha parisiense. Inaugurado em 2012 pela dupla internacional composta de Juan Sanchez e Drew Harré, a casa de decoração enxuta, mas sofisticada (mesas de mármore, piso de concreto, vigas de madeira no telhado), atrai a clientela urbana das vertentes artística e burguesa locais. O cardápio é organizado em categorias como "cru", "frito" e "assado"; destaque para o cogumelo shiitake, refogado em óleo de gergelim (6 euros) e o côte de boeuf para dois, que é exibido à mesa e depois volta à cozinha, onde é fatiado e servido com purê de batata e creme de raiz forte (76 euros).

A Cartier Fondation recebe trabalhos de talentos prestigiados pelo mundo - Chris Carmi­chael/The New York Times - Chris Carmi­chael/The New York Times
A Cartier Fondation recebe trabalhos de talentos prestigiados pelo mundo
Imagem: Chris Carmi­chael/The New York Times

DOMINGO

10h - Hora de despertar
Todo domingo, das nove a uma e meia da tarde, o ar do Boulevard Raspail, entre a Rue Cherche-Midi e a Rue de Rennes, se enche com o aroma tentador de cebolas fritas. São as galettes, feitas com cebola ralada, batata e queijo (2.50 euros), em uma das dezenas de barraquinhas do Marché Biologique Raspail. A feira orgânica é um dos tesouros do bairro há 26 anos. Um conselho: passeie entre as bancas, admire e até cobice, mas não toque as mercadorias à mostra. Depois que se decidir entre os filões de pão doce lotados de frutas secas; as torres de queijo de cabra e Comté; as cestas de ervas frescas e alfaces; diferentes tipos de mel, geleia e outras delícias, aí, sim, os vendedores terão o maior prazer em atendê-lo.

Meio-dia - Caminhada dominical
O Jardim de Luxemburgo já não é mais a única área verde da região onde se pode comer as guloseimas que acabou de comprar; Les Berges, uma faixa de quase 2,5 km ao longo do Sena, só para pedestres, foi inaugurada em 2013 – e o que era uma pista que fedia a diesel agora fica cheia de famílias inteiras, corredores, ciclistas e skatistas. Comece na entrada da Pont de l'Alma e siga rumo oeste, passando pelas exposições de arte temporárias, as paredes de escalada e estações para amarelinha e peteca. Quando chegar ao outro extremo, perto do Musée d'Orsay, abolete-se nas arquibancadas para admirar os barcos deslizando no rio.

14h - Uma doce despedida
Há sempre espaço na barriga (ou na bolsa) para um chocolate francês. E considerando-se que St. Germain é o centro extraoficial do universo dessa iguaria, abrigando pelo menos uma dezena de chocolatiers famosos, faça a última parada em uma das casas do bairro, serpenteando por uma viela para chegar a Un Dimanche à Paris, de Pierre Cluizel. A boutique é também um salão de chá/restaurante/lounge de 780 m² dedicados aos chocolates finos. Uma amostra do chocolat chaud do chef confeiteiro Nicolas Bacheyre – servido quente, não pelando – em uma xícara da tradicional porcelana Limoges, é a melhor maneira de se despedir da cidade em estilo clássico.

Em Paris, Pierre Hermé é considerado o "Picasso dos Doces", com bolos e macarons bonitos demais para serem comidos - Chris Carmi­chael/The New York Times - Chris Carmi­chael/The New York Times
Em Paris, Pierre Hermé é considerado o "Picasso dos Doces"
Imagem: Chris Carmi­chael/The New York Times

Onde ficar

Construído em 1827, L'Hotel (13 rue des Beaux Arts, 6º Arrondissement, 33-1-44-41-99-00; l-hotel.com) foi a última residência de Oscar Wilde e ocupa um lugar especial no coração dos parisienses. Discreto e histórico, o hotel possui vinte quartos glamourosos, incluindo uma cobertura de 55 m² com terraço, bar e restaurante e banho turco no subsolo. As diárias variam de 295 a 1.050 euros.

Localizado atrás da recém-reformada igreja de St.-Sulpice, o Hotel Recamier (3 bis, Place Saint-Sulpice, 6º Arrondissement, 33-1-43-26-04-89; hotelrecamier.com) tem seis andares e é tranquilo, chique e sofisticado. O decorador Jean-Louis Deniot é responsável por cada um dos 24 quartos que, embora variem de tamanho, têm cores neutras e relaxantes. Diárias entre 280 e 495 euros.