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Paris não é só para os ricos; veja como curtir a cidade com apenas US$ 100

Seth Kugel

New York Times Syndicate

23/06/2015 13h41

Como concierge do elegante hotel Pavillon de la Reine, em Paris, Arnaud Ilisca usa casaca. Sua atitude, apesar de elegante, é simpática; suas dicas são dadas em um inglês impecável, com o mínimo de sotaque francês, só para lhe dar legitimidade. A qualquer momento pode organizar um cruzeiro privado pelo Sena ou fazer uma reserva quase impossível em um restaurante três estrelas do Michelin. Em outras palavras, é o tipo da pessoa a que não tenho acesso nas minhas viagens frugais.

No entanto, lá estávamos nós dois, em uma tarde de quinta-feira recente, no bar do Pavillon, situado em um prédio da Place des Vosges, que por sinal já foi residência real. Ilisca estava criando um roteiro perfeito de atividades na cidade para um hóspede abastado fictício. Custo: cerca de mil euros (ou pouco mais de US$ 1.100). Eu, bebericando meu expresso, fazia anotações para o mesmo fim – mas criando um itinerário semelhante por um décimo do preço.

Comecei o mergulho na toca do coelho parisiense on-line, com blogs e conselhos de amigos e colegas que vivem na capital (incluindo Seth Sherwood e Pamela Druckerman, que contribuem para o New York Times, e Meg Zimbeck, fundadora do blog Paris by Mouth). Fiz apenas uma mudança no itinerário de Ilisca: ele sugeriu um almoço à la carte e jantar a prix fixe ("preço fixo"); eu só mudei a ordem, já que a segunda opção pode ser uma pechincha na hora do almoço em Paris. E lá fui eu.

O Blé Sucré é uma confeitaria de Paris que vende deliciosos doces  - Alex Crete­y-Sys­terma­ns/The New York Times - Alex Crete­y-Sys­terma­ns/The New York Times
O Blé Sucré é uma confeitaria de Paris que vende deliciosos doces
Imagem: Alex Crete­y-Sys­terma­ns/The New York Times

CAFÉ DA MANHÃ

Limite máximo
O petit déjeuner a preço fixo do Carette, confeitaria chique com mesas espalhadas sob os arcos que cercam a Place des Vosges, custa 18,50 euros, ou US$20,64 com o euro a US$1,12.

Limite mínimo
Troquei a suntuosa Place des Vosges por uma mesa na calçada de frente para a arborizada Praça Trousseau, local perfeito para observar o despertar do 12º arrondissement. Eu estava no Blé Sucré, confeitaria com um visual comum que engana muito; é comandada por Fabrice Le Bourdat, antigo chef confeiteiro do Le Bristol, restaurante três estrelas hoje chamado Epicure. Junto com o expresso, comi um kouign-amann, versão caramelada entre um palmier e um croissant típica da região da Bretanha e que pode ser comparado ao cronut. A versão caprichada do Blé Sucré custa só 1,76 euros.

Com o café, a refeição saiu 3,26 euros, mas senti falta do suco de laranja fresco que sabia fazer parte da oferta do Carette. Sorte minha que uma senhora muito bem vestida que comia sozinha em uma mesa perto da minha achou graça no meu francês enferrujado e sugeriu que eu fosse à feira Aligre, ali perto, onde os legumes e verduras eram tão bonitos que senti pena de não ter uma cozinha para prepará-los (tive que me contentar com um post no Instagram). Um suco de laranja ali saiu por 65 centavos.

A feira Aligre tem livros e opções de comida em conta para quem visita Paris - Alex Crete­y-Sys­terma­ns/The New York Times - Alex Crete­y-Sys­terma­ns/The New York Times
A feira Aligre tem livros e opções de comida em conta para quem visita Paris
Imagem: Alex Crete­y-Sys­terma­ns/The New York Times

COMPRAS

Limite máximo
Ilisca manda os hóspedes para as lojas de alta costura do famoso Triângulo de Ouro: Champs-Élysées, Avenue Montaigne e Avenue George V. Vamos dizer que nosso bambambã imaginário gaste 300 euros em algo modesto na Gucci ou Prada.

Limite mínimo
Minha primeira ideia foi o imenso mercado de pulgas Les Puces, no distante Porte de Clignancourt, mas um site excelente me convenceu a explorar as versões menores e mais ocasionais da região (a lista se encontra no bit.ly/ParisFlea). De fato, minha sessão de compras começou logo depois que engoli o suco de laranja, na feira ali ao lado. Por um euro adquiri uma edição amarelada, de 1951, de Temps Modernes, a revista editada por Jean-Paul Sartre (que, aliás, trazia um artigo chamado "Deus é Fotogênico?", mas, na verdade, falava sobre a qualidade dos filmes religiosos da época; o título era uma jogada esperta para pegar turistas norte-americanos 64 anos no futuro). Três feiras depois, em Village St.-Paul, me apaixonei por um cabideiro azul de parede, pequeno e lindo. Chorei até conseguir baixar o preço de 28 para 22 euros, alegando ser um "pauvre Américain" (o cara não acreditou em mim, mas pelo menos serviu para engatar a conversa).

ALMOÇO

Limite máximo
L'Arpège foi agraciado com três estrelas pelo guia Michelin e está em 25º lugar entre os melhores do mundo segundo a revista Restaurant. Seu chef, Alain Passard, é famoso pelo locavorismo, especialmente em relação aos legumes e verduras. O menu degustação (lembre-se que deveria ser jantar): 340 euros.

Limite mínimo
Tentei, com o maior empenho e boa vontade, encontrar um preço fixo acessível em uma casa contemporânea, descolada e com um quê vegetariano. Não dei sorte – então vocês que não comem carne, fiquem espertos. Porém, o post de um blog sobre casas locávoras que tinha encontrado durante as buscas pelo L'Arpège também elogiou Le Timbre, onde a refeição, composta de três pratos, preparada por Charles Danet, saía por 26 euros – o que é possível, em parte, ao fato de todo mundo comer exatamente a mesma coisa em um espaço agradavelmente apertado, do tamanho de um selo, que é o que seu nome significa.

O restaurante Le Timbre oferece ótimas refeições por bons preços em Paris - Alex Crete­y-Sys­terma­ns/The New York Times - Alex Crete­y-Sys­terma­ns/The New York Times
O restaurante Le Timbre oferece ótimas refeições por bons preços em Paris
Imagem: Alex Crete­y-Sys­terma­ns/The New York Times

Seth Sherwood me fez companhia e, como fomos os últimos clientes a chegar, antes do fechamento da cozinha, tivemos uma prévia, passo a passo, da nossa refeição por quem estava sentado (bem) perto. Acontece que foi meio um caso de propaganda enganosa porque tinha acabado a entrada (merluza) e o prato principal (filé de pato).

"On a mal compté le canard", se desculpou o nosso garçom – o que não me impediu de desfrutar o peixe substituto (como se eu soubesse a diferença entre os flocos branquinhos do bacalhau), servido com purê de salsão e levístico, e me impressionar com a crocância do pinoli e dos pedacinhos de chorizo combinados com a maciez da galinha d'Angola.

Quando todo mundo começou a saborear mousse de chocolate à minha volta, às colheradas, humildemente perguntei se tinha acabado também: "On a mal compté le chocolat?". Não tinha. E estava uma delícia. Total da conta: 29 euros.

PASSEIO À TARDE

Limite máximo
Os hóspedes de Ilisca geralmente pedem um guia particular para um passeio pelas ruas de pedra do Marais. Custo: 240 euros.

Limite mínimo
Há passeios a pé guiados pelo Marais a preços acessíveis, mas preferi não fazer parte do grupo que seguia pelas ruas já lotadas de turistas. Em vez disso, baixei uma versão superútil do itinerário do Paris48.com e acabei na Galerie Thaddaeus Ropac, um espaço claro e muito bonito para admirar as obras texturizadas do pintor espanhol Miquel Barceló. Gratuito.

JANTAR

Limite máximo
Ilisca recomendou os miúdos de vitela (52 euros) do Allard, bistrô clássico de Alain Ducasse. A refeição completa sai por 100 euros.

Limite mínimo
Seth pode não usar casaca, mas acertou ao me levar ao Le Bistrot du Peintre, perto de sua casa, na Bastilha. Se não tivesse sido inaugurado em 1902, eu diria que a decoração art nouveau era meio exagerada: cada detalhe é cheio de curvas, desde os gigantescos espelhos de madeira às videiras pintadas na parte superior das paredes, passando pela escada precária em caracol que leva à cozinha. No jantar, dividimos uma garrafa de 17 euros de um Gamay 2013 frutado do Vale do Loire e uma generosa rabada como entrada. Para compensar o almoço sem pato, pedi o peito da ave, frito sem óleo, assado e servido com molho de framboesa. Seth foi de acém preparado com tomate e azeitonas no estilo mediterrâneo. Minha metade da conta saiu 32,50 euros.

SAIDEIRA

Limite máximo
Para onde mais um concierge mandaria um hóspede classudo se não o Hôtel Costes, o lounge ultrachique onde um coquetel sai por, no mínimo, 15 euros?

Limite mínimo
Hotel + bar = preço bom? Na minha matemática de escritor de viagens isso é o que se chama de "equação falsa". Então por que a galera jovem e animada do Hôtel du Nord paga só 5 euros para beber um copo de Bordeaux ao longo do Canal St.-Martin? Resposta: porque na verdade a casa não é um hotel, mas sim um restaurante com o nome de um filme de 1938. Já falei que o vinho custa só 5 euros?