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Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, já foi vizinho da África

Vivian Ortiz

Do UOL, em Cabo de Santo Agostinho (PE)*

08/12/2015 20h55

Além de oferecer belas praias e abrigar o importante Porto de Suape, Cabo de Santo Agostinho, no estado de Pernambuco, já foi palco de um momento decisivo na história da humanidade. Isso porque a região marca o ponto de ruptura final entre os continentes sul-americano e africano. O "divórcio" da Gondwana, como era conhecido este pedaço de terra, aconteceu há cerca de 102 milhões de anos na era Cretácia, quando os dinossauros ainda circulavam pelo planeta, e foi um tanto quanto conturbado, com direito a erupções de vulcões e terremotos.

Gorki Mariano, professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), explica que quando uma massa continental muito grande se junta, o acúmulo de energia faz com que aquele pedaço de terra se rompa e comece a se deslocar. Trata-se de um processo que acontece até hoje e nunca para. “Ao longo do tempo, por exemplo, a tendência é que o oceano Atlântico fique cada vez mais largo devido ao deslocamento e se quebre em algum lugar, invertendo todo o processo", explica. Mas não precisa se preocupar: o especialista garante que isso deve acontecer daqui uns 40 milhões de anos, aproximadamente.

Resquícios desta época podem ser vistos, e visitados, até hoje na região. Um deles é o ponto onde fica a antiga Casa do Faroleiro, construção do final do século 19 que servia de morada para quem trabalhava no farol, além de depósito de material, peças sobressalentes e combustíveis. A base das ruínas, cujo acesso pode ser feito pela praia de Gaibú, está encrustada no solo granítico da época da ruptura, explica Mariano. Além do contexto histórico, o turista consegue visualizar uma bela paisagem dali, com o Porto de Suape e os navios de um lado e os prédios da orla de Jaboatão dos Guararapes do outro, ao longe. 

De acordo com o professor, o mesmo tipo de granito encontrado ali pode ser visto em terras africanas, na região onde hoje se localiza a Nigéria. A participação local na divisão dos continentes também fica clara no município de Ipojuca, distante 19km de Cabo. Lá, existe um neck vulcânico, algo como o “pescoço” do vulcão, visível na usina da cidade. “Este sítio tem bastante expressão topográfica e o turista consegue subir na estrutura natural, que tem um desnível de 35m da base até o topo”, ressalta Mariano.

Sai pra lá, Cabral!
O tempo passou e Cabo de Santo Agostinho manteve seu papel de destaque na história. Se você estiver passando por ali e perguntar o nome de quem descobriu o Brasil para qualquer criança que nasceu na região, é bem possível que a resposta seja Vicente Yáñez Pinzón e não Pedro Álvares Cabral. 

Isso porque, segundo a história não oficial do Brasil, a expedição do espanhol chegou na região em 26 de janeiro de 1500, alguns meses antes da esquadra do português desembarcar no sul da Bahia. Pinzón desceu, lavrou o termo de posse e chamou o local de Cabo de Santa Maria de La Consolación.

O problema é que Espanha e Portugal haviam assinado o Tratado de Tordesilhas e qualquer terra na região, mesmo aquelas que ainda não haviam sido descobertas, pertenciam oficialmente aos portugueses. Nesta época, o local era habitado por índios da etnia Caeté, e a sua descoberta “oficial” acabou sendo creditada ao navegador italiano Américo Vespúcio, no dia 29 de agosto de 1501. 

Tempos depois, os portugueses chegaram ali e rebatizaram a área com o nome que conhecemos hoje, Cabo de Santo Agostinho. As primeiras povoações datam de 1618 e a maioria dos núcleos se concentrou no ponto mais alto da cidade: a Vila de Nazaré, região hoje conhecida como Parque Metropolitano Armando de Holanda Cavalcanti. No local é possível fazer passeios interessantes, bem como admirar a bela paisagem em alguns mirantes.

Ponto estratégico

Até então uma vila, a cidade se expandiu e, durante o século 17, os portugueses construíram numerosos monumentos e fortalezas ao longo de todo o litoral, como o Forte de Nazaré, erguido em 1632. No entanto, as terras acabaram sendo invadidas pelos holandeses, que renomearam a construção para Water Kastell, ou Castelo do Mar. Bem próximo a ele encontram-se as ruínas do Velho Quartel, pequena fortaleza que servia de apoio a construção militar.

Suas paredes foram feitas com pedras retiradas dos arrecifes da região, misturadas com areia, cal e barro, além de óleo de baleia. Ambas as construções são administradas hoje pelo exército brasileiro e abertas para visitações. É possível chegar de carro até certo ponto do caminho e de lá seguir o resto a pé. Na volta, dá ainda para saborear alguns doces regionais feitos pelos moradores da Vila de Nazaré, como a passa de caju, uma das especialidades locais. Falando na fruta, vale ressaltar que existem cajueiros em várias partes do parque, mas cuidado: quando está no pé, o fruto solta um óleo que, ao tocar na pele, se torna extremamente tóxico e causa queimaduras.

Saindo um pouco do circuito histórico, os turistas podem ainda se aventurar por um passeio de catamarã pela praia de Suape, bem em frente ao porto homônimo. Ele parte de um píer dentro de um resort da região, sempre de segunda a sábado, às 10h.

Custa R$ 50* por pessoa e passa bem perto dos arrecifes, do ladinho dos navios atracados ali, dando uma visão diferente do local. O final feliz? Tomar banho de mar em uma praia deserta, chamada de Praia do Amor, cercada por areias claras, águas cristalinas e muita história para contar.

* A jornalista viajou a convite do Vila Galé Eco Resort (www.vilagale.com)

** Preço consultado em dezembro de 2015, sujeito a alterações