Quer fazer uma viagem espiritual? Monja Coen dá dicas de destinos
A paulistana Claudia Dias Batista de Souza largou a cidade grande, mudou-se para as montanhas do Japão, formou-se na ordem monástica Soto Shu e subiu o monte Fuji após sonhar com a própria morte. Hoje conhecida como monja Coen, restabelecida em São Paulo e considerada uma sumidade budista no Brasil, ela tem muitos relatos de viagens para contar.
Ao ouvir a monja, a pessoa habituada à correria da metrópole corre o risco de querer largar tudo e dedicar-se unicamente a uma existência de contemplação. Coen exala uma serenidade e otimismo invejáveis, que, segundo ela, foram em parte conquistados em suas jornadas espirituais pelo mundo.
Coen no jardim do templo Daihonzan Sojiji, sede da ordem monástica Soto Shu no Japão
“Países budistas são ótimos lugares para viagens espirituais”, conta ela. “E muitas dessas nações têm templos que hospedam e ensinam estrangeiros a meditar” (veja uma lista com alguns desses locais ao final do texto).
Coen também crítica alguns hábitos do turista contemporâneo. “Percebo que as pessoas levam a ansiedade de seu dia a dia para as férias. É raro ver viajantes que observam com atenção as paisagens que os rodeiam. Os turistas estão muito mais preocupados em tirar fotos com suas câmeras eletrônicas do que em sentir verdadeiramente o ambiente que está à sua volta”, avalia ela.
"Para mim, a verdadeira viagem é aquela em que a pessoa entra em contato total com o destino que a recebe, buscando sentir sua atmosfera, conhecer suas histórias e apreciar suas paisagens em calma e silêncio".
Abaixo, confira dicas de viagens de autodescobrimento dadas por Coen:
A figueira do nirvana
Berço do budismo, a Índia é um dos países indicados pela monja Coen para quem pretende realizar uma viagem espiritual. “Além de ser um país que abriga diversas religiões, é lá que está o local em que Sidarta Gautama atingiu sua iluminação. O lugar fica na cidade de Bodhgaya" [que ainda exibe a figueira sob a qual ele se sentou antes de alcançar o nirvana]. Na Índia também se localiza o sítio histórico de Sarnath (que fica ao lado da cidade de Varanasi), onde Sidarta, já transformado em Shakyamuni Buda, teria feito sua primeira pregação. A área é até hoje ponto de encontro de monges budistas de todo o mundo. Já na cidade de Dharamsala, no norte do país, fica a sede do governo exilado do Tibete e a residência do Dalai Lama. O destino é um local perfeito para quem quiser conhecer a cultura e as reinvindicações políticas dos tibetanos.
Fé islâmica
“Em uma das minhas viagens ao Japão, fiz uma escala de um dia em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos”, conta monja Coen. “Chegamos no meio do Ramadã, uma época sagrada em que os muçulmanos jejuam entre o nascer e o pôr do sol. Muitas pessoas não se sentiram bem por estar lá nesse período, pois há diversas restrições impostas aos turistas [como comer em público]. Mas, para mim, foi maravilhoso observar toda uma população se entregando a uma prática religiosa. Os chamados das mesquitas e os fiéis dedicados à leitura do Alcorão são momentos fortes, que trazem belos exemplos de fé para o turista”. Um país que observa os preceitos do Ramadã, mas oferece um ambiente tranquilo e sem muitas restrições ao forasteiro, é a Turquia. Istambul é um interessante destino para ser visitado nesta época (que varia de ano para ano).
Monte Fuji
Um dos mosteiros japoneses pelos quais monja Coen passou fica ao lado do Monte Fuji. “Eu ainda não havia subido a montanha e, uma noite, sonhei com meu próprio funeral. Era uma cerimônia feita ao estilo japonês, em que os familiares do morto terminam de fechar o caixão com um prego de ouro. Acordei no meio da madrugada com o barulho do martelo batendo sobre o prego e, subitamente, tive vontade se subir o monte Fuji naquela mesma hora”. Ela conta que entrou em uma das trilhas da montanha e caminhou até o amanhecer. “Depois de ter me perdido algumas vezes, cheguei a um lindo mirante bem na hora do nascer do sol. Foi um momento mágico para mim: fiquei entregue àquela imagem do sol surgindo no horizonte, do alto de uma das mais sagradas montanhas japonesas. Recomendo a experiência a qualquer turista”. A melhor época para subir o Monte Fuji é entre julho e agosto.
Kyoto
Kyoto, no Japão, é um dos grandes centros do zen-budismo no mundo e está entre os destinos preferidos de monja Coen. “Pelas montanhas que cercam a cidade caminharam grandes mestres do zen-budismo no século 13. É possível fazer passeios por essas áreas e sentir a importância espiritual que elas têm”. Kyoto é um museu a céu aberto e exibe diversos templos históricos. Entre as principais construções zen-budistas da cidade estão os templos Nanzen-ji, Shokoku-ji, Tenryu-ji, Ginkakuji e Kinkakuji, todos abertos a turistas. Com sua estrutura dourada, o templo Kinkakuji é o grande cartão-postal do lugar.
Locais de retiro
“Se o turista quiser fazer uma imersão espiritual em sua viagem, vale a pena buscar um mosteiro ou ‘ashram’ (retiros encontrados principalmente na Índia) que aceite visitantes”, recomenda a monja Coen. “Porém, é importante que a pessoa tenha experiência nesse tipo de prática antes de fazer uma viagem assim”. Hoje, a Tailândia é um dos lugares que mais oferecem templos budistas que hospedam turistas. No país, alguns dos retiros mais populares entre forasteiros são o Wat Suan Mokkh, o Dharana Meditation Center e o Blooming Lotus Yoga. Na Índia, o mais famoso retiro é o Osho Meditation Center, localizado a três horas de Mumbai. O Vipassana Center é especializado em receber estrangeiros. Para quem não puder ir tão longe, há opções de retiro dentro do Brasil: o mosteiro Zenkoji, no Espírito Santo, e o Via Zen, no Rio Grande do Sul, acolhem visitantes.
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