Na Albânia, trilha paradisíaca entre montanhas e rios sai por R$ 120 ao dia
Na Albânia, é preciso dois dias, um par de centenas de reais no bolso e uma certa força nas pernas para conhecer uma das regiões mais lindas de toda a Europa.
Em sua região norte, o ex-país socialista abriga um circuito turístico que atravessa o paradisíaco lago Koman, cruza montanhas nevadas e passa pelos pitorescos vilarejos de Valbona e Theth, que, recheados de pastores e casinhas de pedra, parecem parados no tempo (veja os detalhes do roteiro no mapa abaixo).
E o melhor: é possível explorar toda a área gastando cerca de R$ 120 por dia e, de quebra, ter pouca concorrência na disputa pelos melhores lugares para tirar fotos. Esta parte da Albânia ainda não entrou na rota do turismo de massa no Leste Europeu. Ao visitá-la, é bem capaz que você se sinta como um explorador que acaba de descobrir um mundo perdido.
A viagem pela área começa em Shkoder, cidade histórica do norte albanês de onde, ao amanhecer, saem táxis levando viajantes até a margem ocidental do lago Koman. De lá, partem balsas que, em cerca de três horas, cruzam este corpo d'água cercado por paredões de calcário rumo à vila de Fierze.
Mais do que um meio para chegar até o lado oriental do Koman, a balsa é uma atração por si só. Sentados sobre seu teto de madeira, turistas podem observar com calma as paisagens da região: as montanhas são extremamente íngremes e, frequentemente, se fecham como cortinas sobre a água, deixando apenas pequenas passagens para o barco atravessar.
Lá embaixo, lanchas levam camponeses, cabras e legumes entre uma vila local e outra, quase todas erguidas ao pé das encostas e tendo só o lago como acesso ao mundo exterior.
Porém, por mais grandiosas e exóticas que tais imagens pareçam, elas são apenas um aperitivo para o que está por vir.
Corra para as montanhas
A balsa aporta na vila de Fierze no começo da tarde e, ao desembarcar, os turistas já são abordados por taxistas e donos de vans: "querem ir a Valbona?", é a pergunta constante.
A resposta deve ser um sonoro "sim": Valbona é o ponto de partida da trilha que irá cruzar uma cordilheira cinzenta de formatos pontiagudos que cortam o norte da Albânia.
Ao chegar à vila, que fica a duas horas de carro de Fierze, o viajante verá que o local é cercado por picos com mais de 3.000 metros de altura, cujas bases são forradas por densos bosques.
Muitos optam por passar a tarde e dormir em algumas das excelentes pousadas e campings que existem em Valbona. Outros, principalmente durante o verão, quando os dias são mais longos, já começam a trilha imediatamente.
E a caminhada tem um ponto de partida fácil: seu início é um terreno plano que, por um par de quilômetros, corre ao lado de um rio. Logo em seguida, porém, surgem os primeiros caminhos de terra íngremes que cansam as coxas e as primeiras descidas abruptas que sobrecarregam os joelhos.
A jornada seguirá nesse sobe-e-desce por cerca de 12 quilômetros até a vila de Theth, o ponto final da trilha. Mas cada minuto de transpiração é recompensado: aos olhos dos andarilhos surgirão montanhas cortadas por rios, florestas com árvores com dezenas de metros de altura e casinhas que parecem a morada das bruxas dos contos de fadas.
O ápice da jornada coincide com o ponto mais alto da trilha, que fica quase na metade do trajeto: trata-se da Passagem de Valbona, uma abertura no topo de uma montanha situada a cerca de 1.800 metros sobre o nível do mar. De lá se tem a melhor visão de todo o passeio, com as montanhas se estendendo ao infinito no horizonte.
Jurados de morte
Ao chegar a Theth, o viajante estará exausto, mas logo de cara haverá motivação para caminhar um pouco mais. A vila abriga uma linda igreja do século 19 entre campos floridos, uma cachoeira e uma "kulla", casa de pedra fortificada que, em séculos passados, protegeu famílias juradas de morte.
Antigamente, era comum que, nessa área, um assassinato gerasse uma vingança mortal imediata da família do morto contra algum membro da família do assassino. A prática gerava um círculo vicioso em que duas famílias se matavam indefinidamente. Muitas se refugiavam em uma "kulla" para sobreviver.
Os nativos garantem que isso não ocorre mais nas redondezas de Theth, local mais preocupado em tratar bem os turistas do que promover juramentos de morte. Na vila, ao final do dia, o viajante será recebido em sua pousada com uma dose de raki (a aguardente local, feita com frutas) e uma cama que, após tantas andanças, proporcionará uma noite de sono pesado.
COMO VIAJAR NA REGIÃO
- Não faça esta viagem sozinho. A trilha entre Valbona e Theth é relativamente bem demarcada, não tem trechos perigosos e não é preciso ser um atleta para superá-la. Porém, é importante ter alguém ao seu lado no caso de um acidente, que sempre pode acontecer.
- Tenha calçados resistentes para caminhadas, um chapéu para se proteger do sol, muita água e verifique a previsão do tempo alguns dias antes da viagem. A chuva pode estragar todo o passeio.
- A melhor época para realizar a trilha é entre abril e setembro, quando o tempo na Europa está mais cálido.
- A maioria dos turistas sai de Shkoder às 6h30 da manhã, toma a balsa às 9h e chega a Fierze às 12h. De lá a Valbona leva cerca de duas horas. Se você estiver com tempo, durma em Valbona e comece a trilha às 7h no dia seguinte. Você chegará a Theth por volta das 14h, quando é possível pegar um ônibus de volta a Shkoder. Porém, se puder, passe a tarde e à noite curtindo as belezas de Theth e retorne a Shkoder um dia depois.
PREÇOS
Na época em que a reportagem foi feita, em julho de 2016, o táxi entre Shkoder e a balsa do lago Koman custava 1.200 leke (a moeda albanesa, ou R$ 30) por pessoa. Já a passagem da balsa saía por 700 leke (R$ 18). O táxi de Fierze a Valbona, se dividido com outras três pessoas (que podem ser encontradas no local), custava 500 leke por cabeça (R$ 13). Não há que pagar nenhuma taxa para fazer a trilha e, em pousadas medianas de Valbona ou Theth, a diária sairá por cerca de 2.000 leke (R$ 53) a noite, com café da manhã no dia seguinte incluído. Caso você tenha barraca, é possível acampar em alguns estabelecimentos por 550 leke (R$ 14).
O ônibus que retorna de Theth a Shkoder custa cerca de 800 leke (R$ 21). Reserve mais 2.000 leke (cerca de R$ 53) por dia para gastos extras com alimentação.
Assim, é possível gastar, aproximadamente, entre R$ 200 e R$ 240 nos dois dias de viagem entre Shkoder, o lago e as montanhas.
ONDE FICAR
Durma em Shkoder antes e logo depois da trilha. Além de excelentes bares e restaurantes, a cidade tem estabelecimentos que vão do agradável Wanderers Hostel (com quartos compartilhados a partir de R$ 30) até o chique Hotel Colosseo (diárias por aproximadamente R$ 290). Shkoder é também facilmente acessível: está a duas horas da capital albanesa, Tirana, e a duas horas de Podgorica, capital de Montenegro, cuja fronteira fica ali perto. Brasileiros não precisam de visto antecipado para entrar na Albânia: o carimbo é dado na fronteira.
Há uma boa oferta de pousadas em Valbone e Theth. Muitas delas podem conseguir guias para conduzir o turista pela trilha. Mas não é barato: o serviço chega a custar 7.000 leke (R$ 180) por dia*.
Para mais informações atuais sobre onde ficar em Valbona e Theth (novas acomodações estão surgindo com rapidez nas duas vilas), acesse: www.journeytovalbona.com/your-journey/where-to-stay/ e http://thethi-guide.com/acommodation/
*Todos os preços citados nesta reportagem estão sujeitos a alteração. A cotação do lek para o real é a do dia 3 de agosto de 2016.
http://viagem.uol.com.br/album/guia/2016/08/03/albania-tem-uma-das-trilhas-mais-lindas-da-europa-conheca.htm#fotoNav=13
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