Com castelos e vielas sombrias, Transilvânia tem clima de filme de terror
Castelos misteriosos envoltos em neblina, túneis de madeira escuros que desembocam em cemitérios, florestas recheadas de ferozes lobos.
A Transilvânia descrita nos livros de ficção de escritores como Bram Stoker é bem parecida com a região romena da vida real. A única diferença é que, nos dias de hoje, o local não está ameaçado por invasores do Império Otomano, mas tomado por turistas de todas as partes do mundo.
E essa popularidade não surpreende: visitar a Transilvânia é um passeio imperdível para quem viaja pelo Leste Europeu.
Em Sighisoara, uma das cidades mais lindas da área, uma casa de esquina exibe orgulhosamente uma placa: "aqui viveu, entre 1431 e 1435, o líder romeno Vlad Dracul". A figura em questão é o regente que, mais para o final do século 15, seria conhecido como Vlad Tepes (ou Vlad, o Empalador), líder de uma resistência feroz contra as invasões turcas na região e que costumava mandar empalar seus inimigos capturados.
Vlad (que teria inspirado o personagem Drácula) é um herói para muitos romenos. Seu busto está no centro de uma das principais praças de Sighisoara (cidade onde ele nasceu), mas sua casa não é um grande museu com relíquias de sua infância ou algo parecido: o lugar é tomado por um restaurante que serve receitas como "Sopa de Tomate do Drácula".
Exageros turísticos à parte, Sighisoara é uma cidade que preserva muito bem uma legítima atmosfera medieval. Seu centro histórico é cortado por vielas sombrias, protegido por uma muralha do século 14 e coroado pela linda Torre do Relógio, finalizada em 1280, com 64 metros de altura e um relógio de 1648 (turistas podem subir até seu topo).
A viela que passa por baixo da torre é um dos lugares mais fotogênicos de toda a Romênia e, à noite, parcamente iluminada, a via ganha um ar especialmente sinistro.
Todo o centro histórico de Sighisoara pode ser facilmente explorado a pé e, a poucas dezenas de metros da antiga casa de Vlad Tepes, existe uma escadaria coberta de 172 degraus que leva a uma igreja luterana que oferece um excelente mirante para a cidade. Esta subida também tem um clima levemente assustador, com sua estrutura escura e, para alguns, claustrofóbica.
E o clima de filme de terror continua: ao lado da igreja luterana há um cemitério com túmulos com centenas de anos. Repare nos nomes germânicos nas lápides: boa parte da Transilvânia foi colonizada, na Idade Média, por imigrantes do território que é hoje a Alemanha, o que explica a arquitetura de diversos edifícios de cidades como Sighisoara, Sibiu e Brasov, que lembra o desenho de casas de destinos históricos alemães.
A igreja e o castelo
A cerca de 100 km de Sighisoara está outro destino imperdível da Transilvânia: a cidade de Brasov, com um dos centros históricos mais lindos da Europa e protegida pelo belo monte Tampa.
Seu coração é a praça Sfatului, marcada por um edifício inaugurado em 1420 e cercada por agradáveis cafés e docerias de influência germânica (não deixe, de jeito nenhum, de provar o strudel local). Segundo a história, mulheres consideradas bruxas foram queimadas aqui em tempos medievais.
Nesta paisagem, se destaca a famosa "Biserica Neagra" (Igreja Negra), templo luterano de arquitetura gótica inaugurado no século 15 e que tem seu nome por causa de um incêndio que a queimou em 1689. As ruas ao redor da igreja estão atualmente em terra, o que, somada às casas antigas que aparecem por todos os lados, transportam o viajante para um verdadeiro clima de Idade Média.
Brasov é também ponto de partida para excursões até o Castelo de Bran, fortificação construída na Idade Média para proteger um ponto estratégico da região contra invasões estrangeiras e que, hoje, é chamado, erroneamente, de "Castelo do Drácula".
Algumas lendas dizem que Vlad Tepes pode ter passado algumas noites aqui, mas, ao que tudo indica, o edifício não foi sua propriedade (para ver um monumento mais relacionada com ele, vá às ruínas da fortaleza de Poenari, parcialmente construída quando o "Empalador" tinha poder na região e que fica a 180 km de Bucareste).
A associação do Castelo de Bran ao seu nome, porém, atrai multidões de turistas todos os dias, o que deixa o interior da edificação (que é lindo) abarrotado de gente.
Vale a pena visitar o monumento (que fica a 30 minutos de ônibus de Brasov), mas é mais agradável sentar no jardim que fica do lado exterior (e onde quase ninguém vai) e admirar a obra desde o lado de fora.
E se a intenção for realmente fugir dos turistas para ver uma fortificação, corra para Biertan (acessível com táxis a partir de Sighisoara).
Trata-se de uma cidadezinha de 2.500 pessoas que remonta ao século 13, onde seus habitantes ainda se locomovem com carroças e que é marcada por uma enorme igreja fortificada, erguida pelos imigrantes germânicos e cercada por enormes muralhas como defesa a possíveis ataques otomanos. É possível entrar no monumento: de lá de cima, surgem visões panorâmicas fantásticas das zonas rurais da Transilvânia.
E não há quase turistas em vista: só amigáveis nativos com feições germânicas que ficarão felizes em compartilhar uma cerveja com o forasteiro.
Como explorar
Não é difícil visitar a Transilvânia. Da capital romena, Bucareste, pegue um trem para Brasov, em uma viagem que dura cerca de três horas. Reserve pelo menos três dias para explorar a cidade e os arredores, como o castelo de Bran. Se possível, hospede-se no hotel Main Square Apartments e reze para conseguir a acomodação com vista para a praça Sfatului, extremamente confortável, relativamente barata (diária para dois a cerca de 150 lei, a moeda romena, ou cerca de R$ 130) e uma visão fantástica para o principal cartão-postal local. Entretanto, é preciso pegar ônibus para ir da estação ferroviária até o centro da cidade. Entre em alguma linha onde esteja marcado "Biserica Neagra".
De Brasov, tome outro trem para Sighisoara. Em quatro horas, você estará na cidade-natal de Vlad Tepes. A estação ferroviária está a 20 minutos de caminhada do centro histórico e, ao chegar lá, fique na Pensiunea Citadela, uma aconchegante pousada cuja maioria dos quartos oferece vista panorâmica para a cidade. Quartos duplos custam aproximadamente R$ 130. Sighisoara é também um ótimo local para provar deliciosas receitas da região, com pratos à base de carne dos animais que existem nas florestas da Transilvânia, como javali. Escolha algum dos restaurantes perto da praça Cetatii.
É preciso contratar um táxi para ir até Biertan. Um preço justo pela jornada de ida e volta, que dura cerca de três horas, é 150 lei pelo carro (R$ 130).
E, após passar merecidos três dias em Sighisoara, não deixe de visitar a terceira estrela da Transilvânia: a cidade de Sibiu, com sua linda praça Matre e alguns dos principais centros culturais da Romênia, como o complexo de museus Brukenthal, um deles funcionando em um palácio do século 18 e com centenas de lindas obras de arte.
Preços e horários de trens na Romênia podem mudar subitamente. Para saber informações atualizadas sobre viagens ferroviárias no país, peça para seu hotel fazer a pesquisa para você. Há um site para isso, mas que, infelizmente, está apenas em romeno: www.infofer.ro. As passagens, porém, podem ser compradas algumas horas antes da partida do trem na própria estação ferroviária. Se estiver perdido, não se preocupe: é fácil encontrar romenos que falam inglês.
Outra opção interessante para viajar pelo país é com o site de caronas pagas Bla Bla Car, muito usado pelos romenos, com preços acessíveis e cujas viagens são mais rápidas do que o trem.
Brasileiros não precisam de visto para entrar na Romênia.
5 DICAS PARA SE DAR BEM NA REGIÃO
- Em Sighisoara, negligencie, pelo menos por um dia, um café da manhã saudável e comece sua maratona devorando o strudel do Cositorarului Casa, um restaurante que fica a duas quadras da Torre do Relógio. A receita, que custa cerca de R$ 10*, vem com uma massa crocante e coberta por uma maçã caramelizada e uma bola de sorvete de baunilha. Um verdadeiro pecado na terra do Drácula. O endereço do local é: rua Cositorarilor, número 9.
- Faça passeios noturnos nos centros históricos de Brasov e Sighisoara. São duas cidades que costumam ser extremamente seguras para turistas e que, quando a noite cai, suas ruas ficam vazias, agradáveis e com um clima misterioso, perfeito para curtir a atmosfera lendária da Transilvânia.
- A România produz vinhos muito bons e, caso o dinheiro esteja curto, não tenha medo de, na hora de jantar em um restaurante, pedir um copo (ou uma jarra de meio litro) de "vinul casei", ou "vinho da casa". A bebida costuma ser decente e custar poucos reais. Na dúvida, peça para provar um pouco da bebida antes de fazer o pedido.
- Você vai encontrar lojas e tendas vendendo vagabundas canecas do drácula, camisetas do drácula, canetas do drácula e até cuecas do Drácula nas principais cidades da região (com muitos desses produtos com aquele chato sobrepreço turístico). Para comprar uma lembrança de qualidade na região, vá à feirinha ao ar livre realizada aos fins de semana ao lado da Torre do Relógio de Sighisoara, onde há artesanatos e suvenires vampirescos bem feitos e com melhor custo-benefício.
- A Romênia é um dos países mais caros do Leste Europeu (com acomodações custando duas vezes mais do que na Sérvia, por exemplo). Tente viajar em dupla ou grupos pela Transilvânia, pois isso possibilitará que você divida o preço de quartos privados, corridas de táxi e até o serviço de algum guia turístico. Caso você esteja sozinho, é fácil conhecer outros viajantes solitários nos hostels de Bucareste que também estarão indo para a Transilvânia.
*Os preços citados nesta reportagem estão sujeitos a alterações.
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