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Agora em Marrocos, uma Casablanca cultural

Galerie Atelier 21, uma das várias galerias de arte contemporânea de Casablanca, em Marrocos - Ingrid Pulla/The New York Times
Galerie Atelier 21, uma das várias galerias de arte contemporânea de Casablanca, em Marrocos Imagem: Ingrid Pulla/The New York Times

MARISA MAZRIA-KATZ

New York Times Syndicate

20/06/2010 08h00

Na periferia industrial de Casablanca, Marrocos, cães bravos perambulam pelo terreno de um frigorífico abandonado. Hoje, a enorme fábrica, ainda repleta de ganchos de carne pendurados e pisos manchados de sangue, é um espaço improvável para o maior espaço independente de exposição de arte de Casablanca, Les Transculturelles des Abattoirs, ou matadouro transcultural, que exibe peças incomuns específicas para o local: conjuntos de pés esculpidos dispostos lado a lado no chão, por exemplo, e rostos colados diretamente nos azulejos brancos que revestem a parede do espaço.

 

A transformação se tornou possível em 2009, quando o prefeito de Casablanca, Mohamed Sajid, afastou os ávidos empreendedores imobiliários comerciais e colocou o complexo de 20 mil metros quadrados (rue Jaafar el Barmaki Avenue, Aïn-Sebaa Hay Mohammedi; 212-526-51-58-29; casamemoire.org) nas mãos da Casamémoire – uma sociedade de preservação arquitetônica sem fins lucrativos – com a ajuda da nascente comunidade de artes da cidade. A decisão é um exemplo da crescente importância do setor cultural de Casablanca, assim como as aberturas, nos últimos dois anos, de várias galerias de arte contemporânea por toda a cidade.

 

Situada em meio aos vendedores ambulantes e motores a diesel que congestionam os bulevares de Casablanca, fica a Galerie Atelier 21 (21 rue Abou Mahassine Arrouyani; 212-522-98-17-85; atelier21.ma), em atividade há quase dois anos. Para Aziz Baki, o co-proprietário da galeria e um historiador de arte, a crescente cena de arte da cidade é um reflexo dos interesses culturais do rei Mohammed 6º, um colecionador entusiástico. “Sua paixão pelas artes é uma das inspirações para aqueles que agora formam um grupo crescente de colecionadores em Marrocos”, disse Daki, cuja galeria representa 14 artistas contemporâneos marroquinos. “Ele é um dos exemplos mais importantes do nosso mundo das artes.”

 

Os anos desde a transição em 1999 do reinado relativamente repressivo do rei Hassan 2º para o regime mais tolerante e de maior visão econômica de seu filho, o rei Mohammed 6º, representaram grandes negócios para empreendedores como Youssef Falaky, o co-proprietário da Matisse Gallery (2 rue de la Convention, Quartier Racine; 212-522-94-49-99), aberta há seis meses e uma filial de uma galeria em Marrakech. “Antes da morte de Hassan 2º, as pessoas viviam nas trevas”, ele disse. “Ninguém queria parecer rico. Mas agora as pessoas estão gastando, o que significa mais investimentos no mercado de arte.”

 

Hassan Hajjaj, um artista que divide seu tempo entre sua terra natal, Marrocos, e Londres, foi um dos primeiros artistas expostos no espaço da Matisse em Casablanca. “Casablanca tem seu próprio sabor especial”, disse Hajjaj, cujas obras atualizam imagens orientais estereotipadas com um sabor de pop art parecido ao de Andy Warhol. “A cidade está em um estágio onde há muitas pessoas famintas por espaços para expor. É uma cidade grande e caótica. Mas boas coisas estão nascendo dela.”

 

Myriem Berrada Sounni, 29 anos, que juntamente com sua irmã de 26 anos, Yasmine, é dona da Loft Art Gallery (13 rue Al Kaissi, Triangle d’Or; 212-522-94-47-65; loftartgallery.net), em funcionamento há 11 meses, disse que a cena de arte da cidade se tornou popular. “Na abertura de nossa última exposição, nós contamos com a presença de ministros e presidentes de bancos”, ela disse. Durante uma recente visita à galeria, pequenos pontos vermelhos indicando a venda podiam ser encontrados ao lado de quase todas as pinturas em suas impecáveis paredes brancas. “Em Casablanca”, ela disse, “as galerias de arte são agora um local para as pessoas verem e serem vistas”.

 

Tradução: George El Khouri Andolfato