Uma expedição pela savana brasileira no Jalapão
Houve uma época, quando o centro do Brasil ainda era um distante desconhecido, em que homens esperançosos cruzavam a paisagem discreta das árvores baixas do cerrado em busca de novas oportunidades.
Para enfrentar o desafio dos longos deslocamentos, aqueles tropeiros insistentes contavam com um grande aliado: cachaça com jalapa-do-brasil ou 'jalapão', como eram conhecidas as doses duplas pedidas pelos mais intrépidos.
Mais do que redesenhar o mapa do interior esquecido do país, aqueles viajantes ajudavam a descobrir um dos mais inóspitos destinos nacionais: o Jalapão.
Localizado no Tocantins, no norte do Brasil, o destino é uma das experiências turísticas mais selvagens em solos brasileiros. Não só pela paisagem árida recortada por montanhas em formas de platô, mas também pela baixa densidade demográfica da região: 0,8 habitantes por km².
É raro encontrar uma pessoa pelas trilhas desse deserto, como ficou conhecido o Jalapão. Mas ainda assim tem viajante moderno que faz questão de sentir na pele (e no resto do corpo) a emoção de cruzar esse imenso território de pouco mais de 34 mil km², na divisa com a Bahia, Maranhão e Piauí, e dono de uma geografia que, sem nenhuma timidez, exibe vegetações rasteiras como as encontradas em savanas africanas, dunas móveis, poços naturais de águas cristalinas e veredas que rasgam (e alimentam) aquele cenário selvagem.
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Vista da Prainha da Cachoeira da Velha, a maior queda de água do Jalapão, no Tocantins
Alheios ao desenvolvimento da civilização, impedido de chegar à região devido às dificuldades de acesso, os moradores contam com pouca estrutura para receber os raros visitantes que desembarcam para visitar esse mosaico formado por diversas unidades de conservação, como a APA Jalapão, a Estação Ecológica da Serra Geral do Tocantins e o Parque Estadual do Jalapão.
No entanto, semanalmente, uma caminhonete com janelas panorâmicas e bancos externos deixa Palmas, a capital do Tocantins, para uma viagem turística com altas doses de adrenalina, em direção ao leste desse que é o mais novo estado brasileiro.
Nos cinco dias seguintes, cada um dos que embarcaram naquela aventura verá, na prática, por que a região é considerada uma das mais afastadas e selvagens do País.
No primeiro dia, percorrem-se 324 km, quase sempre por estradas de terra avermelhada que dão acesso a atrativos naturais tímidos que se escondem entre a mata baixa do cerrado, como o cânion da Suçuapara, uma fenda entre rochas de arenito, cujo interior abriga um poço impensável para terrenos tão áridos.
O principal objetivo do dia é chegar à sede do Safari Camp Korubo, um acampamento localizado às margens do rio Novo que servirá de base para as próximas etapas do roteiro.
Sabe aquele sonho de ser escoteiro e brincar de exploração em áreas selvagens que toda criança com espírito mais ousado já teve? Pois acrescente a isso tendas instaladas sob mangabeiras, banheiros equipados com água quente e um cozinheiro (que sabe-se lá como) prepara comida como se tivesse acabado de colher os ingredientes de alguma horta escondida no meio do cerrado.
E mesmo quem nunca sonhou com essas possibilidades parece virar criança quando, após o jantar, o grupo se reúne ao redor da fogueira ou das tochas fincadas na areia. O médico vira especialista em estrelas, a jornalista conta sobre suas aventuras gastronômicas pela Ásia, o professor aposentado tenta sintonizar um 'radinho de pilha' para se conectar com o mundo lá fora e a bancária faz planos para a próxima viagem.
Mas cada uma daquelas experiências se tornam secundárias diante da programação aventureira por aquele deserto localizado em uma área de transição entre o cerrado e a caatinga que, segundo estudos, fora o fundo de um oceano, há 350 milhões de anos.
Os dias seguintes seguem com canoagem pelo rio Novo, cujas águas (supostamente) calmas se divertem em pregar peças em seus visitantes; observação do pôr-do-sol sobre as Dunas do Jalapão, uma formação arenosa de 25 metros com tons alaranjados que, assim como o típico capim-dourado do artesanato local caprichado, se destacam entre a vegetação esverdeada das veredas; curiosos fervedouros cristalinos com águas densas que parecem carregar seus banhistas no colo sem deixá-los afundar; trilhas pela Serra do Espírito Santo que dão de cara com falésias milenares; e cachoeiras que justificam outro título famoso do Jalapão: Deserto das Águas.
Cinco dias depois e mais de 800 km rodados, os efeitos (colaterais) demoram em ser superados, sobretudo aqueles causados pelo Jalapão.
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Os fervedouros do Jalapão são poços naturais alimentados por rios subterrâneos cuja força da água e densidade da areia não permitem que o visitante afunde, fenômeno conhecido como ressurgência
SERVIÇO
O programa da Korubo tem duração de sete dias e inclui quatro noites de hospedagem em um acampamento próprio, localizado às margens do rio Novo, todas as refeições e passeios como canoagem, trilha pela serra do Espírito Santo, visita a um fervedouro exclusivo da empresa e às dunas.
Tel: (11) 4063-1502 / (63) 8121-3538
www.korubo.com.br
O jornalista Eduardo Vessoni viajou a convite da Tam (www.tam.com.br) e da Korubo Expedições (www.korubo.com.br)
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