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Recuperação das docas e embelezamento da cidade são destaques em 36 horas em Bordeaux, na França

Um espelho d"água ultrafino construído em 2006 reflete o grande Place de la Bourse, em Bordeaux, na França - Ed Alcock/The New York Times
Um espelho d'água ultrafino construído em 2006 reflete o grande Place de la Bourse, em Bordeaux, na França Imagem: Ed Alcock/The New York Times

ELAINE GLUSAC

New York Times Syndicate

09/10/2010 09h06

Notas de degustação para Bordeaux 2004 – a cidade francesa, não seu famoso vinho – poderiam ser mais ou menos assim: sem vida e insossa; aromas de sujeira e pó; uma cidade antes majestosa cuja época passou. Mas os últimos anos exibiram verdadeiro progresso. Hoje Bordeaux é limpa e elegante, graças à recuperação das docas e um esforço de embelezamento que está removendo séculos de fuligem de suas veneráveis praças e igrejas medievais. Também há uma nova animação, incluindo espaços de arte de vanguarda e novas lojas conceituais. Acrescente alguns novos restaurantes estrelados e bares de vinho inovadores e Bordeaux passa a brilhar novamente.

 

Sexta-feira

16h - Prova A, a zona portuária
Inicie sua exploração de Bordeaux tomando o sistema futurista de bonde até Bassins à Flots, um porto antes miserável que foi limpo e agora é lar das galerias mais inovadoras da cidade. Exposições bacanas podem ser encontradas no Fonds Régional d’Art Contemporain (Hangar 2, Quai Armand Lalande, 33-5-56-24-71-36; frac-aquitaine.net), uma galeria dirigida pelo governo regional que reúne obras de artistas contemporâneos da França e além. No mesmo prédio fica o Arrêt sur L’Image (33-5-56-69-16-48), uma galeria especializada em obras em papel e design de móveis. E Le Garage Moderne (1, rue des Étrangers, 33-5-56-50-91-33; legaragemoderne.org) é um hangar repleto de sucata com uma oficina de automóveis e galeria de arte contemporânea bruta sob o mesmo teto.

18h - Pantalon et pastis
Na margem esquerda do cais do Rio Garonne fica outra história de sucesso de planejamento urbano do século 21. Velhos depósitos agora abrigam outlets (Quai des Marques), um espelho d’água ultrafino construído em 2006, que reflete o grande Place de la Bourse, e a margem do rio está pontilhada de cafés. Para beber, peça um pastis no L’Ibaïa Café (Quai des Chartrons; 33-5-56-00-45-35; ibaiacafe.fr), onde é possível assistir ao pôr-do-sol e ao rio passando em meio à música house pulsante.

21h – Gulodice
Coisas estranhas acontecem com o azeite de oliva no Septième Péché (65, cours de Verdun, 33-5-56-06-42-16; 7peche.fr), um restaurante feito uma caixa de joias, aberto há um ano, cujo nome significa sétimo pecado. Às vezes ele é servido em uma seringa sem agulha para que você possa molhar seu pão. Às vezes ele vem na forma de um pó branco de aparência ilícita. Há algum viciado na cozinha? Não, apenas Jan Schwittalla, um chef alemão com 20 e poucos anos cujas versões divertidas de especialidades regionais (por exemplo, barras moldadas de foie gras cobertas com gel de atum e escargot) são sem dúvida viciantes. Cardápios de degustação por 39, 49 e 75 euros.

23h - Fumaça e gelo
Certamente há muita fumaça saindo das bocas das pessoas no Ice Room (Hangar 19, Quai des Marques; 33-5-57-00-10-15; iceroom.fr), um clube branco e abobadado que abriu no ano passado. É claro, há fumantes bafejando Gauloises dentro de um lounge de fumantes com paredes de vidro. Mas atrás de outra parede de vidro de aquário fica um espaçoso bar de gelo, onde os festeiros vestindo casacos são indulgentes na vodca (20 euros por 20 minutos; drinques inclusos). Entre os dois, jovens profissionais lotam o bar principal, pedindo o drinque da casa, o Sex at the H19 (vodca, Chambord, Midori, suco de abacaxi e suco de cereja; 9 euros), uma referência ao endereço do bar, no Hangar 19.

  • Ed Alcock/The New York Times

    Velhos depósitos agora abrigam outlets na Quai des Marques, em Bordeaux, na França

Sábado

11h - Fora de moda para o alto design
Até este ano, o Musée des Arts Décoratifs (39, rue Bouffard; 33-5-56-10-14-00) era um museu que apenas a vovó poderia apreciar: uma casa de bonecas delicada de salas de época, repletas com cravos, vasos antigos e outras relíquias do passado de Bordeaux. Então uma nova ala dedicada ao design dos séculos 20 e 21 foi aberta, oferecendo mais um símbolo do alegre rejuvenescimento da cidade. Alguns dos destaques mais decadentes, muitos deles de designers franceses, incluem uma cadeira barroca-dadaísta de alumínio e madeira “Lola Mundo”, dos anos 80, de autoria de Philippe Starck; uma cômoda “Tactoris” felpuda, tipo Chia Pet, de Christian Astuguevieille; e um espelho xadrez, desconexo, de Andrée Putman. Titãs do design global, de Ron Arad a Ettore Sottsass, também estão presentes.

13h - Floresta falsa
A medalha de ouro deste ano para bares de vinho de Bordeaux vai facilmente para o L’Autre Petit Bois (12, place du Parlement; 33-5-56-48-02-93), cujo design kitsch bacana e atitude não convencional dão nova vida a uma instituição desgastada de Bordeaux. Sob a sombra de árvores artificiais internas, uma clientela de pessoas na faixa dos 20 e 30 anos saboreia tomates com mussarela (5,60 euros), saladas de queijo de cabra (7,50 euros) e tartines de pão torrado (5 a 8 euros). Igualmente surpreendente é a carta de vinhos. Há um excelente La Rose Pauillac (7 euros) assim como vinhos (surpresa!) de países de língua inglesa, como os Estados Unidos e a Austrália.

15h - Made in France
Sem roupas adequadas? Lojas conceituais e butiques de clubwear tomaram conta da área ao redor da Place Fernand Lafargue. Entre as recém-chegadas estão a OK Daddy (31, rue Ste.-Colombe, 33-5-56-81-02-20; ok-daddy.com), uma galeria, livraria e empório de moda que vende suas próprias camisas em rayon elásticas com finas golas píton indonésias, assim como camisetas e jaquetas masculinas da grife marselhesa Kulte. Ela se junta à Le Rayon Frais (31-33, rue St.-James; 33-5-33-51-10-55; lerayonfrais.fr), uma loja de street wear que vende jeans pretos da Bleu de Paname e camisas de flanela da Bérangère Claire, ambas grifes francesas.

18h - Vinho de máquina
Bem-vindo ao futuro da degustação de vinho. Compre um cartão de degustação (25, 50 ou 100 euros), o insira na máquina de vendas Enomatic de alta tecnologia, escolha entre oito vinícolas de Bordeaux, escolha o tamanho (2,5, 5 ou 7,5 centilitros), ponha sua taça sob a boca, aperte o botão e voilà: dela sai vinho vintage de primeira qualidade, mantido em temperatura ideal e livre de oxigenação excessiva. Essa é a rotina da Max Bordeaux Wine Gallery and Cellar (14, cours de l’Intendance; 33-5-57-29-23-81; maxbordeaux.com), que abriu no ano passado. As seleções na sala de degustação branca minimalista incluem um Cheval Blanc que custa 27 euros por uma pequena dose, 688 euros pela garrafa.

20h - Cordeiro, de três modos
O chef François Adamski tem o toque de Midas. Ele já ganhou dois dos maiores prêmios de culinária da França, o Bocuse d’Or e Meilleur Ouvrier de France, uma das duas únicas pessoas a receberem ambos, e neste ano seu muito branco, muito elegante novo restaurante, Le Gabriel (10, place de la Bourse; 33-5-56-30-00-80; bordeaux-gabriel.fr), conseguiu sua primeira estrela Michelin após menos de um ano de existência. O crédito é do excelente cardápio francês com toques internacionais. A França mediterrânea se encontra com o país Basco do sudoeste na lula recheada com risoto, tomates cristalizados e pimentas. O cordeiro, por sua vez, às vezes é servido de três formas simultaneamente (uma perna suculenta, um corte inteiro de costelas assado e uma linguiça) com um purê de tâmaras, nozes e cominho. Um jantar com três pratos para dois, sem vinho, sai por cerca de 140 euros.

23h - Ritmos de Bordeaux
Stevie Wonder, Isaac Hayes e The Meters estão todos presentes no L’Apollo Bar (19, place Fernand Lafargue; myspace.com/lapollobar), pelo menos musicalmente. Mulheres jovens trajando roupas de lojas populares e rapazes desalinhados jogam sinuca, flertam e tomam Paulaber neste bar retrô da moda. Para música eletrônica, vá ao próximo Azuli (55, cours d’Alsace-Lorraine; 33-5-56-79-39-46), onde D.J.s em uma cabine no segundo andar comandam uma sala barroca, tocando electro, house minimalista e outras batidas dançantes.

  • Ed Alcock/The New York Times

    Fachada do retrô e badalado L'Apollo Bar, em Bordeaux, na França

Domingo

11h - Circulando pelas feiras
Domingo é dia de feira em Bordeaux. A Marché des Quais (Quai des Chartrons, das 8h às 16h) da moda é um paraíso para os gourmets e um ótimo lugar para comer ostras frescas (seis por 5,50 euros no Huîtres Marennes Oléron; 33-5-46-36-09-10). Para mais cores, vá à Marché St.-Michel (perto da Igreja de St.-Michel, das 8h às 14h). Situada em um bairro em grande parte norte-africano de mesmo nome, a feira é um mistura caótica de malas antigas, sucata da era da Depressão, rádios dos anos 50 e placas de rua francesas enferrujadas. Ela é outra faceta de uma cidade em evolução.

 

O básico


Aberto em 2009, o L’Avant Scène (36, rue Borie; 33-5-57-29-25-39; lavantscene.fr) é um hotel elegante com nove quartos em uma casa de pedra do século 18, próxima da margem do rio. Quartos duplos a partir de 99 euros (US$ 116).

Reaberto em 2008 com um estilo espalhafatoso neonapoleônico, o Regent Grand Hotel Bordeaux (2-5, place de la Comedie, 33-5-57-30-44-44; theregentbordeaux.com), com 150 quartos, domina a praça mais famosa de Bordeaux e conta com o restaurante Le Pressoir d’Argent, com estrela Michelin. Quartos duplos a partir de 260 euros.