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Petróleo e cultura rica moldam o turismo em Baku, no Azerbaijão

KATHLEEN KINGSBURY

New York Times Syndicate

12/02/2011 08h52

Ao norte do Bulevar Baku, o calçadão que separa a capital do Azerbaijão da orla do Mar Cáspio, fica a Torre da Donzela. Acredita-se que estrutura de pedra de oito andares, que data no mínimo do século 12, já foi um posto de vigia contra exércitos invasores. Hoje, ele é o centro da Cidade Velha murada em Baku. As construções do século 15 dentro dos muros são feitas de arenito com tom de mel e, desde 2003, têm sido meticulosamente restauradas, deixando para trás um quê de cenário cinematográfico. Um labirinto de ruas sinuosas corre por toda parte e em seu interior fica o Palácio dos Shirvanshahs, a sede da dinastia soberana do Azerbaijão durante a Idade Média. Hoje, vendedores de tapetes, mascateando seus produtos, entoam o coro habitual de “Oi!” e “De onde você é?”


Fora dos muros da Cidade Velha fica outra Baku. Mansões magníficas em estilo belas artes europeu, construídas pelos primeiros barões do petróleo da cidade há um século, abrigam lojas de algumas das marcas mais famosas: Gucci, Harry Winston, Burberry. À noite, Mercedes e Bentleys deixam homens musculosos e suas acompanhantes de salto-alto para comer satay preparado pelo chef treinado por Nobu no Chinar, um bistrô asiático, ou para tomar uma saideira em lounges chiques como o Face Club ou o Baku Jazz Center. Ao longo dos últimos anos, após um século de guerra e controle soviético, o Azerbaijão se transformou em uma das economias que mais crescem no mundo. As receitas do gás e petróleo depositaram US$ 7 bilhões em seus cofres apenas no ano passado e, por sua vez, trouxeram um afluxo de investimento estrangeiro e visitantes. Isso fez com que Baku se preparasse para os holofotes.

“Os azeris não querem mais se acomodar com ‘Oh, isso já é bom o bastante para Baku”, disse Javad Marandi, um sócio do Pasha Group, a empresa que é dona do Chinar, que é a segunda encarnação da casa de chá que foi por décadas um dos principais pontos da cidade. “Nós aspiramos ser uma das capitais mais interessantes da Europa ou Ásia.”

De fato, uma grande visão - apesar de ainda nebulosa - está começando a ganhar forma. No final o calçadão à beira-mar ganhará o dobro do tamanho e receberá shopping centers futuristas, cinemas e galerias. Perto dali, se fala na construção de um projeto estilo Guggenheim Bilbao para complementar o recém-inaugurado Museu de Arte Moderna da cidade, que conta com uma coleção de mais de 1.000 obras de artistas azeris proeminentes, assim como obras de Picasso e Dalí.

Um novo pavilhão cultural, projetado pela arquiteta Zaha Hadid, está em construção ao norte do centro da cidade e deverá receber um salão de convenções, uma biblioteca e vários museus nacionais. Mais de uma dúzia de hotéis de luxo, incluindo o primeiro Four Seasons construído em uma das ex-repúblicas soviéticas, deverá ser inaugurado nos próximos dois anos por toda a cidade.

Talvez mais importante, projetos de obras públicas estão sendo realizados, apesar de lentamente. A grade elétrica foi atualizada, cabos de banda larga foram instalados e as estradas repletas de buracos foram substituídas por rodovias. Em 2012, uma ferrovia regional - saudada por alguns como a Rota da Seda moderna - deverá ligar Baku a Tbilisi, a capital da Geórgia ao norte, e a Kars, Turquia, a oeste.

Ainda assim, mudança exige mais do que guindastes de construção. O governo, liderado pelo presidente Ilham Aliyev, é frequentemente criticado de ser repressivo e virtualmente não há imprensa livre em Baku. As normas sociais conservadoras dão às mulheres um papel limitado na vida pública da cidade. E todo ano a desigualdade entre ricos e pobres aumenta em Baku.

Mas sinais de desencanto são incomuns no centro abastado da cidade, onde as famílias caminham pelo bulevar nas primeiras horas da noite ou conversam nos movimentados cafés ao ar livre que o margeiam. Graças aos onipresentes adolescentes se beijando, o trecho de quatro quilômetros é o mais próximo que Baku tem de um ponto de encontro - um lembrete de que, apesar de ser um país de maioria muçulmana, o Azerbaijão se orgulha de ser secular. Frequentemente, as melodias da mugham - a música folclórica tradicional do Azerbaijão que mistura formas clássicas a improvisos musicais como os do jazz - podem ser ouvidas vindas de músicos de rua e de dentro da Sala Filarmônica, que reabriu em 2004 após uma ampla reforma.

“É uma cultura urbana genuína de ver seus vizinhos em trânsito”, disse Bruce Grant, um antropólogo da Universidade de Nova York que tem viajado regularmente para Baku ao longo da última década. “Isso não é algo que se vê, por exemplo, na Rússia.”

Os visitantes provavelmente também ouvirão uma rica mistura de línguas, graças em parte às várias influências que tocaram o país ao longo dos anos: turco, iraniano, francês, russo. Os jovens, em especial, costumam falar três ou quatro línguas, inclusive, com frequência cada vez maior, o inglês.

“Algum dia Baku pode vir a ser uma ponte muito importante entre o mundo islâmico oriental e a Europa, com sua tolerância e gentileza”, disse Narmin Kamal, uma escritora local de 29 anos.

Da janela de seu apartamento, Kamal vê do alto a transformação pela qual passou sua cidade natal. Ela vive perto da Praça Azneft, a âncora sul do Bulevar Baku. Ao longe, os detritos de um século de exploração de petróleo se estendem pelo horizonte. As plataformas de perfuração modernas operam ao lado de bombas de petróleo dos anos 40 em Neft Dashlari, uma ilha altamente poluída também conhecida como “Rochas Petrolíferas”. Esta vista é um lembrete diário de que “o petróleo significa tanto alegria quanto tragédia no Azerbaijão”, disse Kamal.

De fato, a cultura do novo dinheiro do país, alimentada pelo petróleo, significa que os turistas que não desejam gastar muito descobrirão que Baku já rivaliza com as cidades europeias em pelo menos um aspecto: o preço. Uma moeda forte (o manat) e o crescente preço dos imóveis tornam uma diária de hotel a menos de US$ 200 (cerca de 157 manats novos) uma pechincha.

Além disso, a corrupção pode adicionar um custo extra a muitas transações em Baku. Os visitantes com frequência a encontram nas paradas da polícia de trânsito, que fazem uma viagem pela cidade durar uma hora a mais do que o necessário.

Mas apesar de todos os aborrecimentos que alguém poderia esperar na capital de um petroestado moderno pós-soviético, Baku e seus cidadãos radiam uma cordialidade do Velho Mundo. Os maiores encanto ainda estão nas cozinhas e quintais - para a maioria das famílias, o centro de sua vida social. Faça amizade com um morador e provavelmente não demorará muito para você receber um convite para jantar. As refeições, geralmente descomplicadas e que satisfazem, certamente incluirão hortifrutis frescos, espetinhos de carne e uma especialidade, os dolmá, os charutos de folha de uva ou repolho recheados com carne moída e tomate.

  • Justyna Mielnikiewicz/The New York Times

    Crianças visitam os muros da Cidade Velha, em Baku, no Azerbaijão


As conversas podem durar horas. A conversa - para os homens- continua nas çay xana. Fora dos limites para as mulheres (por costume, não lei), essas casas de chá podem ser salas elaboradamente mobiliadas, mas frequentemente são apenas um punhado de mesas e cadeiras de plástico espalhadas na calçada. Um bule de chá preto forte custa pouco mais de um manat e os amigos podem se distrair por uma tarde. Os homens fumam e bebem chá em copos curtos e estreitos, com o barulho das peças de nard, uma versão local do gamão, como trilha sonora. Os çay xanas, disse Grant, “são um dos principais locais para respirar na cidade, dando aos maridos um lugar para onde ir quando os apartamentos são tomados por parentes e outros convidados”.

É essa convivência que os proprietários do Chinar estão tentando recapturar -mesmo que de uma forma mais moderna. Quando era menino em Londres, Marandi frequentemente ouvia seus parentes, que fugiram de Baku em 1920 após o início da ocupação soviética, contarem histórias sobre o Chinar original.

“Ele está atualizado e contemporâneo, mas por que não?” perguntou Marandi. “Os azeris estão clamando pelo que é novo e melhor e eles sabem que merecem.”

 

Se você for

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Onde ficar

As diárias de hotel são caras em Baku, como é de se esperar em uma cidade que passa por um boom de petróleo. Em 2011, várias opções de luxo e butique deverão ser inauguradas, incluindo propriedades do Four Seasons, Fairmont e Hilton.

Até lá, o Hotel Hale Kai (rua Mirza Ibrahimov, 18; 994-12-596-50-56; hotelhalekai.com) é um pequeno hotel dirigido por americanos situado convenientemente a poucas quadras da Praça da Fonte principal. Os quartos são decorados com bom gosto e o café da manhã está incluído. Diárias a partir de 130 manats (US$ 166, com o dólar cotado a 0,79 manat).

Para acomodações mais refinadas, vá ao elegante Sultan Inn (Boyuk Qala kuc, 20; 994-12-437-23-07; sultaninn.com) no coração da Cidade Velha. O hotel-butique com 11 quartos combina as conveniências modernas com estilo azeri tradicional. Um bônus extra: o popular bar e restaurante na cobertura fornece a melhor vista da Torre da Donzela na cidade. Diárias a partir de 230 manats.