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Com consumo legalizado, cogumelo alucinógeno é tema de bar e festa nas Ilhas Virgens Britânicas

Fachada do bar Bomba"s Surfside Shack, localizado nas Ilhas Virgens Britânicas - Eduardo Vessoni/UOL
Fachada do bar Bomba's Surfside Shack, localizado nas Ilhas Virgens Britânicas Imagem: Eduardo Vessoni/UOL

Eduardo Vessoni<br>Do UOL, nas Ilhas Virgens Britânicas

12/01/2012 16h30

Os tons exagerados do mar do Caribe e as faixas de areia fina rodeadas por coqueiros já são elementos suficientes para qualquer viajante estrangeiro sentir os efeitos de uma miragem. Mas quando o destino são as Ilhas Virgens Britânicas, arquipélago localizado a leste de Porto Rico, alucinar pode assumir um significado literal.

Em Tortola, uma das 60 ilhas desse destino conhecido como a 'Capital Mundial da Navegação', o consumo de bebidas com cogumelos alucinógenos não só é legalizado como também faz parte de uma das festas mais famosas de todo o território caribenho: a Full Moon Party (Festa da Lua Cheia, em português).

Um dos clássicos da região, que de tão popular já se tornou atração turística, é o Bomba’s Surfside Shack, uma cabana simples de madeira localizada em Capoon Bay, na costa norte da ilha Tortola. Ali, entre paredes erguidas com madeiras grafitadas pelos próprios clientes, pranchas de surfe quebradas, velhos monitores de computador e uma curiosa decoração com peças íntimas femininas penduradas, o visitante pode provar, sem problemas legais, o tradicional cogumelo alucinógeno. Curiosamente, a bebida é conhecida também como 'Água da Jamaica'.

Durante o dia, o local até parece um amontoado de madeiras velhas e pichadas que se debruçam sobre as águas turquesas do Caribe. Mas quando o sol dá trégua, começa uma das experiências mais genuínas desse destino que ganhou fama entre viajantes ricos e famosos.

Quem desembarca no território com o espírito preparado para novas experiências não consegue deixar de incluir ao menos uma noite neste clássico bar surfista. Foi o que aconteceu com a argentina Lorena Blázquez, jornalista, que, embora não tenha visitado o bar em época de Lua Cheia, juntou-se a outros visitantes e moradores da região para uma das animadas sessões de música que acontecem todas as noites. “Em um local onde reina o luxo, Bomba Shack é exceção à regra”, descreve Lorena.

O grupo com o qual a argentina viajava chegou a pedir cinco doses da bebida -- mas, segundo a visitante, trata-se de um drink refrescante e fácil de tomar. “Acho que o efeito desinibidor está relacionado a atmosfera encontrada na região aliada a sua gente, música e ao movimento das ondas”, explica.

Em um local onde reina o luxo, Bomba Shack é exceção à regra

Lorena Blázquez, jornalista

O cogumelo psicoativo local, que tem posse e consumo liberados em Tortola (já o comércio é proibido; no bar, por exemplo, é possível consumir legalmente o cogumelo apenas ali dentro e em forma de drinque), cresce de forma selvagem em toda a ilha e tem como princípio ativo a psilocibina, encontrada em mais de 200 espécies de fungos. Similar aos efeitos do LSD e da mescalina, a ingestão de cogumelo pode causar euforia, alucinações, náuseas e ataques de pânico. As reações podem começar logo nos primeiros 30 minutos e se prolongar por até seis horas.

Porém, para amenizar os efeitos e garantir o clima relaxado sem incidentes, o cogumelo é servido no Bomba's Shack em pequenas doses e misturado com alguma bebida alcoólica, como o ponche de rum. Ainda assim é possível ver clientes extremamente felizes dançando no acostamento de terra da estrada de forma bem incomum. As fotos de mulheres nuas na parede – algumas já desbotadas – e as calcinhas deixadas por elas em dias de festas mais animadas são a prova de que, naquelas bandas, o Caribe vai bem além de praias e paisagens paradisíacas.

Origens do bar

Bomba, como é conhecido o simpático proprietário do local, começou a construir a atração em 1976, quando a região não contava com energia elétrica e a única iluminação vinha da luz da lua cheia e do céu estrelado. Esse nativo bonachão, que todas as noites se instala dentro de sua caminhonete do outro lado da estrada para ver o movimento incessante de seu bar, deixou o ofício de marceneiro de barcos em Sopers Hole para se dedicar à vida noturna.

  • Eduardo Vessoni/UOL

    Bomba, proprietário do bar que leva seu nome, escreve bilhete para visitante estrangeira durante uma das famosas noites em que são servidos os famosos (e legalizados) coquetéis com cogumelo alucinógeno, nas Ilhas Virgens Britânicas

Bomba começou praticamente do nada e a estrutura que se vê hoje em dia surgiu graças à colaboração de amigos que cederam materiais como pedaços de madeira, postes telefônicos velhos e telhados de zinco. As paredes improvisadas pintadas com frases 'filosóficas' e o poste com uma placa onde se lê 'Take photos' ('Tire fotos', em português) parecem resumir o clima relaxado e de liberdade que reina em um dos destinos mais exclusivos e belos de todo o Caribe. “Este é o melhor lugar para fotos de todas as Ilhas Virgens Britânicas. Sua atmosfera faz desse pedaço de terra um lugar único”, defende Bomba.

Todos os meses, quando seu bar serve de cenário para a tradicional Festa da Lua Cheia, bandas de rock e mais de mil pessoas comemoram a chegada dessa fase da Lua. Muitos dos viajantes que desembarcam no destino preparam sua viagem para que coincida com a data da festa. O sucesso do evento obrigou o proprietário a ampliar suas instalações e, atualmente, existem duas cabanas: uma do lado direito da estrada e outra, tão cenográfica quanto à original, de frente para a praia e que o próprio Bomba chama de 'jardim'.

A atração comandada por Bomba segue tão sólida desde que foi erguida que nem a fúria dos inúmeros furações que costumam assolar a região conseguiu derrubar aquelas paredes frágeis.

Informações turísticas sobre as Ilhas Virgens Britânicas: www.bvitourism.com