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Experimente a rotina nômade em um acampamento na Tunísia

Caio Vilela

Do UOL, em Tunis

13/02/2012 09h00

Um suave sopro de areia espalha um cheiro doce na alvorada. Faltam poucos minutos para o sol nascer. O frio é intenso e o ar espantosamente úmido no oásis de Ksar Ghilane, coração do Saara, 590 km ao sul de Tunis.

Fora da barraca aquecida, um aroma misterioso e confortante toma conta do acampamento, e invade os pulmões com um imediato bem estar. "Ah, le parfum de l´oasis"- murmura Mahmoud, respirando fundo e aproximando-se com dois de seus dromedários - não tão cheirosos - para logo depois fazê-los agachar com um comando de voz. Com a (surpreendente) sensibilidade de um tuareg, ele resume a poesia existente na rara presença de água no deserto. O poço da nascente, rodeado por palmeiras carregadas de tâmaras, mais parece uma miragem sobre a infinidade de dunas.


Não é surpresa que esta paisagem tenha inspirado tantos escritores de língua árabe, e servido de cenário para produções cinematográficas como “O Paciente Inglês”, de Anthony Minghella em 1996. Descrever a vida no deserto do Saara desafia igualmente os autores ocidentais que o visitaram e demonstram, com unanimidade, respeito e fascinação em seus relatos, desde as histórias de Mark Twain até o "O Céu que nos Protege" de Paul Bowles. E a soma das menções literárias consagrou estereótipos que até hoje permanecem no imaginário popular.

Filho e neto de comerciantes de animais, Mahmoud conhece as nuances climáticas e os caminhos sobre as dunas como ninguém. Herdeiro de tradições tuaregues - o mais bravo dos povos que habitam o Saara - graças às suas habilidades trabalha hoje como guia em um acampamento de luxo que recebe jipeiros de passagem e turistas em busca de uma experiência autêntica e segura no deserto.

Hospedados em barracas climatizadas, equipadas com banheiro e cama de verdade, os turistas repousam em verdadeiras bolhas de conforto isoladas do ambiente natural inóspito. Após um desjejum feito com chá, tâmaras e o pão achatado típico dos beduínos, o encontro com o guia acontece na última sombra do oásis, onde os animais esperam arriados. Tocando quatro dromedários montados por dois casais de franceses, o veterano tuareg deixa o conforto térmico do oásis para trás e segue rumo ao sol nascente. O objetivo do dia é visitar dois “ksares” - fortalezas construídas por beduínos no século 16 para armazenar alimentos durante longas jornadas pelo deserto – e voltar na hora do almoço.

Ksar Ghilane oferece uma experiência além da superficial oferecida pela rota turística tradicional. Na periferia da cidade de Douz, a 450 km de Tunis, turistas pagam em torno de dez euros para dar uma voltinha de meia hora nas dunas e tirar uma foto sobre a corcova de cansados animais. Não que a região de Douz não mereça visita: com o título de “porta de entrada oficial” do Saara tunisiano, a cidade construída no limite entre o deserto e a civilização está na rota porque merece. Em fins de dezembro, a região sedia um festival anual que reúne tuaregues, beduínos e bérberes de todos os países saarianos. Mas a visão da salada de estrangeiros montados sobre dromedários em fila indiana todos os dias no entardecer acaba com aquele delicioso espírito explorador (pode chamar de ilusório, vale mesmo assim) que a exclusividade garante. Ksar Ghilane está para Douz assim como Fernando de Noronha está para o Guarujá.

Mas apesar de seu inquestionável poder de fascínio, o deserto não é o principal motivo que atrai turistas à Tunísia. Visitantes - europeus, na maioria - desembarcam diariamente no modesto aeroporto de Tunis com outros objetivos. Cultuar o sol em Sousse, Hamammet, e outros balneários espalhados ao longo da extensa costa mediterrânea parece ser o principal. Mas muitos também vêm para perder-se na colorida medina da capital, conhecer sítios históricos dos navegadores fenícios e ruínas romanas em Cartago e Dougga, namorar em idílicos vilarejos litorâneos e experimentar um contato com um universo islâmico light. A vocação turística do país também se faz evidente no sorriso franco de seu povo, nas compras baratas e na espantosa variedade de paisagens, encontrada em um território pouco maior que o estado de São Paulo. Talvez penetrar fundo no Saara seja a mais real e autêntica experiência das oferecidas pelo variado menu de atrações turísticas da Tunísia. Mas certamente não é a única.
 

  • Caio Vilela/UOL

    Em região próxima ao oásis de Ksar Ghilane, na Tunísia, o deserto cria curiosas paisagens

O BÁSICO
Informações turísticas: ONTT, o órgão nacional de turismo - www.cometotunisia.co.uk

Documentos: O país não exige visto para brasileiros nem vacina de febre amarela, apenas passaporte valido por, no mínimo, seis meses

Como chegar: Uma conexão na Europa é necessária. Os vôos mais curtos e econômicos são via Roma ou Paris.

Operadoras com pacotes para o destino: Poucas operadoras brasileiras vendem Tunísia e a maioria tem apenas um tipo de pacote: tours rodoviários que percorrem o país visitando os maiores pontos de interesse. Em uma semana se conhece boa parte deles. E em duas, praticamente o país inteiro, graças às distâncias curtas e a facilidade de locomoção.
Especializada em Tunisia, a agência HR Turismo (www.destinotunisia.com.br) vende o trivial e também viagens mais customizadas, entre elas o Pansea e em outros acampamentos de luxo no Saara. Outras opções são a New Age (www.newage.tur.br), a RCA Turismo (www.rcaturismo.com.br), a Tchayka (www.tchayka.com.br), a Climb (www.climb.tur.br) e a Queensberry (www.queensberry.com.br)

Onde ficar
A maior cadeia de hotéis do país está presente - e geralmente oferece a melhor opção de hospedagem - na maioria das cidades do interior.
Golden Yasmin Hotels
www.goldenyasmin.com

Acampamento no deserto de Ksar Ghilane
Pansea
www.pansea.com